Quiet quitting: a demissão silenciosa
Provavelmente você já ouviu falar sobre “quiet quitting” enquanto rolava o for you do seu TikTok. Esse comportamento, que se tornou comum entre a geração Z, viralizou recentemente e está gerando debate nas redes sociais. Mas o que significa isso? Continue lendo para saber mais!
O que é quiet quitting?
O termo “quiet quitting”, significa demissão silenciosa – em tradução literal. Basicamente, refere-se aos profissionais que realizam somente as tarefas propostas para sua função. Ou seja, nunca além da obrigação.
Dessa forma, o quiet quitting ganhou mais relevância após o engenheiro de 24 anos, Zaid Khan, postar um vídeo em seu TikTok detalhando o conceito. “Você continua desempenhando suas funções mas sem seguir a mentalidade de que o trabalho deve ser sua vida”, disse Khan.
É uma forma de evitar o estresse excessivo no ambiente de trabalho, que pode trazer sérias consequências como a síndrome de Burnout.
De acordo com Wanderley Cintra Jr., psicólogo especializado em comportamento no trabalho, este fenômeno está atrelado à questão do bem-estar profissional.
Impacto da pandemia
Para o psicólogo entrevistado, a pandemia foi uma das principais razões para o surgimento do quiet quitting. “A pandemia alterou profundamente a dinâmica corporativa. Assim, o home-office se tornou definitivo e muitos profissionais esticaram sua jornada por temer uma demissão. A juventude começou a trabalhar nesse contexto, em que a necessidade de criar uma relação saudável com o trabalho nunca esteve tão escancarada”, afirma.
O relatório Employee Stress Check 2022, divulgado pela organização Talkspace, afirma que 1 em cada 2 trabalhadores sentem que estão esgotados. Ainda sobre o mesmo levantamento, 57% das pessoas priorizaram o atual emprego se oferecesse mais serviços de saúde mental.
“Em diversas ocasiões, o quiet quitting tem menos a ver com a falta de disposição de um colaborador e mais com um ambiente de trabalho tóxico. Além de uma gestão que não estimula a equipe a se engajar em suas atividades”, comenta.
Um estudo realizado pela consultoria de desenvolvimento de liderança Zenger/Folkman, mostrou que gestores avaliados como menos eficazes têm de três a quatro vezes mais colaboradores que se enquadram no termo “quiet quitting”. Por outro lado, aqueles capazes de equilibrar os resultados com o bem-estar da equipe viram 62% de seus liderados dispostos a se dedicar mais ao trabalho.
“O quiet quitting não é bom para ninguém. Ou seja, nem para a liderança, que diminui seu rendimento, nem para os colaboradores, que perdem oportunidades de crescimento pessoal e dentro da equipe”, pontua.
Para Wanderley, é papel do gestor conquistar a confiança de seus colaboradores, para que eles se sintam confortáveis em vestir a camisa da empresa.
Leia também: Síndrome de Burnout: o que é e como evitá-la
Como evitar o quiet quitting?
Wanderley listou três dicas de como a gestão de uma empresa pode ajudar a construir um ambiente de trabalho saudável. Portanto, confira abaixo:
Evite o quiet quitting: prepare sua liderança
Segundo um levantamento feito pela consultoria Michael Page, em 2022, oito em cada dez profissionais apontam o líder como principal motivo para uma demissão.
“Líderes inspiradores cativam seus colaboradores e levam a equipe a potencializar seus resultados. Invista em treinamentos robustos e em uma relação transparente entre todas as partes, fomentando um ambiente em que todos se sintam confortáveis para se abrir e expor seus incômodos, evitando intrigas internas”, diz o psicólogo.
Estimule a comunicação
A comunicação insatisfatória é uma das maiores reclamações do movimento quiet quitting. Por isso, para ter um vínculo aberto e franco dentro de uma equipe, a cultura de feedback é o principal caminho.
Ao invés de críticas e “broncas”, a intenção do feedback é transmitir uma mensagem construtiva para melhorar o comportamento e desempenho de uma equipe. “É sobre auxiliar o seu colaborador, a partir de uma visão de fora, a encontrar seu caminho, e incentivar que a equipe exerça esse comportamento entre si”, aponta Wanderley.
Incentive cuidados com a saúde mental
Além do cuidado entre os colaboradores, o autocuidado é fundamental. Um dos maiores gatilhos para o quiet quitting é a exaustão física e mental causada pelo mundo corporativo. Para Cintra Jr., entretanto, o trabalho pode e deve ser uma atividade realizadora.
“É possível promover ações relacionadas à saúde mental, como palestras com especialistas ou mesmo descontos em sessões de terapia. É necessário que a empresa não só auxilie os colaboradores a criarem uma relação mais saudável com seu trabalho, mas também demonstrar que se importa e que está disposta a ajudar”, complementa.
Fonte: Wanderley Cintra Jr., psicólogo graduado pela Universidade Federal de Santa Catarina e especializado em comportamento no ambiente de trabalho.