Autismo: rótulos atrapalham o diagnóstico
Quando os pais desconfiam de sinais de autismo em seus filhos, é muito comum que surjam pessoas dizendo que é cedo para tal preocupação. Seja por questões de idade ou por não acreditarem que alguns sinais podem representar que a criança está no espectro do autismo.
“Ah, mas ele se comunica bem” ou “ele olha nos olhos” são algumas das frases que as pessoas insistem em usar para impedir os tutores de buscarem um diagnóstico.
O que é autismo?
O Transtorno do Espectro do Autismo (TEA) é caracterizado pela perda de contato com a realidade. Assim, surgem consequências como problemas com a habilidade motora e dificuldades no aspecto de interação social. Estima-se que no Brasil, cerca de 2 milhões de pessoas apresentem os sintomas do Transtorno do Espectro Autista (TEA).
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Identificando os sintomas do autismo
Embora o autismo não tenha uma cara e nem um comportamento rigidamente definido, é preciso dizer que, sim, há alguns ‘sinais de alerta’ que pais e professores, que são as pessoas que normalmente têm um contato mais direto com a criança, podem identificar, já que estes aparecem nos primeiros anos de vida.
Existem diversos níveis de autismo. Pessoas com o TEA nível 1, por exemplo, podem apresentar apenas dificuldades em situações sociais que muitas vezes podem ser confundidas com timidez. Outras têm comportamentos restritivos e repetitivos que podem parecer perfeccionismo, por exemplo.
Além disso, algumas pessoas com autismo são hiporresponsivas e outras são hiperreativas aos estímulos sonoros, visuais, olfativos, entre outros.
“Na hiperreatividade a pessoa percebe de maneira aumentada os estímulos e precisa de ambientes com luzes mais fracas ou usar fones de ouvido, por exemplo; já na hiporresponsividade existe uma dificuldade maior em perceber e responder aos estímulos que a maioria das pessoas reagiriam”, completa a neuropsicóloga Bárbara Calmeto, diretora do Autonomia Instituto.
Assim, os pais devem se atentar a algumas características como apresentar dificuldades na flexibilização de regras, gostar de manter padrões, ter dificuldades na interação social com diversas pessoas, ter estereotipias (movimentos repetitivos) e demonstrar maior dificuldade para entender piadas, ironias e sarcasmo.
Mas lembre-se de que ter uma ou mais dessas características não significa, exatamente, que o seu filho tenha autismo. Por isso, é importante buscar ajuda profissional para um diagnóstico mais preciso. Apenas um profissional poderá avaliar essa condição. “Afinal, rótulos criados pela sociedade, além de capacitistas, só atrapalham no diagnóstico de autismo”, afirma Bárbara.
Os rótulos são capacitistas
A neuropsicóloga entrevistada destaca que só um especialista pode concluir uma avaliação de TEA.
“Dizer que uma criança tem ou não comportamento de autista é uma fala capacitista que não ajuda na disseminação de conhecimento sobre este transtorno do neurodesenvolvimento. O diagnóstico é clínico, realizado por médicos e terapeutas qualificados na área, não há um exame laboratorial que direcione o diagnóstico”, explica Bárbara.
De acordo com Bárbara, os médicos especialistas observam comportamentos esperados para faixa etária e outros que têm as características do autismo. “Vale ressaltar que nem sempre a criança não tem aquela habilidade, ela pode apenas apresentar de forma diferente das crianças da mesma idade”, lembra.
Outra informação bastante importante é sobre o autismo não significar mau comportamento. Há um “senso comum” de que pessoas com TEA, especialmente crianças, são birrentas e mal educadas; e isso não é verdade. Dizer isso, inclusive, pode ser encarado como preconceito e capacitismo.
Fonte: Bárbara Calmeto, neuropsicóloga e diretora do Autonomia Instituto.