Fadiga adrenal existe? Especialista alerta sobre diagnóstico
Cansaço, desânimo, fadiga, dificuldade para manter o nível de energia e concentração ao longo dia têm sido queixas comuns nos consultórios. Em geral, vêm de pessoas com um estilo de vida muito estressante, com privação de sono, pouca ou nenhuma atividade física e com distúrbios emocionais. Diante disso, alguns médicos atribuem o quadro à fadiga adrenal. Afinal, o que é isso e qual o problema por trás desse diagnóstico?
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Fadiga adrenal não existe e medicamento pode trazer problemas à saúde
“Com esse rótulo de ‘fadiga adrenal’, prescrevem reposição de corticoide – o cortisol ‘bioidêntico’ — com o argumento de que as glândulas suprarrenais estão ‘fadigadas’ e não conseguem produzir a quantidade de cortisol necessária. Mas aqui fica um alerta: não existe fadiga adrenal”, explica Felipe Henning Gaia Duarte, endocrinologista presidente da SBEM-SP.
As glândulas adrenais (ou suprarrenais) são duas e ficam no abdômen, acima dos rins. Elas produzem alguns hormônios: adrenalina, noradrenalina aldosterona, hormônios masculinizantes (s-DHEA) e o cortisol.
O cortisol é um hormônio que tem vários papéis no organismo, um deles é ajudar a mobilizar energia para o organismo dar conta das tarefas durante o dia. Contudo, as glândulas liberam mais cortisol quando estamos com infecções ou em situação de perigo ou alerta. Assim, o corpo tem mais energia para lidar com estas questões imprevisíveis.
Quando as glândulas podem ter deficiência de cortisol?
Há algumas situações nas quais as glândulas adrenais não conseguem produzir cortisol adequadamente. Por exemplo, doenças de danifiquem as adrenais como tumores, infecções por fungos, lesões da glândula hipófise, doenças congênitas, dentre várias outras.
Entretanto, esse caso de produção insuficiente e cortisol se chama insuficiência adrenal. Trata-se de uma doença rara, que requer testes específicos pelo endocrinologista para o diagnóstico. Logo, isso reforça que a fadiga adrenal é um mito.
“Não existem sintomas clínicos isolados que possam dar esse diagnóstico [de insuficiência adrenal]. No mínimo, é necessário dosar o cortisol no sangue, e essa dosagem deverá vir baixa para que se possa pensar neste diagnóstico. Quando o isso ocorre, aí sim, precisamos repor o cortisol com medicamentos glicocorticoides. Há uma série deles e o endocrinologista analisará o qual mais se encaixa no perfil do paciente”, explica o endocrinologista.
Ele completa dizendo que, por outro lado, quando este critério de falta de cortisol não existe e a “reposição” de cortisol é iniciada, já está comprovado que isso aumenta a ocorrência de problemas metabólicos. “Entre eles diabetes, hipertensão, alteração de gorduras no sangue (triglicérides), perda de massa óssea e muscular. Como resultado, tal reposição provoca o aumento da mortalidade e redução da longevidade das pessoas”, alerta o especialista.
Tratamento da suposta fadiga adrenal é ilusório
No início de uma reposição inadequada deste hormônio, é fato que o paciente sentirá melhora do bem-estar nos primeiros dias. Afinal, o cortisol tem uma ação euforizante inicial; mas, com passar das semanas, esse efeito se perde e o efeitos ruins virão.
“Então, tenha muito cuidado quando alguém disser que você tem fadiga adrenal e que, sobretudo, somente melhora com o tratamento com uso de um hormônio manipulado especial (bioidêntico). Você pode estar sendo enganado”, finaliza o presidente da SBEM-SP.