Sensibilidade à dor pode piorar com noites maldormidas
Uma noite de sono ruim não causa apenas cansaço e sonolência no dia seguinte. De acordo com estudos, a má qualidade do descanso prolongada pode piorar a sensibilidade à dor. Por exemplo, pessoas que têm insônia e que convivem com enxaqueca e dores de cabeça frequentes pode sofrer ainda mais com o desconforto.
Além disso, mais da metade dos pacientes com dor crônica — aquela que persiste por mais de 3 meses — relatam dificuldade para adormecer, manter o sono e insatisfação com a qualidade de sono. “Por outro lado, pessoas com dor persistente não conseguem dormir bem. Dessa forma, é importante tratar as queixas de dor e da má qualidade de sono ao mesmo tempo”, explica Priscila Morelhão, pesquisadora do Instituto do Sono e fisioterapeuta.
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Três noites maldormidas são suficientes para impactar a sensibilidade à dor
Um estudo da Universidade de Aalborg, na Dinamarca, publicado no European Journal of Pain, investigou o impacto de três noites consecutivas de sono interrompido no mecanismo central de dor de 30 pessoas saudáveis.
Para isso, eles aplicaram uma série de questionários sobre sono, atividade física e dor. Também usaram um dispositivo mecânico, conhecido como algômetro, para aplicar uma pressão sobre a pele e quantificar o grau da dor. Feito isso, os participantes foram acordados à meia-noite, 2h30 e 5 horas nessas três noites.
Por fim, todos voltaram a responder os questionários e passaram pelo algômetro novamente. Os resultados mostraram que a interrupção do sono nesse período induziu a hipersensibilidade à dor em indivíduos saudáveis.
Dor crônica
A dor crônica pode causar imobilidade, incapacidade para o trabalho, dependência de medicamentos, de profissionais de saúde e de cuidadores, além de transtornos psiquiátricos como depressão e ansiedade.
Um estudo recente revelou que este tipo de dor acomete 76% da população brasileira. A mais prevalente é na região lombar, seguida por dores nos joelhos, nas mãos e nos ombros. A relação entre a qualidade de sono e a dor lombar crônica foi tema de um estudo coordenado por Priscila Morelhão e publicado na revista Archives of Physical Medicine and Rehabilitation.
O objetivo foi avaliar se a má qualidade de sono seria capaz de predizer com precisão a intensidade de dor lombar mais intensa a longo prazo. Durante 6 meses, os pesquisadores acompanharam 215 idosos com dores lombares crônicas. A princípio, eles responderam a questionários sobre os níveis de dor e qualidade de sono.
No final do experimento, houve novas entrevistas e, como resultado, todos disseram que a dor piorou. “Nossos dados mostraram que a qualidade de sono na avaliação inicial prediz o aumento a intensidade da dor após 6 meses”, declara.
Por que o sono ruim nos deixa mais suscetíveis à dor?
Existem várias explicações para o fato de que a privação de sono aumenta a sensibilidade à dor. Em pessoas com fibromialgia e outras dores crônicas, o estágio do sono de ondas lentas é interrompido pelo surgimento por uma onda de frequência alta, conhecida como atividade alfa. De acordo com Priscila Morelhão, essa característica “impede que a pessoa tenha um sono profundo e reparador e não recupere a musculatura”.
Distúrbios de sono, como a insônia e apneia obstrutiva do sono, geram uma alteração no padrão de sono. Isso contribui para a inflamação dos tecidos, o que reduz a função física dessas pessoas e aumenta a sensação de dor.
Tratamento precisa ser integral
Os especialistas acreditam que, assim como as terapias voltadas à dor crônica, o paciente deve se submeter a um tratamento para melhorar seu padrão de sono. Afinal, o aumento da sensibilidade à dor é um dos efeitos das noites mal dormidas.
Outros são o desequilíbrio hormonal, enfraquecimento do sistema imunológico, prejuízo das funções cardiovasculares e cognitivas, além de alterações de humor.
Quando necessário, é preciso buscar ajuda médica para melhorar o sono. A pesquisadora do Instituto do Sono também dá algumas dicas para quem quer dormir melhor:
- Rotina é essencial — defina horários para dormir e acordar, fazer suas refeições, trabalhar e se dedicar ao lazer.
- Evite estimulantes — não tome bebidas com cafeína (por exemplo, chá preto, branco, verde e café) e bebidas alcoólicas após as 15 horas.
- Longe das telas — não acessar celulares, tablets e televisão 1 hora antes de dormir. A luz emitida por esses aparelhos eletrônicos sinaliza ao cérebro que ainda é dia.
- Não leve problemas para a cama — se tiver uma série de atividades para o dia seguinte, escreva uma lista de todas elas. Assim, as preocupações ficam do lado de fora do quarto.
- Exercício físico tem hora — as atividades físicas devem ser feitas até 2 horas antes de ir para a cama, a fim de não atrapalhar o sono.
- Prefira refeições leves — no jantar, evite comidas pesadas para facilitar a digestão e o sono.
Fonte: Priscila Morelhão, pesquisadora do Instituto do Sono, mestre e doutora pela Universidade Estadual Paulista (Unesp) e pós-doutorado em Biologia e Medicina do Sono na Universidade Federal de São Paulo (Unifesp).