Morte entre mães é de 30% em até um ano após o parto

Gravidez e maternidade Saúde
20 de Junho, 2023
Morte entre mães é de 30% em até um ano após o parto

Por muito tempo, acreditava-se que o trabalho de parto e o nascimento do bebê fossem as fases mais delicadas para a vida da gestante. Contudo, novas pesquisas estão levantando que a morte entre as mães vai além desses momentos.

Infelizmente, a mortalidade materna continua perigosa por cerca de um ano inteiro após o parto. Embora seja um dado preocupante, isso reforça a necessidade de um acompanhamento prolongado não apenas do bebê, mas da mãe.

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Quais são as principais causas de morte entre as mães?

A Organização Mundial da Saúde (OMS) considera mortalidade materna as mulheres que perdem a vida durante a gravidez ou em até 42 dias após o parto.

Os principais motivos são as complicações obstétricas típicas da gestação e do puerpério. Por exemplo, a hipertensão (pré-eclâmpsia e eclampsia), hemorragia pós-parto, sepse ou infecção, complicações do abortamento e disfunções em geral.

Por que a mortalidade tardia precisa de atenção médica?

A mortalidade materna tardia ainda é um debate recente. Portanto, o foco ainda se concentra em um pré-natal cuidadoso e acompanhamento da mulher somente nos primeiros dias após o parto.

O assunto voltou a ser destaque após a divulgação de um levantamento do CDC (Centro de Controle e de Prevenção de Doenças) dos Estados Unidos que aprofundou a análise das mortes maternas até um ano após o parto.

O estudo constatou que para cada mulher que morre sob os critérios de óbito materno (na gestação ou até 42 dias após o parto), outras 50 a 70 continuam com problemas tardios de saúde. Estes podem ser fatais ou se tornarem crônicos até o primeiro ano de vida do bebê, sobretudo — hipertensão, diabetes e distúrbios de saúde mental.

O levantamento do CDC teve como base informações de 36 estados, referentes a 1.018 mortes relacionadas à gravidez entre os anos de 2017 e 2019. Os dados mostram que:

  • 22% das mortes ocorreram durante a gestação.
  • 25% no dia do parto ou até uma semana após o nascimento.
  • 23% acontecem de 7 a 42 dias após o parto.
  • 30% foram no pós-parto tardio. Ou seja, 43 dias a um ano depois do nascimento da criança.

O CDC mostra também o risco de morte entre mães tardia é 3,5 vezes maior em mulheres negras. Além disso, os casos de suicídio e morte por uso de drogas ilícitas aparecem como fator agravante nesse período. Entretanto, as doenças cardiovasculares continuam sendo a principal causa de morte dessas vítimas.

Quarto período, uma forma de proteger as mães

De acordo com Linus Pauling Fascina, pediatra e gerente do Departamento Materno Infantil do Hospital Israelita Albert Einstein, a questão é alvo de debate na comunidade científica.

Os dados do CDC reforçam a urgência de um monitoramento próximo da mulher no período que os especialistas chamam de “quarto período” da gravidez (até um ano após o parto). Principalmente para as mulheres mais vulneráveis, com histórico de problemas cardiovasculares, diabetes e de saúde mental.

“É preciso ampliar o período de acompanhamento das mães. Mais do que isso, é importante iniciar esse trabalho com o obstetra nos primeiros 15 dias depois do nascimento ou até antes, se a houver sintomas. Tradicionalmente essa consulta costuma acontecer entre quatro e seis semanas depois do parto”, explica.

O levantamento mostra que cerca de 70% das mortes acontecem até 42 dias após o parto. Mas outros 30% se manifestam tardiamente e, segundo Fascina, ainda não costumam ser associados como uma possível intercorrência do período gestacional.

Segundo o CDC, estima-se que 80% dessas mortes entre mães seriam evitáveis se houvesse uma assistência rigorosa após o parto.

“Quando falamos em mortalidade materna, pensamos basicamente nos riscos associados ao período imediato do parto. Por muito tempo, acreditamos que o fim da gestação interrompia os riscos. Todavia, o que temos visto é que a gestação pode ser um gatilho tardio para outras complicações. A mortalidade materna se estende muito além do que estamos acostumados a monitorar”, afirma.

Problema de saúde pública

A morte entre mães no Brasil ainda é um problema crônico de saúde pública. A taxa de mortalidade nessa fase mais do que dobrou durante a pandemia. Ou seja, de 55 mil casos por 100 mil nascidos em 2019 para 113 casos por 100 mil nascidos em 2021. As informações são do Observatório Obstétrico Brasileiro, com base nos dados do Ministério da Saúde.

Os índices atuais distanciaram ainda mais o Brasil de atingir o compromisso de redução de mortalidade materna firmado com a Organização das Nações Unidas (ONU). A meta é reduzir a morte entre mães para até 30 casos a cada 100 mil nascidos vivos até 2030.

Os dados de 2022 ainda não estão consolidados, mas apresentam uma tendência de queda em comparação com 2021. No entanto, ainda estão longe do objetivo.

“Quando essa mãe morre, não podemos pensar que foi um caso em 100 mil. Ele representa 100% para aquela família, que fica destruída com a perda. Temos que trazer esse número para zero, mesmo com a OMS pedindo para que ele fique abaixo de 30 por 100 mil. São mortes por doenças evitáveis, preveníveis e tratáveis”, alega Fascina. “Precisamos zelar pelos primeiros mil dias de vida da mãe e do bebê”, finaliza.

 

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