Esquizofrenia em adultos: conheça os sintomas e como tratar
A esquizofrenia é uma condição psiquiátrica crônica que afeta cerca de 1% da população mundial, de acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS). A doença se manifesta, geralmente, entre o final da adolescência e o início da idade adulta — sendo que homens tendem a apresentar os primeiros sinais mais cedo do que as mulheres.
O transtorno pode se manifestar de diferentes formas, com sinais como dificuldade em distinguir realidade de fantasia, alterações de humor e alterações sensoperceptivas.
Elas podem ser encontrados em outras condições, como transtorno bipolar, depressão, transtornos de personalidade e condições relacionadas ao uso de substâncias psicoativas, de acordo com Pérsio de Deus, psiquiatra e médico assistente do Hospital Nossa Senhora de Fátima.
Por isso, é essencial realizar um diagnóstico adequado com um profissional da saúde. A identificação precoce da esquizofrenia é fundamental para garantir que o paciente receba o tratamento adequado — evitando a evolução dos sintomas e as complicações que podem prejudicar sua qualidade de vida.
Sintomas da esquizofrenia em adultos
Os sintomas da esquizofrenia em adultos podem ser divididos em diferentes categorias, que incluem os chamados sintomas positivos, sintomas negativos, desorganização e comprometimento cognitivo. Para entender como a esquizofrenia impacta a vida de uma pessoa, é fundamental compreender como cada um desses sintomas se manifesta e afeta o cotidiano.
1. Sintomas positivos
Os sintomas positivos são aqueles que envolvem uma amplificação ou distorção das funções mentais normais. Esses sintomas incluem delírios, alucinações e pensamentos desorganizados, e são frequentemente os mais visíveis para pessoas que convivem com o paciente.
Delírios
Os delírios são crenças falsas mantidas com convicção, mesmo quando há evidências claras de que não são verdadeiras. Na esquizofrenia, os delírios podem assumir várias formas. Um dos mais comuns é o delírio de perseguição, no qual a pessoa acredita que está sendo vigiada, perseguida ou que outras pessoas estão tentando prejudicá-la.
Outro tipo comum é o delírio de referência, em que o indivíduo acredita que certos acontecimentos, músicas ou mensagens são direcionados exclusivamente a ele.
Esses delírios podem afetar profundamente a vida da pessoa. Por exemplo, um adulto com esquizofrenia pode evitar sair de casa por medo de estar sendo seguido ou vigiado, o que limita sua capacidade de manter relacionamentos sociais e atividades diárias normais.
Alucinações
As alucinações são outro sintoma positivo comum da esquizofrenia. Elas envolvem a percepção de coisas que não estão realmente presentes. A forma mais comum de alucinação entre pessoas com esquizofrenia são as alucinações auditivas, em que o indivíduo ouve vozes inexistentes. Essas vozes podem ser críticas, ameaçadoras ou, em alguns casos, dar comandos à pessoa.
As alucinações auditivas afetam a concentração e a capacidade de interagir com outras pessoas, já que a pessoa pode estar constantemente distraída ou perturbada por essas vozes. Isso pode interferir em atividades cotidianas, como trabalhar, estudar ou mesmo ter uma conversa simples.
Pensamentos desorganizados
Os pensamentos desorganizados são outro aspecto dos sintomas positivos. Eles dificultam a comunicação clara e coerente. Muitas vezes, as pessoas com esquizofrenia apresentam discurso incoerente, pulando de um tópico para outro sem conexão lógica. O pensamento desordenado torna difícil para a pessoa seguir um raciocínio ou tomar decisões.
Em situações cotidianas, essa desorganização do pensamento pode impedir que a pessoa complete tarefas simples, como cozinhar, fazer compras ou planejar o seu dia. A desorganização mental também afeta o desempenho no trabalho ou nos estudos, pois a capacidade de concentração e de lidar com problemas de forma lógica é comprometida.
2. Sintomas negativos
Os sintomas negativos envolvem uma diminuição ou perda das funções normais. Eles afetam a motivação, a capacidade de expressar emoções e o envolvimento com o mundo ao redor. Muitas vezes, esses sintomas são menos visíveis do que os sintomas positivos, mas podem ter um impacto igualmente devastador na vida de uma pessoa.
Apatia e perda de interesse
Um dos principais sintomas negativos da esquizofrenia é a apatia ou perda de interesse em atividades que antes eram prazerosas. A pessoa pode deixar de se engajar em hobbies, atividades sociais ou até mesmo em cuidados pessoais básicos, como tomar banho e cuidar da higiene. Isso pode gerar isolamento social e, em muitos casos, agravar a depressão.
Diminuição da capacidade emocional
A anedonia — a incapacidade de sentir prazer — é outro sintoma negativo que afeta muitos pacientes com esquizofrenia. Essa condição dificulta a conexão emocional com amigos e familiares, levando ao afastamento e solidão. Além disso, muitas pessoas com esquizofrenia têm dificuldades para expressar emoções, mesmo quando sentem algo intensamente, o que dificulta ainda mais a socialização.
3. Desorganização
A desorganização é um dos aspectos centrais da esquizofrenia e afeta o comportamento e o pensamento. A pessoa pode apresentar comportamentos estranhos ou inadequados para a situação em que se encontra. Esses comportamentos desorganizados podem incluir desde reações emocionais exageradas até gestos ou movimentos sem propósito.
No dia a dia, os comportamentos desorganizados tornam tarefas simples, como se vestir ou organizar um ambiente, desafiadoras. Uma pessoa com esquizofrenia pode, por exemplo, usar roupas inadequadas para o clima ou para a ocasião, ou ter dificuldade para seguir uma rotina de forma estruturada. Isso afeta diretamente sua capacidade de viver de maneira independente, muitas vezes necessitando de ajuda externa.
O discurso desorganizado também é um dos sintomas mais característicos da desorganização. O indivíduo pode falar de forma incoerente, com frases que não fazem sentido ou que não têm relação lógica entre si. Isso torna a comunicação e o entendimento entre a pessoa e aqueles ao seu redor extremamente difíceis.
4. Comprometimento cognitivo
Além dos sintomas positivos e negativos, a esquizofrenia também provoca comprometimento cognitivo, que se refere à dificuldade de processar informações, de lembrar fatos e de usar a memória para realizar tarefas complexas. Esse comprometimento afeta diversas áreas do funcionamento diário da pessoa.
Déficit de memória e atenção
Muitos adultos que convivem com a esquizofrenia enfrentam déficits de memória de curto prazo. Isso significa que eles têm dificuldade em lembrar informações recentes, como o que acabaram de ler ou ouvir.
Além disso, há uma diminuição da atenção e da capacidade de se concentrar em tarefas — o que afeta o desempenho no trabalho, estudos e até em atividades domésticas simples.
Dificuldade em tomar decisões
A esquizofrenia também compromete a capacidade de tomada de decisões. A pessoa pode ficar confusa ou indecisa diante de escolhas cotidianas, como o que comprar no supermercado ou como planejar uma tarefa. Isso gera frustração e pode aumentar o isolamento social, já que a pessoa pode evitar situações em que precisa tomar decisões.
Diagnóstico de esquizofrenia
O diagnóstico da esquizofrenia é feito por um psiquiatra, que utiliza critérios específicos para identificar a doença. O diagnóstico inclui a avaliação clínica dos sintomas apresentados pelo paciente e o impacto desses sintomas na sua vida diária.
Segundo o psiquiatra Pérsio de Deus, os profissionais de saúde consideram diversos critérios, incluindo:
- Análise da predisposição genética;
- Sintomatologia apresentada;
- Exclusão de fatores causais;
- Eliminação de eventos traumáticos.
Como é feito o tratamento de esquizofrenia?
O tratamento envolve o uso de medicação antipsicótica para controlar os sintomas positivos, como delírios e alucinações. Além disso, a psicoterapia ajuda a pessoa a compreender o transtorno, desenvolver estratégias para lidar com os sintomas e melhorar suas relações interpessoais.
A reabilitação psicossocial também é uma parte importante do tratamento, pois ajuda a pessoa a retomar suas atividades diárias e sociais. Por fim, cuidados especializados incluem terapias cognitivo-comportamentais, treinamento em habilidades sociais, apoio em atividades do dia a dia e acompanhamento familiar.
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Consequências da falta de tratamento
Em casos graves, a doença pode progredir para um estado de demência, que no passado era conhecida como “demência precoce” na psiquiatria, de acordo com o psiquiatra Pérsio de Deus.
“Sem tratamento adequado, o prejuízo cognitivo incapacita de forma significativa os portadores da doença, que se tornam inadequados e ‘vivem’ uma realidade paralela ou não real. Portanto, não são produtivos e requerem cuidados constantes, tanto para a proteção de si próprios quanto dos outros”, explica o especialista.
Referências
Ministério da Saúde
Manual MSD | Versão Saúde para a Família