Remédio para calvície pode retardar diabetes tipo 1
Um estudo australiano publicado ontem (06/12) descobriu que a substância baricitinibe, presente no remédio para tratar calvície e artrite reumatoide, foi capaz de retardar a progressão do diabetes tipo 1. A doença é autoimune e atinge quase 600 mil brasileiros.
Remédio para calvície e diabetes tipo 1: como funcionou o estudo
A pesquisa foi feita por cientistas do Instituto St Vincent, filiado à Universidade de Melbourne. Ela envolveu um ensaio clínico randomizado, duplo-cego e controlado por placebo. Isto é, os especialistas selecionaram 91 pacientes entre 10 e 30 anos que haviam sido diagnosticados com diabetes tipo 1 há menos de 100 dias – e em quatro hospitais australianos diferentes.
Os voluntários foram, então, divididos em dois grupos: 60 deles receberam a substância baricitinibe (4 mg diariamente) e os outros 31, um placebo. Todos continuaram seus tratamentos com insulina durante o período e tiveram seus níveis de glicose no sangue e suas produções de insulina monitorados por 11 meses (48 semanas).
Ao fim do estudo, verificou-se que os níveis de glicose variaram menos e ficaram mais dentro da faixa considerada normal nas pessoas que usaram baricitinibe. Além disso, esse grupo apresentou uma diminuição na necessidade de insulina: depois das 48 semanas, a média diária de insulina usada era de 0,41 unidade/kg entre os voluntários que tomaram baricitinibe e 0,52 unidade/kg no grupo controle.
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Por que isso aconteceu?
O diabetes tipo 1 acontece quando o sistema imunológico ataca e neutraliza as próprias células do pâncreas que produzem insulina (células beta). Com isso, o paciente passa a depender de aplicações constantes do hormônio, já que não consegue mais produzi-lo naturalmente em quantidades suficientes.
A substância baricitinibe age, então, bloqueando duas enzimas, a JAK 1 e a JAK 2 – justamente os mecanismos do sistema imunológico que matam as beta. Dessa forma, as células do pâncreas continuam funcionais por mais tempo.
“Quando o diabetes tipo 1 é diagnosticado, ainda há a presença de um número substancial de células produtoras de insulina. Queríamos observar se poderíamos proteger essas células da destruição pelo sistema imunológico”, disse o professor Thomas Kay, líder do artigo, em um comunicado.
Apesar da descoberta, a pesquisa apresenta algumas limitações. Uma delas é que muitos pacientes atualmente recebem o diagnóstico da condição em estágios mais avançados, o que reduz substancialmente o efeito da baricitinibe.
Além disso, os cientistas precisam realizar um novo ensaio com mais participantes e com duração maior que um ano. Isso porque em outras doenças tratadas com inibidores de JAK, há recaída gradual após a interrupção do tratamento.
Link da publicação: New hope for type 1 diabetes.