Treino aeróbico noturno traz benefícios para os hipertensos
Um estudo publicado na revista Blood Pressure Monitoring mostrou que o treino aeróbico noturno pode ser uma ótima opção para os hipertensos. Isso porque os benefícios dos exercícios físicos para pacientes que convivem com a chamada pressão alta podem ser potencializados se estes forem praticados entre 18h e 21h.
A análise teve como foco a taxa de recuperação cardíaca (TRC), que a grosso modo pode ser explicada como a medida de redução da frequência cardíaca após a interrupção do exercício. O treino noturno melhorou tanto a fase rápida (medida 60 segundos após o ápice do esforço físico) quanto a fase lenta (medida 300 segundos depois) da TRC.
De acordo com Leandro Campos de Brito, autor do estudo, aproximadamente 25% das pessoas não são responsivas aos exercícios do ponto de vista do controle da pressão e, para elas, são necessárias estratégias diferentes das convencionais. Por exemplo, a realização de exercícios em momentos que possam maximizar seus benefícios.
“Há dois ramos no sistema autonômico cardíaco: o simpático e o parassimpático. A grosso modo, o parassimpático faz o coração desacelerar e o simpático faz o órgão acelerar e bater mais forte. Espera-se que, após um período de treinamento com exercícios físicos, o poder do parassimpático aumente e o do simpático diminua. A TRC nos permite inferir em como esse comportamento ocorre por meio da mensuração realizada nos primeiros 60 segundos e 300 segundos após o fim de um teste máximo de esforço cardiopulmonar, sendo que essa última resposta sugere tanto a atuação do nervo parassimpático, recuperando o compasso do coração, quanto a desaceleração do simpático, cuja atividade foi acumulada durante o exercício”, explica Brito.
O estudo sobre treino aeróbico noturno e hipertensos
Segundo o grupo de cientistas, o fato de ambas as fases (rápida e lenta) da TRC terem aumentado com o treino noturno indica que praticar exercícios a essa hora do dia melhora ambos os ramos do sistema autonômico cardíaco. Além disso, os resultados mostram que o efeito benéfico não é limitado ao momento em que os voluntários se exercitaram.
O experimento envolveu 49 homens hipertensos de meia-idade, medicados por no mínimo quatro meses com o mesmo tipo de fármaco e a mesma posologia. Dessa maneira, eles foram alocados aleatoriamente em três grupos: o de treinamento matinal (das 7h às 9h), o de treinamento noturno (das 18h às 21h) e o grupo-controle (sem treino aeróbico).
Assim, o treino foi realizado três vezes por semana durante dez semanas. Os grupos que realizaram o treino pedalaram na bicicleta ergométrica (30 minutos nas duas primeiras semanas e 45 minutos nas demais, com intensidade moderada) e o grupo-controle fez alongamento (30 minutos). Nas avaliações iniciais e finais do estudo, a taxa de recuperação cardíaca dos voluntários foi mensurada 60 e 300 segundos após o fim do exercício.
“Para o grupo-controle, optamos por uma atividade que não traria impacto adicional de benefício na variável estudada. Por isso esse tipo específico de alongamento. Pois o objetivo era fazer com que o grupo-controle fosse à EEFE-USP o mesmo número de vezes que o grupo que treinou, tivesse a pressão aferida o mesmo número de vezes, encontrasse os pesquisadores nos mesmos dias, se sentisse cuidado na mesma magnitude”, explica Brito.
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Possíveis razões
Os pesquisadores estão tentando entender o motivo pelo qual os hipertensos tem mais benefícios cardíacos treinando pela noite. No primeiro trabalho, descobriram que a sensibilidade barorreflexa foi aumentada com o treino.
“Esse mecanismo avalia, a cada vez que seu coração bate, se a pressão subiu ou desceu demais e corrige. O treino da noite e o da manhã melhoraram a sensibilidade desse mecanismo, mas o da noite melhorou mais. Entretanto, é uma medida espontânea, feita com a pessoa em repouso”, diz Brito.
Sendo assim, ele explica que as funções cardiovasculares de um indivíduo variam durante as 24 horas do dia. “O esperado é que pela manhã, ao acordarmos, nosso valor de pressão arterial aumente, atingindo um primeiro pico em torno das 10h. Então, esse valor estabiliza e reduz no meio da tarde, perto das 15h. Um segundo pico acontece entre 18h e 20h. Depois disso, há uma redução progressiva. Estamos propondo que esse exercício no período da noite estaria encontrando uma janela de oportunidade para uma melhora mais expressiva.”
Segundo Brito, à noite o indivíduo apresenta maior sensibilidade barorreflexa e menor atividade simpática. “Além disso, por conta do ciclo de 24 horas, à noite ele começa a ter uma redução de batimentos cardíacos e também apresenta menor resistência nos vasos sanguíneos. É um momento em que o estresse sobre o sistema cardiovascular está menor e parece que isso permite que o exercício tenha mais benefícios. Trata-se de uma hipótese para explicar esse resultado que encontramos.”
Estilo de vida
O profissional de educação física ressalta, no entanto, que também foram registrados benefícios no grupo que treinou pela manhã, só que em menor intensidade. “É importante dizer que, quando o assunto é fazer exercício, qualquer hora é melhor do que hora nenhuma. Ou seja: é necessário se exercitar. O que tentamos no trabalho foi maximizar as respostas.”
De acordo com Brito, hipertensos resistentes, que tomam quatro ou mais fármacos anti-hipertensivos por dia, necessitam de estratégias melhores de abordagem do problema do que as convencionais. “Para eles, creio que nossos resultados são bastante interessantes.”
Brito lembra que o mínimo recomendado para um adulto são 150 minutos de atividade física moderada por semana. “Se você fizer somente esses 150 minutos, já terá 7% menos chance de se tornar um hipertenso na maturidade. E quando falo de atividade física, estou englobando todos os tipos de atividade física, incluindo limpar a casa. Caso você já seja hipertenso, se fizer esse mínimo recomendado, terá até 50% menos chance de ter complicações advindas da hipertensão.”
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O pesquisador reafirma que a atividade física, em geral, confere um fator protetor intenso ao controle da pressão arterial. “Se o hipertenso fizer um exercício estruturado aeróbico, são esperados resultados semelhantes, por exemplo, àqueles referentes ao uso de um medicamento hipertensivo”, reforça Brito.
Fonte: Agência FAPESP