Treino de resistência melhora o sono e os sinais da sarcopenia em idosos
A sarcopenia é uma doença que leva à perda de massa muscular corporal em idosos. De acordo com um estudo da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) e da Universidade Federal de Viçosa (UFV), o treino de resistência pode melhorar os sintomas da doença, além de melhorar o sono.
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Quais são as causas da sarcopenia?
A sarcopenia está associada à dois fatores. Primeiramente, a diminuição da força, isto é, a tensão que o músculo gera para realizar um determinado movimento, como um aperto de mão, por exemplo. Também tem relação com a performance física, que é a capacidade de produzir movimentos com eficácia, como fazer uma caminhada.
O quadro envolve um processo inflamatório crônico e está associado a alterações cognitivas e doenças cardíacas e respiratórias. Desse modo, prejudica muito a qualidade de vida dos pacientes, diminui sua independência e aumenta o risco de lesões, quedas e até mesmo de morte.
O problema é mais comum nos idosos, afetando 15% da população acima de 60 anos. O índice passa para 46% se considerados apenas os indivíduos com mais de 80 anos. Outra característica comum em pessoas nessa faixa etária é o aumento dos distúrbios de sono.
Todas essas condições favorecem que o idoso desenvolva um quadro semelhante ao de restrição crônica de sono, contribuindo para o aumento da inflamação.
Detalhes sobre a pesquisa
Os cientistas já tinham observado em experimentos anteriores a relação entre a privação de sono e a perda muscular em ratos.
“Vimos nos modelos animais que o débito de sono gera atrofia muscular e prejudica a restauração dos músculos. É o mesmo mesmo tipo das fibras musculares que são mais prejudicadas durante o desenvolvimento da sarcopenia: as do tipo 2, responsáveis pela contração rápida”, conta Helton de Sá Souza, professor adjunto do Departamento de Educação Física da UFV.
“Paralelamente, nosso grupo também já tinha observado que o sono de pessoas idosas com sarcopenia é pior que o de idosos sem esse diagnóstico”, acrescenta.
O papel do treino de resistência
Com base nesse conhecimento, o grupo buscou descobrir se os achados vistos em roedores poderiam ser semelhantes em humanos e como o treino de resistência poderia ajudar a combater o quadro. Vale destacar os seus benefícios sabidamente populares: sincronizar os ritmos biológicos, aumentar o tempo total de sono, reduzir a fragmentação do descanso e aumentar a massa e a força muscular. Além disso, auxilia a atividade do sistema imunológico, reduzindo inflamações.
Na pesquisa, um grupo de 14 idosos diagnosticados com a doença realizou treino de força três vezes por semana durante três meses. Dessa forma, os voluntários fizeram três séries com oito exercícios para os grandes grupos musculares (peitoral, dorsal, ombro, braço – bíceps e tríceps –, parte da frente e de trás da coxa). Eles começaram com intensidade um pouco mais leve. Depois, nas últimas oito semanas, ela foi houve um aumento de 80% da sua força máxima.
Outros 14 indivíduos com a mesma faixa etária e que sofriam com as condições apenas participaram de encontros semanais com diferentes profissionais da saúde. O objetivo era aumentar o seu conhecimento sobre mudanças no estilo de vida e o papel delas na melhora da enfermidade.
Assim, os 28 participantes foram assistidos em todo o período do estudo por profissionais de educação física, fisioterapeutas, nutricionistas e médicos. Além disso, eles também fizeram vários testes. Por exemplo: exames de sangue, de composição corporal, de funções físicas e do sono. Esses dados foram obtidos antes do início das intervenções e depois do seu fim, para que fossem comparados.
Afinal, o treino de resistência é eficaz? Resultados
De acordo com Souza, para confirmar o diagnóstico de sarcopenia, é preciso que o idoso apresente redução de força ou de desempenho muscular associada à perda de massa magra.
“A ideia é que, no geral, os idosos terão redução de massa muscular – isso é inerente ao envelhecimento. O problema, de fato, é se esse quadro estiver acompanhado de redução da função [força] ou do desempenho [agilidade, equilíbrio etc.] muscular. Portanto, se conseguirmos melhorar um desses parâmetros [função ou desempenho], o quadro de sarcopenia é amenizado.”
Nos participantes do estudo submetidos ao treino de força, os pesquisadores observaram uma melhora da força muscular em todos os meios de medição. Eles fizeram testes de preensão manual (os voluntários apertam um aparelho chamado dinamômetro), bem como um teste que avalia o torque das pernas. Já as análises metabólicas, hormonais e relacionadas aos marcadores inflamatórios foram feitas com amostras de sangue.
“Também observamos a melhora da qualidade objetiva e subjetiva do sono com a ajuda de um exame de polissonografia e a redução da inflamação”, conta Vânia D’Almeida, professora titular do Departamento de Psicobiologia da Unifesp e orientadora da pesquisa.
“Os dados mostram que o treinamento físico aumentou a força muscular, tirando-os da condição de sarcopênicos. Dessa forma, nós acreditamos que isso aconteceu por intermédio do aumento da quantidade de duas citocinas anti-inflamatórias relacionadas à melhora do metabolismo muscular. Assim, o aumento na quantidade dessas substâncias anti-inflamatórias pode estar relacionado à melhora do sono”, avalia a pesquisadora.
Por fim, os autores ressaltam que são necessários mais estudos para que se possa entender se isso também ocorre em diferentes faixas etárias e gêneros, bem como em indivíduos com e sem sarcopenia.