Epilepsia grave: estudo traz novas possibilidades para tratar a doença
Doença neurológica e ainda sem cura, a epilepsia afeta cerca de 50 milhões de pessoas no mundo, segundo dados da Organização Mundial da Saúde (OMS). De acordo com o Dr. Ricardo de Oliveira, neurocirurgião pediátrico, as crises epilépticas estão entre as doenças neurológicas graves mais frequentes, sobretudo na infância. “Existem vários tipos diferentes de crises. A epilepsia parcial benigna é a forma mais comum, geralmente acometendo crianças e adolescentes com idade entre 3 e 16 anos. Estes eventos predominam durante o sono”. Entretanto, pacientes com epilepsia grave chegam a ter entre 40 e 50 convulsões por dia, com perda de sentido e queda.
Causada pela displasia cortical, essa é considerada uma das complicações mais preocupantes da doença. Trata-se de uma malformação no cérebro que desencadeia sintomas mais intensos e que comprometem a qualidade de vida do indivíduo.
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Experimento traz boas notícias para o campo da epilepsia grave
Pesquisadores da Unicamp criaram modelos de organoides, órgãos desenvolvidos in vitro que simulam a morfologia e o funcionamento de parte do cérebro. Juntamente com um grupo da Universidade da Califórnia, em San Diego, os cientistas identificaram mecanismos que podem estar envolvidos no surgimento da anomalia ainda durante a formação do cérebro. Também conseguiram obter registros elétricos que se aproximam da descarga neuronal associada a crises epilépticas em humanos. Dessa forma, será possível trazer possibilidades para novas descobertas de terapias e medicamentos para o tratamento.
“Encontramos alteração molecular compatível com o que se espera em vias celulares relacionadas com desenvolvimento e maturação de neurônios. Sobretudo demonstramos que é viável gerar uma simulação elétrica próxima da descarga neuronal associada à epilepsia. Portanto obtivemos um modelo próximo do que vemos em pacientes, que poderá ser usado para triagem de medicações já existentes”, resume Iscia Lopes-Cendes, professora da Faculdade de Ciências Médicas da Unicamp e coautora do artigo publicado na revista Brain, da Oxford Academic.
Como a pesquisa foi feita e próximos passos
A princípio, os pesquisadores usaram células da pele de quatro pacientes que não responderam ao tratamento para epilepsia grave com medicação nem à cirurgia. Para capturar os registros elétricos, os cientistas usaram duas técnicas, sendo uma delas inovadora na área. Em resumo, eles colocaram o organoide em placa com eletrodos e introduziram o eletrodo dentro do organoide. Além disso, o grupo conseguiu trabalhar com organoides de três e cinco meses, algo difícil, pois eles tendem a morrer em pouco tempo por não terem sistema vascular.
Segundo Simoni Avansini, uma das pesquisadoras do time, o próximo passo é buscar entender mais a formação da epilepsia e colocar foco na região responsável pela proliferação celular, para entender o funcionamento dos circuitos. E, se houver alteração nessa etapa, como é possível interferir no sistema para levar a novos tratamentos.
Como ajudar alguém que esteja em crise epilética?
Confira abaixo dicas importantes para socorrer alguém que esteja em crise epilética, de acordo com o Dr. Ricardo Santos de Oliveira, neurocirurgião pediátrico:
- Proteja a cabeça da pessoa para evitar um traumatismo;
- Vire o rosto dela de lado para eliminar o acúmulo de saliva e impedir a asfixia com o próprio vômito;
- Não segure a língua do paciente, sob o risco de tomar uma mordida, também não coloque objetos na boca, como uma colher;
- Se a crise estiver durando mais de 5 minutos, chame imediatamente uma ambulância, o mesmo deve ser feito se a pessoa demorar a recobrar a consciência.
“O paciente com epilepsia pode ter uma vida normal, desde que sob tratamento médico controlado, podem e devem ser inseridos completamente na sociedade, ou seja, devem trabalhar, estudar, praticar esportes, se divertir”, comenta o especialista. Além disso, existem situações que a crise convulsiva podem estar associada a um tumor cerebral.
Dessa forma, o uso de tecnologias avançadas como a neuronavegação e a monitorização intraoperatória permitem cirurgias mais seguras. “Os remédios para epilepsia são controlados e o paciente deve sempre fazer acompanhamento médico para avaliar possíveis efeitos colaterais erroneamente atribuídos ao tratamento. A dose da medicação nunca deve ser alterada por conta própria”, completa.
Fonte: Agência FAPESP; e Dr. Ricardo de Oliveira, médico assistente da Divisão de Neurocirurgia do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto. Também é docente credenciado do Departamento de Cirurgia e Anatomia da pós-graduação e tem experiência com ênfase em Neurocirurgia Pediátrica e em Neurooncologia.