Litopedia: condição rara calcifica o feto dentro do corpo da mãe
Nosso corpo surpreende de diversas formas, tanto para o bem, como para o mal. Recentemente, uma idosa de 81 anos descobriu que carregava um “bebê de pedra” por mais de cinco décadas. Ela deu entrada no hospital com um quadro de infecção grave e a equipe médica descobriu o feto calcificado. A mulher morreu em decorrência de uma infecção generalizada, que ocorreu a partir de uma infecção urinária. Trata-se de litopedia, uma condição em que a mulher sofre um aborto, mas o feto não é expelido. A condição extremamente rara é consequência de uma gravidez ectópica (gestação em que o óvulo fertilizado é implantado fora do útero) que evolui para morte fetal e calcificação.
Em 2023, outra história com um desfecho triste foi o de uma mulher congolesa de 50 anos que morreu após carregar um feto de 28 semanas por nove anos. Nesse período, o cadáver se calcificou e provocou sintomas desconfortáveis na mulher. Ela chegou a se queixar de dores no abdômen e problemas de digestão, que também geravam barulhos após uma refeição.
Após a anamnese, a mulher realizou exames diversos, incluindo os de imagem, que identificaram uma massa densa no abdômen e de tamanho significativo. Medindo em torno de 15 cm x 20 cm, os médicos viram que se tratava de um feto que sofreu calcificação e se transformou em uma massa sem forma.
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Paciente com litopedia foi julgada por equipe de saúde
No caso que ocorreu em 2023, a mulher foi mãe de oito crianças, mas três delas não sobreviveram ao pós-parto. A nona gravidez não chegou ao fim, com morte intrauterina com 28 semanas. Na época, os médicos recomendaram que ela tentasse eliminar o feto em casa. No entanto, se não houvesse êxito, ela deveria retornar duas semanas depois.
A tentativa de um “parto” natural não deu certo, o que fez com que a mulher buscasse ajuda médica novamente. Todavia, ao invés de receber apoio profissional, a paciente foi hostilizada e acusada de negligenciar a saúde, com uso de drogas e “má conduta”.
Com isso, se sentiu insegura em prosseguir com a remoção cirúrgica do feto e voltou para casa. Uma semana depois de passar pela primeira consulta para ingressar nos Estados Unidos, ela buscou novamente ajuda médica. Dessa vez, além dos sintomas prévios, a imigrante estava passando mal, com episódios incessantes de vômitos e náusea.
Recusa a tratamento resultou na morte da gestante
Na emergência, a paciente fez outros exames que mostraram novamente o esqueleto do feto, mas constavam distensão e obstrução intestinal. Como resultado, precisou de internação, mas não quis ingerir os medicamentos, tampouco retirar o feto, pois não estava se sentindo “pronta”.
Assim, os médicos não conseguiram ajudá-la e a mandaram para casa. A paciente não retornou ao hospital para receber assistência e morreu 14 meses depois.
Litopedia é rara, mas precisa de atenção médica
A litopedia, popularmente conhecida como “bebê de pedra” é uma ocorrência pouco comum. Alguns estudos já descreveram o fenômeno em pacientes com diversas idades, incluindo mulheres de 60 anos ou mais.
Na maioria dos artigos, os autores relataram obstrução intestinal, mas algumas pacientes podem ficar assintomáticas por décadas, até que o feto comece a causar problemas.
A anomalia geralmente é fruto de uma gravidez ectópica atípica, cujo bebê morre e o organismo o calcifica. Então, a mulher pode demorar anos para descobrir a situação, a não ser que faça consultas de rotina com frequência.
Referências: National Library of Medicine; Revista Brasileira de Ginecologia e Obstetrícia; e BMC Women’s Health.