Síndrome do bem-estar: quando o cuidado vira obsessão
Você se esforça para manter uma alimentação saudável, mantém uma frequência de atividades físicas e administra o sono regularmente. Tudo isso em uma jornada constante, dedicada e custosa. Porém, se furar a dieta um dia, ou faltar ao treino, se sente frustrado e ignora todo o trabalho anteriormente. Talvez esse cenário possa indicar a síndrome do bem-estar.
Neste século, e especialmente durante a última década, a saúde tem sido uma tendência e um dos principais temas em discussão. E assim como qualquer tendência, perseguir o bem-estar pode levar a extremos. Na tentativa de manter o corpo saudável, podemos negligenciar a saúde mental e colocá-la em um terreno de comparação, perfeccionismo e sucesso que são inalcançáveis.
Mas afinal, como saber se a preocupação com a saúde é exagerada? Continue lendo e entenda.
Veja também: Positividade tóxica: O que é e como pode nos afetar
Síndrome do bem-estar
O termo pode ser uma novidade, mas aponta para um comportamento muito conhecido quando algum tema ganha grandes proporções, que é a obsessão. Nesse caso em específico, a síndrome do bem-estar significa uma maximização do esforço para se manter saudável com dietas perfeitas e hábitos atléticos. Porém, esse impulso pode se virar contra nós, gerando sentimentos de culpa, isolamento e frustração ao não atingir padrões dos quais fomos influenciados, fatores que podem pausar a busca por uma vida saudável.
Dessa forma, não é incomum ter a experiência de passar por feeds de perfis do Instagram e canais do Youtube e encontrar vidas altamente estruturadas em saúde e que beiram o perfeccionismo. Mas, na maioria das vezes, aquilo não reflete a realidade, já que todos passam por problemas, dificuldades, falta de motivação e alguns tropeços ao longo de uma jornada saudável.
Assim, vale ressaltar que não há nada de errado com querer estar bem e saudável, desde que isso não vire uma obsessão. Inclusive, seguir uma vida saudável é uma atitude que resulta em muitos benefícios, como mais disposição, longevidade, ausência de doenças e até mesmo boa aparência. No entanto, o objetivo de ser saudável não pode ser alcançado a qualquer custo, principalmente se for necessário sacrificar a saúde mental.
Vida saudável envolve equilíbrio
Para a Organização Mundial da Saúde (OMS), a saúde nada mais é que um estado de completo bem-estar físico, mental e social, e não apenas como a ausência de doença ou enfermidade. Portanto, não é só o bem-estar físico que é importante. Existe um conjunto a ser avaliado, sendo que a saúde mental é essencial para coordenar os demais esforços.
Portanto, encontrar o equilíbrio entre corpo e mente é o principal desafio a ser alcançado por qualquer pessoa que deseja ter uma vida mais saudável e que priorize questões como bem-estar, sono, alimentação, movimento e autoestima.
De acordo com a psicóloga cognitivo comportamental, Rejane Sbrissa, ser feliz e saudável não inviabiliza situações difíceis e sentimentos de tristeza. Ou seja, ninguém consegue ter sempre mesma disposição, bom humor e constância. Por isso, a cobrança de estar bem o tempo todo se torna impraticável.
“A imposição de padrões pode ser prejudicial à saúde mental porque a gente começa a acreditar que só é feliz se tiver certos hábitos, alimentos, exercícios e roupa de uma marca específica.”
A síndrome do bem-estar pode ser mais perigosa se fizer parte da rotina e, de acordo com a psicóloga, pode gerar quadros de ansiedade, depressão, ansiedade generalizada e estresse crônico. Além disso, a ortorexia, distúrbio alimentar que envolve uma obsessão doentia por uma alimentação saudável, também pode fazer parte do quadro de obsessão pelo bem-estar.
Veja também: Ortorexia: Quando alimentação saudável vira transtorno alimentar
Afinal, como reagir a síndrome do bem-estar?
De acordo com a psicóloga, o conselho para fugir dos padrões e absorver o conhecimento é individualizar a sua jornada. Ou seja, conhecer as boas práticas, o que é saudável, o que não é, e depois adaptar hábitos que façam mais sentido e que estejam de acordo com o seu perfil e realidade. Dessa forma, o autoconhecimento é essencial para categorizar quais hábitos saudáveis realmente funcionam individualmente.
Assim, a Rejane afirma que, ao perceber comportamentos da síndrome do bem-estar, vale fazer uma autoanálise e identificar de onde o padrão de comportamento está surgindo. Em seguida, é recomendável se afastar do agente causador, inclusive isso pode incluir um detox nas redes sociais.
“Ninguém posta as coisas ruins. É preciso reconhecer que tudo tem dois lados, nada é completamente bom ou completamente ruim”, complementa a psicóloga.
Por fim, para não deixar que a síndrome do bem-estar cause problemas, é necessário conciliar a rotina saudável à tolerância e flexibilidade. Nesse sentido, ter metas claras pode ajudar, mas é preciso ter tranquilidade para lidar com as adversidades e se permitir novas chances de recomeçar, se for preciso.
Fonte: Rejane Sbrissa, psicóloga cognitivo comportamental.