Transtornos psicológicos na gravidez: entenda os principais

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10 de Outubro, 2022
Transtornos psicológicos na gravidez: entenda os principais

O período de gestação, sem dúvidas, traz diversas mudanças para a futura mamãe. As transformações físicas são as mais evidentes. Mas pouco se fala sobre o quanto a gravidez pode afetar a mente das mulheres. Um estudo publicado no British Journal of Psychiatry mostrou que uma em cada quatro gestantes pode desenvolver transtornos psicológicos na gravidez. Ainda de acordo com a pesquisa, os quadros mais comuns incluem depressão, ansiedade, distúrbios alimentares e transtorno obsessivo-compulsivo (TOC). 

As principais causas dos transtornos psicológicos na gravidez

De acordo com o psiquiatra Marcelo Italiano Peixoto, especialista em Emergências Clínicas pela UFCG, as razões que ocasionam os transtornos psicológicos na gravidez são diversas. Assim, o primeiro motivo citado pelo médico é o estresse mental que a gestante pode viver devido a sentimentos desafiadores experimentados nesse período, como inseguranças e ansiedade. Dessa forma, ele pode acabar desencadeando doenças psiquiátricas. 

“Outro fator é a flutuação hormonal que ocorre na gestação. Em outras palavras, ocorrem alterações nos níveis de estrogênio e progesterona ao longo da gravidez, os quais interagem com diversos neurotransmissores associados a aspectos como: humor, disposição e sono”, completa o especialista. Ele ainda diz que estudos estão sendo feitos para entender a relação entre o hormônio da prolactina, essencial à amamentação, e os transtornos psicológicos ao longo dos nove meses.

Além das razões fisiológicas citadas anteriormente, o psicólogo Filipe Colombini, especialista em orientação parental, explica que os fatores ambientais também influenciam no aparecimento das doenças psiquiátricas durante a gravidez. Ou seja, a condição sócio-econômica da figura materna bem como seu papel social tendem a influenciar no surgimento dos transtornos psicológicos nesse período. 

“A pressão social do que se deve fazer e/ou vir a ser uma gravidez tende a ser mais um gatilho para a mulher que também convive com uma série de pressões relacionadas a seu papel na sociedade. Pois há uma “máxima do senso comum” que coloca a figura feminina em uma posição de “leoa”, a pessoa que tem múltiplas habilidades e que consegue fazer tudo ao mesmo tempo…”, contextualiza o psicólogo. Dessa forma, cria-se uma sobrecarga em relação à gestante que pode desencadear as doenças psiquiátricas. 

Sintomas 

Apesar de serem transtornos psicológicos, existem diferenças entre eles. Por isso, é importante estar atento aos sintomas. Confira quais são os principais:

Depressão

  • Pensamentos negativos;
  • Sentimentos de culpa;
  • Sensação de inutilidade;
  • Baixa auto-estima;
  • Cansaço excessivo;
  • Dores de cabeça;
  • Irritabilidade;
  • Tristeza;
  • Diminuição do prazer e do ânimo para atividades cotidianas.

Ansiedade

  • Distúrbios do sono;
  • Palpitação;
  • Tensão;
  • Irritabilidade;
  • Autocobrança;
  • Pensamento constante no passado;
  • Grande preocupação com o futuro;
  • Dor de cabeça;
  • Hiperventilação (respiração rápida);
  • Suor em excesso;
  • Dificuldade para se concentrar.

Psicose 

  • Alucinações (ouvir vozes, ver coisas que não estão no ambiente, etc);
  • Delírios (quando a pessoa tem crenças que não são compartilhadas por outros, como por exemplo, acreditar que há uma conspiração para prejudicá-la);
  • Dificuldade para se concentrar;
  • Falta de autocuidado ou higiene;
  • Isolar-se de outras pessoas.

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Os desafios que acompanham os transtornos psicológicos na gravidez

Dr. Marcelo enfatiza que é importante, diante de possíveis sintomas associados a transtornos psicológicos, a gestante procurar por atendimento especializado – uma vez que as doenças psiquiátricas podem ter desfechos ainda mais complicados nesse período. O transtorno depressivo, por exemplo, pode dificultar a ligação mãe-bebê devido a falta de disposição e dificuldade em criar laços afetivos.

“Além disso, nos transtornos de ansiedade, a mãe pode exibir em alguns casos irritabilidade, sendo muito afetada pelas demandas do bebê e dificultando a criação de laço afetivo saudável”, completa o psiquiatra. 

Já os casos de psicose são ainda mais delicados. De acordo com o especialista, a paciente costuma apresentar sintomas como delírios, ou seja, ela perde o juízo da realidade. Caso isso aconteça após o nascimento do bebê, essa alucinação pode envolver o próprio recém-nascido e “levar até o infanticídio se a situação não for bem manejada”, explica Dr. Marcelo. 

Quais são os tratamentos para transtornos psicológicos na gravidez?

É fundamental que a gestante tenha  acompanhamento diante de sintomas associados aos transtornos psicológicos. Esse atendimento especializado costuma ser psiquiátrico, bem como psicológico. O primeiro especialista pode, por exemplo, indicar a melhor medicação para o quadro da figura materna conforme a segurança do remédio para gestantes. 

“Algumas medicações levam a perigos como baixo peso ao nascer, má-formações e até abortos. Portanto, uma gestante com transtorno mental deve fazer um bom acompanhamento para avaliar as medicações mais seguras para a sua condição”, enfatiza o psiquiatra.

Já a terapia entra para auxiliar na psicoeducação da gestante, como explica Filipe. “As sessões tendem a ajudá-la a entender que ela é única, assim como sua gravidez, entendendo os aspectos biológicos e psicológicos envolvidos em uma gestação”, detalha o psicólogo.

Antidepressivos na gravidez atrapalham o desenvolvimento do bebê?

As futuras mamães que precisam de tratamento psicológico podem ter receio sobre os medicamentos recomendados pelo médico. Mas de acordo com um estudo recente publicado no JAMA Internal Medicine, a notícia é positiva: antidepressivos na gravidez não tendem a causar problemas no desenvolvimento do bebê.

Segundo o levantamento, cientistas descobriram que os remédios não estão associados a autismo, transtorno de déficit de atenção e hiperatividade (TDAH), distúrbios comportamentais, desenvolvimento da fala, linguagem, distúrbios de aprendizagem e coordenação e/ou deficiências intelectuais.

Importância da rede de apoio

O especialista enfatiza que o acompanhamento psicológico também é importante para conscientizar a rede de apoio da mulher grávida.

Em suma, isso significa que as pessoas ao redor da gestante precisam estar atentas às necessidades dessa mulher. Dessa forma, o intuito é entender possíveis mudanças enfrentadas por essa figura feminina durante a gravidez e, mais do que isso, auxiliá-la a encontrar ajuda caso seja necessário. 

“Procurar um profissional não se dá apenas quando um sintoma exacerba. Em outras palavras, ele pode ocorrer de maneira profilática, auxiliando a mulher a se proteger antes que os problemas tornem-se crônicos”, finaliza o psicólogo.

Fontes: Dr. Marcelo Italiano Peixoto, psiquiatra da Clínica Ame.C, especialista em Emergências Clínicas pela Universidade Federal de Campina Grande (UFCG); e Filipe Colombini, psicólogo, especialista em orientação parental e atendimento de crianças, jovens e adultos.

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