Seu filho tem medo do escuro? Veja estratégias para ajudá-lo
A mente das crianças é como uma tela em branco, pronta para ser preenchida pela imaginação. Embora esse cenário seja favorável a brincadeiras e formas de aprender, durante a noite, sombras misteriosas e monstros imaginários podem criar o cenário ideal para desenvolver medo do escuro.
Uma pesquisa divulgada pela UNESP – Universidade Federal Paulista, mostrou que 49% das crianças analisadas eram percebidas por seus cuidadores apresentando comportamento de medo. Na faixa de 4 a 6 anos, cerca de 13% das crianças têm medo do escuro, configurando o segundo lugar no ranking. A primeira posição é ocupada pelo medo de cachorro, com 25%.
Para a psicóloga Rejane Sbrissa, o cenário é muito comum já que na infância, as crianças ainda não têm maturidade emocional para distinguir o que é fantasioso e o que é real. Além disso, a imaginação costuma ser ainda mais fértil do período dos 3 aos 7 anos. No entanto, a ação dos pais pode ajudar os pequenos a desenvolver a confiança necessária para superar esse desafio. Saiba mais a seguir!
Afinal, de onde vem o medo do escuro?
O medo faz parte do desenvolvimento emocional do ser humano e é uma reação de proteção do organismo. Na prática, é o que nos impede de fazermos ou passarmos por situações que possam nos machucar física e/ou emocionalmente.
Na infância, há vários fatores que podem despertar o medo do escuro, como experiências anteriores, mudança na rotina, luto, desenhos animados, filmes com monstros e bruxas. Histórias de terror, notícias ruins, crenças e superstições também podem deixar o pequeno mais inseguro com relação à falta de claridade no ambiente.
Além disso, há ainda situações em que o escuro é usado como método de castigo: “Vivenciar coisas ruins quando está no escuro, como por exemplo, os pais o deixaram no escuro como castigo. Tudo isso pode fazer com que o medo do escuro aflore”, complementa a Rejane.
Há quem defenda que o medo do escuro passe logo e sem intervenções, mas a verdade é que a imaginação das crianças pode acabar resultando em medo, insegurança e até ansiedade próximo do momento de dormir.
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Dicas para ajudar as crianças a lidar com o medo do escuro
Para superar os medos e não deixá-los virarem traumas, o papel dos pais é essencial na condução e apoio aos pequenos. A seguir, confira dicas práticas para ajudar as crianças a superar o medo do escuro de uma vez por todas.
Crie segurança emocional
Conhecer o caminho do quarto dos pais ajuda a criança a encontrar soluções e encarar os desafios, esse processo deve ser feito de forma gradativa, potencializando a capacidade de superação dessa fase, evitando sequelas para a vida adulta, como: insegurança, medo do desconhecido, dificuldade de pedir ajuda e de lidar com mudanças.
Por isso, o mais importante é que os pais deem segurança emocional aos filhos. Ou seja, deixar claro, através de atitudes, que a criança está sempre protegida por eles e que os pais podem ser acionados sempre que necessário.
Valide os sentimentos da criança
Mesmo que você não compartilhe da mesma insegurança, entenda que para o pequeno, esse medo é real. Então, essa é a primeira forma de acolhimento que gera abertura para conversarem e descontruírem essas inseguranças. Converse com a criança sobre o que ela acha que vai acontecer no escuro e ajude-a a distinguir a vida real e o imaginário.
Desenvolva a autoconfiança
Durante as atividades do dia-a-dia, demonstre que confia em seu filho passando tarefas que ele possa desempenhar sozinho, é claro, respeitando a sua idade.
Rejane explica que essa técnica serve para aumentar a autoconfiança das crianças, um fator decisivo para eliminar o medo. Ou seja, quanto mais autoconfiança eles tiverem, menos medo terão, apresentando também mais facilidade para lidar com eles.
Para superar o medo do escuro, crie uma rotina
Seja contando histórias ou ouvindo músicas relaxantes, a rotina também também pode tornar o momento de dormir mais relaxante. Dizer e mostrar que o quarto que a criança dorme é seguro é uma ótima estratégia. Explique que a criança não estará sozinha e que os pais estarão próximos para apoiá-lo.
Para criar essa sensação de segurança, os pais devem evitar contar histórias assustadoras, mesmo durante o dia. Além disso, usar o medo para controlar as crianças pode fazer com que elas se tornem cada vez mais inseguras. Ou seja, nada de ameaças sobre o bicho papão.
Pouco a pouco
Se o medo for extremo, a criança não deve ser exposta à escuridão. Por isso, é importante reduzir gradativamente a exposição ao escuro, através de lâmpadas que permitem a regulagem da luz, também podemos usar luz noturna e/ou luz de presença, estimulando a segurança e conforto durante a noite.
Além disso, outra estratégia é ficar com a criança até que ela adormeça e explicar que estará no quarto ao lado. A dica aqui é: evite mentir para o seu filho.
“Lembre-se de ser paciente e consistente, superar o medo do escuro pode levar tempo, e a falta de compreensão, paciência e acolhimento, pode dificultar ainda mais esse processo e gerar mais associações ruins ao escuro, como momento de tensão e conflito”, complementa o psicólogo Renan Molina.
Medos não superados na infância
Quando o medo do escuro não é superado na infância, o adulto pode sofrer de nictofobia, que nada mais é que um transtorno de ansiedade provocado pelo medo exacerbado do escuro ou da noite. Quando agravado, o quadro pode desencadear um quadro de depressão, ansiedade e pânico.
“Esse medo excessivo afeta o cotidiano do adulto, o padrão de sono, o medo de dormir, sempre com as luzes acesas atrapalhando a produção da melatonina, hormônio do sono de qualidade, causando insônia que causa outros males, pois sono de qualidade é essencial para qualidade de vida”.
O medo na infância pode ter consequências duradouras na vida adulta, afetando o bem-estar emocional, social e até mesmo profissional de uma pessoa. Para o psicólogo Renan Molina, quando não tratado, o medo do escuro pode afetar o desenvolvimento cognitivo da criança/adulto, interferindo na sua capacidade de concentração, aprendizado e resolução de problemas. Isso pode, inclusive, afetar o desenvolvimento e desempenho profissional, atividades de lazer com amigos e familiares, enfrentamento de conflitos e dificuldade de lidar com mudanças.
Fonte:
- Rejane Sbrissa, psicóloga.
- Renan Molina, psicólogo.