Variante Gama é mais agressiva, mas pode ser contida com vacina e lockdown

Saúde
10 de Agosto, 2021
Variante Gama é mais agressiva, mas pode ser contida com vacina e lockdown

Ao correlacionar dados da cidade de São José do Rio Preto, em São Paulo, pesquisadores conseguiram demonstrar o impacto da variante Gama, a P.1, na alta de casos e mortes por Covid-19. A maior transmissibilidade dessa cepa foi associada ao aumento expressivo de casos graves (127%) e mortes (162%) em março e abril de 2021 no município do interior paulista.

O estudo, divulgado na plataforma medRxiv, ressalta a importância da vacinação para a proteção da população e a eficácia do lockdown de 15 dias, estipulado na cidade em março, para conter a disseminação do vírus.

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Variante Gama

“São conclusões esperadas, mas que precisam de uma comprovação clara por causa do ambiente em que vivemos. Nosso estudo confirma que as vacinas protegem da morte por Covid-19 e o lockdown funciona para reduzir a circulação do vírus. Fora isso, conseguimos demonstrar que a P.1 é, de fato, uma variante mais agressiva. Algo que ainda não estava tão claro entre a comunidade científica”, diz Maurício Lacerda Nogueira, professor da Faculdade de Medicina de São José do Rio Preto (Famerp).

O estudo foi realizado pelo Laboratório de Pesquisas em Virologia da Famerp no Hospital de Base (HB) de Rio Preto, em parceria com a Universidade Estadual Paulista (Unesp), Universidade de São Paulo (USP), Fundação Bill &Melinda Gates, Universidade de Washington, University of Texas Medical Branch e Secretaria Municipal de Saúde de São José do Rio Preto.

O grupo teve apoio da Fapesp, da Rede Corona-ômica (mantida pelo Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações por meio da Financiadora de Estudos e Projetos e do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico), do Instituto Butantan e do National Institutes of Health, dos Estados Unidos.

Para realizar o estudo, os pesquisadores analisaram 272 genomas completos do novo coronavírus a fim de detectar a prevalência das variantes. Das 12 linhagens identificadas, as mais prevalentes foram P.1 ( a Gama, 72,4%), P.2 (11%), B.1.1.28 (5,6%) e N.9 (4,6%).

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O baile das variantes

Variantes são formas mutantes do vírus. E, embora a grande maioria apresente um comportamento similar ao da cepa principal, algumas delas preocupam por serem potencialmente mais transmissíveis ou até mais letais. A variante Gama, por exemplo, surgiu no início de novembro de 2020, em Manaus. E rapidamente se espalhou para outros estados brasileiros, principalmente os da região Sudeste.

Em dezembro de 2020, a variante Alfa (B.1.1.7) foi detectada pela primeira vez no Reino Unido. Atribui-se a ela uma transmissão aumentada entre 30% e 50% e a gravidade dos casos é 30% superior.

Já na África do Sul, foi detectada pela primeira vez a variante Beta (B.1.351), que também é mais transmissível e mais resistente a tratamentos como terapia com anticorpos monoclonais, soros convalescentes e soros pós-vacinação.

Por fim, mais recentemente a variante Delta, detectada pela primeira vez na Índia, se espalhou pelo mundo, possivelmente impactando a recente alta de casos na Europa, Estados Unidos e China.

Variante Gama, um estudo de caso

Nogueira explica que, a partir do fim do ano passado, a cidade de São José do Rio Preto passou por dois grandes picos de casos e mortes. Um em dezembro de 2020 e outro em fevereiro de 2021, quando as ocorrências da doença explodiram.

“De acordo com a análise, em outubro do ano passado estavam circulando várias variantes do coronavírus. Em dezembro, no entanto, houve o predomínio da P.2 [detectada pela primeira vez no Rio de Janeiro], o que pode ter resultado na alta de casos, mas sem aumento na gravidade da doença. Foi no dia 26 de janeiro de 2021 que detectamos o primeiro caso de P.1 no município e, logo depois, essa cepa passou a ser dominante. É nesse período, a partir de março, que ocorre um aumento de mais de 100% no número de casos graves e mortes”, revela Nogueira.

O pesquisador explica que não é possível afirmar que a P.2 tenha sido responsável pelo aumento de casos no fim de 2020. Isso porque o período das festas também coincidiu com uma maior circulação de pessoas por todo o país e, por consequência, maior transmissão da doença.

Já no caso da variante Gama, de acordo com o pesquisador, essa correlação pode ser comprovada, o que põe fim a uma grande discussão na comunidade científica para saber se a variante era realmente mais agressiva e responsável por um maior número de mortes.

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Por que São José do Rio Preto não sofreu com a falta de leitos?

Contudo, a situação de São José do Rio Preto em março era diferente da de Manaus (que sofreu com um colapso do sistema de saúde) em janeiro de 2021. O município paulista de 400 mil habitantes tem uma estrutura mais robusta e adotou lockdown no pico da transmissão da variante Gama.

“Em Rio Preto não houve colapso do sistema de saúde, nem faltou oxigênio. Foi muito duro o que aconteceu, chegamos a ter 300 pessoas em UTIs [unidades de terapia intensiva], mas sem atingir a lotação máxima. Tivemos um ou dois dias com 100% de ocupação de leitos. Mesmo com esse cenário melhor, a mortalidade foi muito maior que a dos picos anteriores. Isso se deu porque a P.1 é uma variante mais agressiva”, avalia.

Vacinas salvam vidas

Outro fator importante foi que o período de alta de contágios da P.1 na cidade paulista coincidiu com a vacinação dos idosos. “Quando houve a disseminação da P.1 no município, praticamente 100% dos maiores de 70 anos estavam vacinados, a maioria com CoronaVac. Segundo o estudo, as vacinas correspondem entre 60% e 70% de proteção contra a morte de casos graves nessa população vacinada, o que é uma ótima notícia”, diz.

De acordo com Nogueira, os estudos continuam. A equipe vai investigar tanto o que aconteceu no ano passado (antes do surgimento das novas variantes), quanto monitorar os próximos meses da pandemia. “Continuamos fazendo essas análises e correlações semanalmente. Ainda não detectamos a variante Delta no município, mas acredito que isso é questão de tempo. O estudo vai nos permitir acompanhar o impacto da provável competição entre a Delta e a Gama”, prevê.

Ele ressalta que, embora tenha tido ocorrência de variante Gama na Inglaterra e nos Estados Unidos, a Europa não foi atingida por ela. “ Lá a Gama não competiu de de forma direta com a Delta. Mas isso pode estar acontecendo aqui no Brasil, como mostram estudos no Rio de Janeiro, onde a prevalência da Delta está avançando”, diz.

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(Fonte: Agência Fapesp)

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