Vírus da bronquiolite é a causa principal de internação de crianças
O vírus sincicial respiratório (VSR) é um dos principais causadores da bronquiolite. Atualmente, a doença é a maior causa de internação de crianças com até 4 anos no Brasil, aponta boletim recente do InfoGripe da Fiocruz.
A análise dos dados é referente à semana epidemiológica de 2 a 8 de abril e leva em conta a notificação de casos no sistema Sivep-Gripe, incluindo hospitais públicos e privados de todo o país.
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Vírus da bronquiolite corresponde a quase metade das internações infantis
De acordo com o boletim, o VSR esteve presente em 47,2% dos casos de infecções respiratórias que resultaram em internação registradas no público pediátrico nesse período. Além disso, o boletim mostrou ainda que a prevalência entre os resultados positivos para vírus respiratórios foi de 5,7% para influenza A; 5,5% para influenza B; e 33,9% para Sars-CoV-2 (Covid-19) – aqui incluindo também adultos.
O que é a bronquiolite?
A bronquiolite é uma inflamação aguda dos bronquíolos terminais. Ou seja, das ramificações mais finas que conduzem o ar para dentro dos pulmões. A doença é causada na maioria das vezes por vírus – sendo o VSR o principal agente causador.
Ele é um vírus bastante comum, que sempre circulou no Brasil, mas é potencialmente mais preocupante em bebês e crianças com até 2 anos. Afinal, a infecção atinge o trato respiratório inferior e pode evoluir para um desconforto respiratório pela baixa saturação de oxigênio, necessitando de internação. Quanto mais nova a criança, maior chance de internação.
Embora seja muito frequente, a gravidade é considerada baixa: de cada 100 casos de bronquiolite, estima-se que 10 crianças precisarão de internação.
E, desses 100 casos, apenas 1 vai precisar de suporte da UTI. “É uma doença muito frequente, que exige cuidados, mas não é potencialmente grave. A grande parte das crianças será tratada em casa e vai ficar tudo bem. Na maioria das vezes, as mães nem sabem que a criança está com bronquiolite”, diz Gabriela Bonente, intensivista pediátrica no Hospital Israelita Albert Einstein.
Sintomas
Geralmente a criança começa com sintomas muito parecidos com resfriado, com nariz escorrendo, tosse discreta, obstrução nasal. Já os bebês, por terem o narizinho muito pequeno, costumam ter dificuldade para mamar.
Entre o terceiro e quinto dia de sintomas, a infecção pode atingir o pulmão causando a inflamação dos bronquíolos e aumento da produção de secreção: “a criança pode evoluir para uma tosse com mais catarro e intensa, podendo evoluir para um cansaço e dificuldade na respiração. A criança fica mais ofegante, com a frequência respiratória mais alta”, explicou a pediatra.
Por volta do quinto ao sétimo dia, os sintomas tendem a ficar um pouco mais leves e a tosse vai desaparecendo devagar. Contudo, nem sempre a criança terá febre no período. “O que mais nos preocupa nos sintomas é quando ela fica sem fôlego, não consegue mamar e tem dificuldade de respirar. Esse é um dos motivos em que indicamos a internação. Outra razão para internar é quando a criança precisa de uma oferta extra de oxigênio, quando a saturação fica abaixo de 94%”, orienta Bonente.
Os sintomas da bronquiolite são um pouco diferentes dos da gripe causada pelo vírus Influenza A ou B. “No caso da gripe, a criança fica mais prostrada, com febre mais intensa, com sintomas respiratórios altos. Mas os quadros podem ser muito semelhantes e o que vai diferenciar mesmo é a coleta do exame específica.”
Vírus da bronquiolite circula durante o ano todo
Segundo Bonente, o vírus sincicial respiratório circula o ano todo, mas é mais presente nos meses de outono e inverno – justamente a estação do ano em que estamos agora. Por isso, os hospitais estão registrando aumento de casos.
“A circulação mais intensa do VSR normalmente começa em fevereiro e segue até julho, agosto. Em alguns anos, essa circulação do vírus foge um pouco desse período padrão, a pandemia acabou mudando um pouco essa dinâmica, mas a maior incidência ocorre nos meses de outono e inverno”, diz a pediatra.
A transmissão ocorre tanto pela via respiratória, quanto pelo contato – passa de uma pessoa para outra. “Nós adultos também podemos carregar o vírus mesmo sem apresentar sintomas. Observamos a infecção em crianças pequenas que vão para a escola ou para a creche e naquelas que ainda não frequentam escola, mas têm um irmão mais velho em idade escolar que leva o vírus para casa”, afirma.
É muito difícil prevenir o contato com o VSR porque às vezes os sintomas aparecem depois de a criança já estar transmitindo o vírus. Todavia, os pequenos que fazem parte de alguns grupos de risco (por exemplo, doenças pulmonares graves, prematuridade extrema e cardiopatias graves), podem receber um tipo de “vacina” nos meses de maior circulação do vírus.
Como funciona a proteção em crianças dos grupos de risco
Gabriela explica que não se trata de uma vacina convencional, mas sim de um medicamento chamado palivizumabe que é fornecido pelo SUS e pelos planos de saúde para crianças desses grupos de risco para bronquiolite. Assim, evita-se que elas desenvolvam quadros mais graves e precisem de internação.
“São cinco doses de anticorpos que a criança deve tomar uma vez por mês para tentar combater o vírus com mais eficiência, caso ela tenha contato. Não é uma vacina propriamente dita, mas é uma dose a mais de anticorpos para ajudar a combater o agente e evitar possíveis complicações”, esclarece Bonente.
Quando a criança já está doente, os médicos recomendam que os pais façam a lavagem nasal adequada por causa da obstrução das vias aéreas. “O bebezinho depende muito da respiração nasal. Logo, a lavagem correta é muito importante. Além disso, é fundamental realizar a inalação, porque as partículas do soro fisiológico chegam ao pulmão, o que alivia o quadro”, recomenda.
Outra medida que ajuda na recuperação mais rápida da bronquiloite é manter a criança bem hidratada e alimentada. “Esse é um quadro que costuma dar mais trabalho porque não tem muito o que ser feito. Não existem xaropes para bronquiolite nem antivirais. Tudo o que fazemos são medidas de suporte para esperar o nosso organismo combater o vírus”, conclui a médica.