Inflamassoma: mecanismo pode causar mortes pelo Covid-19
Um novo estudo da Universidade de São Paulo (USP) ajuda a entender por que algumas pessoas com SARS-CoV-2 desenvolve uma inflamação sistêmica potencialmente fatal, mesmo após eliminar o vírus do organismo. Geralmente esses pacientes ficam dias na UTI utilizando ventilação mecânica. Além disso, apresentam complicações como fibrose pulmonar e trombose. Segundo o artigo, o quadro tem relação com o inflamassoma, um mecanismo inflamatório que, além de estar excessivo nesses casos, não é desativado nunca. Dessa forma, a resposta imunológica que provoca a inflamação não cessa. A descoberta pode ajudar no desenvolvimento de tratamentos mais específicos para essas situações.
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A pesquisa também mostra dois cenários: uma parcela dos pacientes hospitalizados por COVID-19 apresenta alta carga viral e baixa ativação do inflamassoma – e ainda não se sabe exatamente por que eles morrem; e outra parte permanece com o inflamassoma ativo, segue com uma inflamação altíssima e morre por causa disso.
Metodologia do estudo sobre o inflamassoma
A pesquisa reuniu a coleta da autópsia pulmonar de 47 indivíduos vítimas de COVID-19 em 2020. A princípio, não havia vacina disponível nem diversas variantes do SARS-CoV-2. Assim, o grupo da USP comparou a resposta ao vírus que causou os primeiros casos de COVID-19 em Wuhan, na China, com a resposta ao vírus da gripe. Em pacientes com COVID-19, a ativação do inflamassoma ocorre principalmente nos macrófagos (linha de frente do sistema imune) e nas células endoteliais (que revestem os vasos sanguíneos). Em contrapartida, na gripe, os pneumócitos tipo I e tipo II contribuem de forma mais significativa.
“Como resultado, o inflamassoma estava muito mais ativo em pacientes que morreram por COVID-19 do que naqueles que faleceram pela infecção com o influenza. Isso contribui para entendermos por que a mortalidade foi muito maior pelo SARS-CoV-2”, diz a doutoranda Keyla de Sá , primeira autora do estudo.
Por fim, o grupo analisou a expressão gênica nas células pulmonares coletadas por autópsia. “Havia claramente dois grupos de pacientes. Um composto pelos que faleceram com alta carga viral e pouca inflamação; e outro pelos que morreram mais tardiamente, com pouca carga viral e muita inflamação. Embora os pacientes do segundo grupo não tivessem mais o vírus no organismo, o inflamassoma não se desativou, o que parece ter contribuído para o óbito”, afirma Sá.
Além da COVID-19 e da gripe, o inflamassoma está presente em doenças autoimunes, neurodegenerativas, alguns tipos de câncer e outras doenças infecciosas, incluindo zika, chikungunya e febre do Mayaro.
Fonte: Agência FAPESP.