Acelerar os áudios do Whatsapp não é tão benéfico quanto parece
Recentemente, um dos aplicativos mais usados no mundo disponibilizou uma nova ferramenta: agora, é possível acelerar os áudios do Whatsapp. As pessoas podem apressá-los em até duas vezes, ou seja, um áudio de 30 segundos pode ser ouvido pela metade do tempo. Mas será que isso vale a pena?
Com a mudança, o ritmo e o tom de voz são alterados, o que pode ser até engraçado para algumas pessoas no início. No entanto, a ansiedade do receptor pode trazer falhas na comunicação, pois por meio da aceleração, as palavras ditas no áudio são distorcidas.
O psicólogo analítico Kleber Marinho explica que não tentamos acelerar as atividades cotidianas para sobrar tempo para momentos de descanso ou autocuidado, mas sim para arcar com outras demandas. Esse comportamento reflete o quanto nós somos ansiosos. “A pressa constante não pode ser considerada uma boa forma de viver, e acelerar o áudio com frequência também não” diz o especialista.
De acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS), o Brasil é o país com a maior taxa de pessoas ansiosas. O levantamento aponta que 9,3% dos brasileiros têm algum transtorno de ansiedade.
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O sentimento de urgência e suas consequências
Nós estamos em um estado de ansiedade permanente. Seja na expectativa de uma mensagem, ou de likes na foto que acabamos de postar, ficamos sempre atentos às notificações do celular.
“Desse modo, vivemos alertas e reféns de sinais sonoros, fazendo várias tarefas ao mesmo tempo, entrando num ciclo cada vez mais veloz” explica Kleber.
Mas quando o sentimento de urgência não faz sentido, é sempre um malefício, refletindo em um comportamento de desequilíbrio. Queremos respostas imediatas, atendimentos instantâneos e, se possível, preferenciais. Dessa maneira, essa atitude replica o quanto a ansiedade afeta o indivíduo diariamente.
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Ao acelerar os áudios do whatsapp, as relações também são afetadas
Apesar de acelerar os áudios do whatsapp ser uma atitude inocente, as relações acabam afetadas negativamente. “Utilizamos essa ferramenta para resumir a mensagem, trazer soluções para as nossas próprias demandas, resolver nossos problemas, sem nem ouvir a voz do outro” complementa o psicólogo.
Assim, as relações tornam-se superficiais, tendo interesses próprios. E o outro vai sendo deixado de lado.
Se um amigo ou familiar enviar um áudio desabafando sobre problemas pessoais, por exemplo, é porque ele deseja ser escutado. Além disso, a aceleração acaba mudando a forma como o mensageiro se expressa.
Portanto, o uso que fazemos dessas ferramentas deve ser muito bem pensado. Afinal, estamos vivendo em uma pandemia há mais de um ano, e o contato é — quase — totalmente virtual. Não existem mais encontros como antes, e cada um está em uma virtualidade paralela, com sentimentos e emoções à flor da pele.
“Estamos diante da oportunidade de refletir sobre a falta que o social nos faz e como o outro se torna peça fundamental para cada um de nós” finaliza Kleber.
Fonte: Kleber Marinho, psicólogo analítico com mais de 20 anos de experiência.