Oniomania: Sinais de que comprar se tornou compulsão

Bem-estar Equilíbrio
05 de Novembro, 2021
Oniomania: Sinais de que comprar se tornou compulsão

Você costuma comprar por impulso, apenas pela sensação de prazer? Isso pode ser sinal de oniomania, ou compulsão por compras, também chamada de consumismo compulsivo e Transtorno do Comprar Compulsivo (TCC). 

De acordo com dados da Organização Mundial da Saúde (OMS), cerca de 8% da população mundial sofre de oniomania. Assim, 80% e 94% dos compradores compulsivos são mulheres, cujo transtorno costuma surgir por volta dos 18 anos de idade. 

Uma pesquisa realizada pela consultoria Kantar com mais de onze mil pessoas de 21 países da América Latina mostrou que o Brasil é o país que registrou o maior aumento de compras online durante a pandemia: 30%.

De acordo com o Dr. Adiel Rios, Mestre em Psiquiatria pela UNIFESP e pesquisador no Instituto de Psiquiatria da Faculdade de Medicina da USP, de fato, existe um prazer em adquirir bens que desejamos. “Quando conseguimos, há liberação de neurotransmissores que proporcionam sensação de prazer e bem-estar. O sentimento é normal, desde que esteja dentro de um contexto mínimo de realidade”. 

Dessa maneira, o psiquiatra ainda explica que, na oniomania, o ato de comprar também desperta esta sensação, só que de uma maneira exacerbada. “As compras são feitas de forma impulsiva, e na maioria das vezes, de bens supérfluos. Normalmente, envolve um padrão de pessoas que compram na tentativa de preencher um vazio, suprir carências ou aliviar algum problema psicológico. Pagam por produtos que geralmente nem usam, apenas para saciar a satisfação de comprar algo novo, que logo desaparece e se transforma em sentimento de culpa. Por isso, para compensar, a pessoa vai em busca de comprar outra coisa, tornando o ciclo vicioso”, afirma Adiel. 

Leia também: Vício em compras online deve ser considerado problema de saúde mental

Sinais da oniomania

É difícil para um comprador compulsivo perceber e admitir o próprio transtorno. Portanto, para auxiliar a identificar o comportamento, Adiel Rios pontua os principais sinais do transtorno:

Sinais da oniomania: Descontrole financeiro 

Vivemos uma era em que nem é preciso sair de casa para ter vontade de comprar. Isso porque as redes sociais, além de rastrearem nossa atividade, conseguem identificar quais sites acessamos. Se esse site for uma empresa anunciante, provavelmente o produto que você pesquisou ou foi exposto em alguma loja online irá aparecer no seu perfil.  

O consumo também se tornou mais atrativo graças à criação de facilidades de pagamento ou de diversas ofertas pontuais, como a própria campanha black friday. Dessa forma, atualmente há várias formas de um comprador compulsivo ter problemas financeiros. Seja não pagando o cartão de crédito, aderindo ao cheque especial ou contratando crediários. 

Sinais da oniomania: Compras às escondidas 

Para o indivíduo com oniomania, comprar sem ninguém saber e esconder os itens em casa já são parte do processo de compra. “Por ser considerada uma postura socialmente reprovável, o medo da censura e do julgamento explicam o comportamento de nutrir a compulsão em segredo”, diz Adiel Rios. 

Peças repetidas, esquecidas ou nunca usadas 

A pessoa chega a comprar roupas ou sapatos sem sequer experimentar. Muitas vezes, ela compra itens praticamente iguais, pois nem se lembra do que tem no armário, já que a maioria das peças ainda estão com as etiquetas e nunca foram usadas. “Em um determinado momento, o indivíduo não tem nem mais espaço para guardar tanta coisa e acaba amontoando tudo no fundo do guarda-roupa, ficando esquecido por lá”, complementa o psiquiatra. 

Abstinência 

Irritabilidade, extrema ansiedade e oscilações de humor. Essas são algumas das manifestações clínicas durante os longos períodos sem consumo. Sendo assim, os sintomas decorrentes da abstinência podem ser similares aos da dependência do uso de substâncias químicas, ocasionando desespero, perda de autoestima, sintomas de humor deprimido e ansiedade. 

Sensação de culpa após uma compra 

Como em outros transtornos, após efetuar uma compra e vivenciar a sensação de prazer, vêm depois os sentimentos de culpa e sofrimento. Quando acaba aquele bem-estar, ocorre uma sensação de impotência diante do descontrole da compra. Logo, surge o ciclo de “prazer-luto”, sendo consequência da visão distorcida sobre a finalidade do consumo em nossas vidas. 

Origem familiar e genética 

Não há estudos definidos que comprovem as causas da doença, mas a literatura médica relaciona o transtorno a alguns fatores. Um deles está associado à história comportamental da família do indivíduo.  

Um estudo feito pela Universidade Albert Einstein College of Medicine, em Nova York, revelou que famílias de compradores compulsivos mostram maior tendência a desenvolver outros transtornos, como os de humor, dependência química, transtornos alimentares e, é claro, compulsão por compras. 

“Além disso, outros estudos científicos mostram uma relação bastante próxima entre a oniomania com o transtorno obsessivo compulsivo e o transtorno bipolar. Assim, a soma destas patologias com as distorções sobre o ato de consumir motiva o comprador compulsivo a desenvolver uma suposta segurança por meio das compras”, pontua Adiel Rios, que também é integrante do Programa de Transtorno Bipolar do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP (IPq-HCFMUSP). 

Tratamento para oniomania

Há inúmeras abordagens terapêuticas capazes de auxiliar quem sofre desse transtorno. Os tratamentos incluem o acompanhamento por fármacos (como ansiolíticos e antidepressivos), psicoterapias e até consultoria com um especialista em finanças pessoais.

“Os tratamentos têm como objetivo atribuir um novo significado à relação gratificação-recompensa, mostrando que há outros caminhos para lidar com as dores e formas muito mais saudáveis de obter bem-estar e prazer na vida”, finaliza Adiel Rios.

Fonte: Dr. Adiel Rios, Mestre em Psiquiatria pela UNIFESP e pesquisador no Instituto de Psiquiatria da Faculdade de Medicina da USP.

Sobre o autor

Julia Moraes
Jornalista e repórter da Vitat. Especialista em fitness, saúde mental e emocional.

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