Febre Amarela: quais são os sintomas e como prevenir
De acordo com a Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS), a febre amarela é responsável por mais de 200 mil casos ao ano: destes, infelizmente, 30 mil vão ao óbito. A boa notícia é que tem como prevenir a doença: a vacina é extremamente eficaz, segura e gratuita.
Transmitida através de uma picada de mosquito, a febre amarela pode causar intensos sintomas e um dos mais característicos – que dá nome a doença – é a icterícia, ou seja, olhos e pele amarelados.
Por ser mais frequente no Brasil, é importante ficarmos atentos e entender não só como a doença é transmitida, mas, principalmente, a como preveni-la e combatê-la.
Febre amarela pelo mundo
A doença é considerada endêmica na África, América Central e América do Sul. Por conta da pandemia pelo novo coronavírus, o risco de novos surtos da doença, especialmente nas Américas, chama atenção dos especialistas. Isso porque houve diminuição na vacinação contra a febre amarela.
Segundo dados da OMS e da UNICEF, em 2020 e 2021, a cobertura vacinal diminuiu em seis dos 13 países que fazem parte da área endêmica. Além disso, no último ano, 12 países não conseguiram alcançar a meta igual ou superior a 95% de vacinação da população, e nove países apresentaram números inferiores a 80%.
Febre amarela no Brasil
Entre 2014 e 2015, a transmissão da doença ocorria, principalmente, na região Norte, com casos em macacos e em humanos em Goiás e Mato Grosso do Sul. No biênio 2015-2016, tivemos casos humanos, além de Goiás, em São Paulo também.
Um grande surto aconteceu entre 2016 e 2019 especialmente na região sudeste, atingindo áreas que não eram até então endêmicas, como: Minas Gerais, Espírito Santo, Rio de Janeiro e São Paulo. Os casos notificados nesse período superaram o total nos últimos 50 anos. Além disso, 80% deles foram em São Paulo.
De lá para cá, a onda da febre amarela tem se deslocado para o sul do país, com risco de se expandir para o Paraguai, Argentina e Uruguai. De 2019 até junho de 2022, os estados do Acre, Pará, Santa Catarina e Tocantins apresentaram 33 casos da doença. Além disso, a cobertura vacinal nacional ficou entre cerca de 62% a 47%, sendo que o recomendado é acima de 95%.
Os dados são preocupantes e acendem a urgência de estimular a vacinação, para evitar que a doença se espalhe e cause novos surtos.
O que é a febre amarela e os principais sintomas
Considerada uma infecção grave, a febre amarela, geralmente, infecta pessoas que nunca foram contaminadas ou que não tomaram a vacina. Os primeiros sinais da febre amarela aparecem depois de três a seis dias após a infecção.
Entre os principais sintomas estão:
- Febre alta
- Calafrios
- Cansaço
- Dor de cabeça
- Dor muscular
- Náuseas e vômitos
A maioria das pessoas melhora após os sintomas iniciais, mas cerca de 15% a 25% podem evoluir para complicações mais graves como a insuficiência hepática e renal, causando hemorragias. Nesse estágio, alguns sintomas podem aparecer como:
- Icterícia (amarelamento da pele e dos olhos)
- Urina escura
- Dores abdominais com vômitos
- Sangramentos na boca, nariz, olhos ou estômago
Por isso, é de suma importância que, diante dos primeiros sintomas, já procure o atendimento médico de urgência.
Formas de transmissão
Mosquitos contaminados transmitem a doença para humanos e macacos. Na área rural, geralmente é o mosquito Haemagogus, já nas cidades o famoso aedes aegypti, o mesmo que transmite a dengue, é vetor da febre amarela.
Contudo, é importante dizer que não são os macacos os transmissores: eles são vítimas como nós do mosquito. Além disso, a infecção não é transmitida de pessoa para pessoa, apenas através da picada do mosquito. Geralmente, no Brasil, a maior frequência dos casos ocorre nos meses de dezembro a maio, por conta das altas temperaturas e das chuvas, que favorecem a proliferação dos mosquitos.
Tipos de transmissão
A doença possui três tipos de ciclos de transmissão: febre amarela silvestre ou selvagem, a “intermediária” e a urbana.
Febre amarela silvestre ou selvagem: Ocorre em florestas, onde geralmente os macacos são contaminados ou, de forma pouco frequente, humanos que trabalham ou viajam para essas regiões.
Febre amarela “intermediária”: Neste tipo, há mosquitos semi-domésticos, ou seja, que transitam por regiões mais de mata como o ambiente urbano. Por isso, contaminam tanto primatas como pessoas. É o tipo mais comum na África.
Febre amarela urbana: Como o próprio nome diz, ocorre, geralmente, nas grandes cidades. As pessoas infectadas introduzem o vírus nessas regiões, e mosquitos como aedes aegypt o transmitem.
Como é feito o diagnóstico
Em geral, o diagnóstico da febre amarela é difícil e é feito com base nos sintomas do paciente e os locais que ele passou. Além disso, muitas vezes profissionais da saúde podem confundir a doença com malária, leptospirose, hepatite viral e outras intoxicações por conta dos sintomas parecidos.
Contudo, exames laboratoriais como o RT-PCR podem, às vezes, identificar o vírus nos estágios iniciais. Em casos mais avançados, há testes que detectam os anticorpos específicos contra o vírus, mas os resultados podem levar entre 4 a 14 dias para serem entregues.
Tratamento da febre amarela
Não existe um medicamento específico contra a febre amarela. Geralmente, os médicos controlam os sintomas como a febre, a desidratação e as possíveis complicações nos rins e fígado. Além disso, o Ministério da Saúde não recomenda o uso de medicamentos como o AAS e Aspirina, já que podem favorecer hemorragias.
Como prevenir a doença
Além da vacinação, outra medida que podemos adotar é evitar a proliferação do mosquito. Simples medidas diárias podem ajudar nesse combate, como evitando o acúmulo de água em caixas d’água expostas, latas, pneus, pratinhos de planta, entre outros recipientes.
Vacina
A vacina, sem dúvida, é a principal arma contra a doença. O Sistema Único de Saúde (SUS) oferece o imunizante, de forma gratuita, para toda a população. A Sociedade Brasileira de Imunizações recomenda duas doses em crianças até 4 anos (uma aos 9 meses e outra aos 4 anos), e acima desta idade, uma dose seria o suficiente, mas recomenda-se uma segunda dose considerando a possibilidade da primeira ter falhado na resposta imunológica.
A vacina está disponível nos postos de saúde durante o ano inteiro e deve ser administrada, pelo menos, 10 dias antes da viagem para a área de risco. No calendário vacinal proposto pelo Ministério da Saúde, crianças a partir dos nove meses de idade podem receber a vacina. Além disso, o imunizante possui alta cobertura contra a doença, estimada em mais de 95%.
Leia também: Vacina da febre amarela: quando tomar e reações comuns
Alguns cuidados com a vacinação
Por utilizar o vírus vivo atenuado, a vacina deve ser aplicada com cautela e planejamento em alguns grupos especiais de pacientes, tais como:
- Crianças abaixo dos nove meses
- Pessoas com HIV
- Pessoas com imunossupressão
- Pacientes com câncer
- Pacientes que fizeram transplante de órgãos
- Gestantes, salvo em situações de alto risco de infecção (deve ser avaliado pelo médico)
- Mulheres amamentando bebês com até 6 meses. Contudo, se a vacinação não puder ser evitada, deve-se suspender a amamentação por 10 dias
- Pessoas com histórico de alergia às substâncias presentes na vacina (como ovo de galinha e seus derivados)
- Entre outros.
Contudo, a Sociedade Brasileira de Imunizações diz que essas são situações de risco, mas não são um impeditivo para a vacinação como, por exemplo, em surtos da doença. Nesses casos, a entidade diz que “cabe ao médico avaliar a relação risco-benefício.”
Na maioria dos casos desses pacientes com algum grau de comprometimento do sistema imunológico, a vacina pode ser planejada observando os sintomas e resultados de exames médicos. No site da SBIm, há uma lista completa desses critérios, mas lembrando: a decisão de vacinar-se ou não deve ser compartilhada com o médico que acompanha o paciente.
Cuidados antes de viajar
Diversos países exigem o Certificado Internacional de Vacinação e Profilaxia (CIVP), com registro de dose aplicada no mínimo 10 dias antes da viagem. Para obter este documento, deve procurar os serviços públicos ou privados habilitados. Além disso, poderá acessar o site da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) para emissão online.
Todavia, se o paciente não puder tomar a vacina por questões de saúde, o médico poderá emitir o certificado de isenção da vacinação. Essas informações também estão no site da Anvisa.
Referência: Fiocruz, SBIm, Ministério da Saúde e Médicos Sem Fronteiras.