Fertilidade do homem: o que prejudica a capacidade de ter filhos?
Se você gosta de assuntos relacionados à área da saúde, provavelmente já leu ou viu por aí que a fertilidade do homem tem sofrido mudanças nas últimas décadas. Caso seja uma novidade, daremos uma breve explicação: um estudo de novembro de 2022 constatou que a contagem de espermatozoides diminuiu significativamente desde a década de 1970.
Para se ter uma ideia, em 1973, a média de espermatozoides por homem era de 100 milhões por mL; já em 2018, 49 milhões — ou seja, menos da metade.
Antes dessa análise, outras pesquisas já haviam mostrado o declínio, que não necessariamente resulta em um quadro de esterilidade. No entanto, a quantidade de espermatozoides pode, sim, atrapalhar o desejo de gerar filhos.
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Por que a fertilidade do homem pode estar sob ameaça?
Na avaliação do ginecologista e obstetra Geraldo Caldeira, a razão para a queda dos espermatozoides é multifatorial. “Várias hipóteses estão em estudo: uso de hormônios, consumo de agrotóxicos, sedentarismo, obesidade e até mesmo a influência de ondas eletromagnéticas (de computadores, aparelhos eletrônicos e Wi-fi, por exemplo) são algumas possibilidades”, explica o médico.
O urologista Alex Meller concorda que o estilo de vida pode ser um aspecto decisivo na fertilidade do homem. “É difícil bater o martelo em uma causa específica. Dentre as possibilidades, creio que a piora na saúde global, com o aumento da obesidade, é uma das principais responsáveis. Afinal, a obesidade é uma doença que provoca uma inflamação generalizada, inclusive nos testículos, que são mais sensíveis. Portanto, tais alterações metabólicas podem impactar a fertilidade”, opina o especialista.
Além disso, na percepção de Meller, existe uma questão delicada de se gerenciar, que é o meio ambiente. “Sobretudo nos centros urbanos, em que há mais poluição e estresse. Quando se vive em locais assim, não dá para controlar esse fator externo”, justifica.
Outra questão que ambos os médicos levantam é a idade. “Hoje, parte dos casais planejam o aumento da família e se concentram primeiro em outras questões da vida. Então, quando se sentem prontos para ter filhos, já estão mais velhos”, comenta Meller.
Por esse motivo, é importante tentar pensar a longo prazo e aderir a alternativas que viabilizem a concepção mais tarde. Um exemplo é o congelamento de óvulos, procedimento que tem se tornado popular nesses casos.
Mas, e para o homem mais velho que quer ter filhos, qual seria a opção? “Talvez uma futura saída seja o tratamento de congelar o sêmen ainda na idade reprodutiva para preservar a qualidade do esperma”, diz Geraldo Caldeira.
E aí, será que o problema global tem resolução?
De acordo com os dois especialistas, não é fácil responder a essa pergunta. Afinal, não bastaria melhorar a qualidade de vida do indivíduo com hábitos controláveis, mas o ambiente.
Ou seja, manter o peso, fazer exercícios físicos, evitar vícios e alimentar-se de forma saudável sejam essenciais para a boa performance e quantidade de espermatozoides. Em contrapartida, a exposição a poluição, substâncias químicas e o estresse são praticamente indomáveis no cenário atual.
“Precisamos entender melhor o que está causando essa redução em nível global para buscar as possíveis melhorias e tratamentos”, comenta Caldeira.
Quantidade não é sinônimo de qualidade
Muitas pesquisas se debruçam sobre a contagem de espermatozoides, que é um indicador importante para a fertilidade do homem. Todavia, não é o único que importa na prática.
“Ao analisar um espermograma, observa-se também a motilidade do espermatozoide, que é a capacidade de mobilidade [se ele é rápido ou lento na corrida da concepção]. Além disso, a anatomia precisa ser compatível, com boa parcela apresentando formato oval”, esclarece Caldeira.
Sem essas características, a quantidade de espermatozoides não se sustenta muito. “De todo o sêmen ejaculado na vagina, aquele que chega às trompas é de apenas 1%. Logo, são necessários 15 milhões de espermatozoides no sêmen, mas contendo as qualidades para a fecundação”, finaliza.
Fontes: Alex Meller, urologista da Unifesp e do Hospital Israelita Albert Einstein; e Geraldo Caldeira, ginecologista e obstetra membro da FEBRASGO, da SBRH e médico do serviço de Reprodução Humana do Hospital e Maternidade Santa Joana.