Paciente com Alzheimer: quais os cuidados e como lidar com a condição
O diagnóstico da doença de Alzheimer não muda apenas a vida do paciente, pois os cuidados ficam a cargo de familiares e cuidadores, os quais precisam de muita sensibilidade para lidar com essa condição.
De acordo com Elina Kikuchi, médica geriatra da Vitat, um dos grandes desafios de quem está envolvido no círculo do paciente é a mudança de comportamento típica da doença. “A pessoa com demência pode perder a capacidade de compreender o que é certo ou errado e para de entender seus próprios atos. Por isso, é muito importante evitar conflitos e contradizer o paciente, pois a realidade em que ele vive não é igual a nossa”, orienta a especialista.
Confira o episódio de nosso podcast sobre a relação entre memória e doença de Alzheimer
Veja os cuidados com o paciente com Alzheimer para cada fase
A doença de Alzheimer é degenerativa. A cada estágio, ela provoca danos irreversíveis no sistema nervoso e no cérebro. Como resultado, compromete a memória, a linguagem, o comportamento, os movimentos e as funções básicas (engolir, evacuar e urinar, por exemplo). Em resumo, o Alzheimer sequestra a independência da pessoa e a capacidade de se lembrar como é viver.
Veja os cuidados essenciais para cada estágio da doença, que pode evoluir em questão de meses, dependendo do estado de saúde do indivíduo:
Estágio I
Os episódios de esquecimento tornam-se mais frequentes. A princípio, a pessoa não se recorda de acontecimentos recentes, esquece nomes e pode trocar palavras. As mudanças de comportamento dão as primeiras evidências, além da redução da capacidade de enxergar, da noção de espaço e equilíbrio. Todos estes sintomas são mais leves, e se agravam conforme a progressão da doença.
“Nesta fase, é importante verificar se a pessoa não esqueceu o fogo aceso, se está conseguindo tomar os remédios corretamente, se comeu sem pular as refeições, se está conseguindo cuidar das finanças (por exemplo: pagar as contas em dia). Também pode acontecer da pessoa se perder, por isso o ideal é sair acompanhada sempre que possível, carregar o endereço e o telefone de algum familiar, ou até mesmo utilizar um dispositivo de localização (GPS) sempre que sair”, aconselha Elina.
Estágio II
São os mesmos do primeiro, porém tornam-se mais frequentes. A pessoa também passa a ter mais dificuldades para falar e manter a coordenação motora. Confusão mental, problemas para dormir e ansiedade são adicionados à listas. Tais complicações redobram os cuidados com os pacientes com Alzheimer.
É desejável ter sempre alguém para auxiliar nas atividades do dia a dia e firmar uma rotina regrada. “Atividades programadas com regularidade podem ajudar a pessoa a se sentir independente e segura, pois consegue incorporar essas informações que vão sendo repetidas. Também ajuda se dividir as tarefas complexas em pequenas partes ou simplificá-las conforme ocorre a piora da demência”, sugere a geriatra.
Estágio III
Considerada a forma grave do Alzheimer, o paciente sente o rápido avanço da falência neurológica, com incontinência urinária, fecal, impossibilidade de se movimentar sozinho, problemas para comer e engolir as refeições e ampliação da perda da memória. É nesse momento que a pessoa vai perdendo a habilidade de reconhecer familiares, amigos e outros membros de seu convívio.
“Agitação, nervosismo, irritabilidade, confusão, alucinação, delírio e tristeza também fazem parte deste quadro. Tais sintomas podem ser causados pela própria doença de Alzheimer, mas podem significar que a pessoa está sentindo algum desconforto que não consegue expressar bem, como dor, sede, fome, intestino preso, etc”, explica a médica. Por essa razão, Elina reforça a necessidade de compreender a situação do paciente e não se irritar com prováveis surtos e lapsos de memória.
Outro comportamento típico desse degrau do Alzheimer é agir de forma infantil e perder o controle de instintos básicos, como a sexualidade. Por exemplo, é comum que um paciente com Alzheimer toque as partes íntimas em locais inapropriados. Portanto, o cuidador ou familiar precisa agir com naturalidade caso isso aconteça, sem repreender o paciente de forma incisiva.
Estágio IV
É a fase terminal da doença de Alzheimer. Nela, o indivíduo permanece em estado vegetativo: não fala, não se lembra de mais nada e precisa ficar na cama. Tomar banho, se vestir, dentre outras tarefas básicas, exigem auxílio de cuidadores e demais responsáveis. “Além disso, o paciente não consegue comer nem engolir direito, o que aumenta os riscos de se engasgar. Em muitos casos, pode haver a necessidade de alimentação adaptada”, alerta Elina.
Ou seja, os alimentos devem ser servidos em pequenos pedaços ou em forma pastosa para facilitar o consumo. Ou, ainda, a alimentação parenteral para garantir a nutrição adequada para o indivíduo. Afinal, com a deficiência de nutrientes e colapso do sistema nervoso, o sistema imunológico torna-se frágil e suscetível a infecções graves, que podem levar à morte.
Outros conselhos que melhoram a jornada do paciente com Alzheimer
Recados e sinalizações pela casa: a perda de memória é um sintoma marcante da doença. Nomear cômodos, objetos e colocar lembretes pela casa ajudam a pessoa a orientar-se sozinha.
Apoio psicológico: faz a diferença na vida do indivíduo desde o início do diagnóstico, já que as mudanças decorrentes da doença costumam ser súbitas. O auxílio de um médico psiquiatra também pode ser valioso para controlar transtornos de ansiedade, depressão e sono.
Linguagem simples e repetição: familiares e cuidadores precisam ter em mente que o Alzheimer retira a capacidade de compreender situações e frases complexas. Falar de um jeito simples e didático e repetir a explicação de maneiras diferentes melhoram a comunicação com o enfermo.
Estabilidade no ambiente e na rotina: a dificuldade de se adaptar a mudanças é mais uma marca do Alzheimer. Dessa forma, criar uma rotina fixa, com horários e locais de costume trazem mais confiança ao paciente.
Segurança em casa: a chance de sofrer quedas aumenta com o avanço da doença. Ter corrimãos no ambiente e cômodos com poucos obstáculos (muitos móveis e decoração, por exemplo) evitam acidentes e deixam a pessoa mais confortável para se locomover.
Fonte: Elina Kikuchi, médica geriatra da Vitat.