Estudo aponta molécula que detecta diabetes antes dos sintomas
Um estudo publicado na revista científica Journal of Clinical Endocrinology & Metabolism chamou atenção da imprensa ao revelar a possibilidade de identificar o diabetes antes mesmo dos sintomas aparecerem. O estudo mapeou uma molécula que detecta diabetes de forma precoce, o 1,5-anidroglucitol.
Essa pequena molécula seria capaz de mostrar previamente que algo não vai bem com o pâncreas. “Essa substância já era conhecida e utilizada há alguns anos para avaliar o controle do diabetes. Mas como marcador para fazer o diagnóstico é uma novidade”, conta Denis Paiva Ferraz, coordenador do departamento de Síndrome Metabólica da Sociedade Brasileira de Diabetes.
Entendendo o estudo
O diagnóstico precoce do diabetes pode salvar vidas, especialmente no tipo 2 da condição, que geralmente aparece de forma silenciosa. Isso porque muitos pacientes não sentem os sintomas e podem viver anos com a glicemia descompensada. Esse quadro pode levar a sérias complicações de saúde, como alterações nos olhos, coração, rins e outros órgãos.
“A possibilidade de ter uma molécula que faça o diagnóstico através de um simples exame de sangue, dispensando o teste oral de tolerância à glicose, além de pegar a doença na fase inicial é importante para evitar as complicações, quanto para fazer a prevenção”, conta Denis.
Pensando nisso, os pesquisadores da Universidade de Genebra desenvolveram o estudo Circulating 1,5-Anhydroglucitol as a Biomarker of ß-cell Mass Independent of a Diabetes Phenotype in Human Subjects que se propôs a mapear a molécula 1,5-anidroglucitol.
O que é o 1,5-anidroglucitol, a molécula que detecta diabetes?
De acordo com o estudo, o 1,5-anidroglucitol foi identificada em ratos como um importante marcador do funcionamento das células ß, que são responsáveis por produzir a insulina no pâncreas. Esse hormônio é responsável por levar o açúcar para dentro das células e quando há falta ou resistência à sua ação no corpo, há o quadro de diabetes.
Posteriormente, os pesquisadores avaliaram em humanos a presença do 1,5-anidroglucitol e os resultados mostraram a diminuição da substância em quem tem a condição. “É uma molécula conhecida há muitos anos, mas o papel marcador de insuficiência do pâncreas e de diabetes é novo”, conta o especialista. “Hoje a utilizamos para avaliar o controle da glicemia em alguns casos especiais, como durante a gestação.”
O estudo avaliou a presença da substância em pessoas com diabetes tipo 2, indivíduos considerados de alto risco para desenvolver a condição, bem como grupo de pacientes sem histórico da doença que iam ser submetidos a duodenopancreatectomia (cirurgia para retirada parcial do pâncreas). Até o momento o estudo foi feito somente para diabetes tipo 2. Mas, de acordo com Denis, nada impede que no futuro o mesmo racional seja aplicado para o tipo 1 da doença, que é autoimune.
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Desafios pela frente
De acordo com o endocrinologista, o estudo abre um novo caminho para o diagnóstico, mas ainda há o desafio do custo. “Esse exame já está disponível no Brasil há algum tempo, mas o custo não é tão acessível. Esperamos que o uso maior do teste promova um preço menor e aumente a acessibilidade do exame”, reforça Denis.
Fonte: Denis Paiva Ferraz, coordenador do departamento de Síndrome Metabólica da Sociedade Brasileira de Diabetes