Doença falciforme carrega preconceito racial e desconhecimento
A doença falciforme – também conhecida como anemia falciforme – é uma condição genética causada por uma alteração no formato dos glóbulos vermelhos no sangue (hemácias). De acordo com o Ministério da Saúde, estima-se que o Brasil existam cerca de 60 mil pessoas com o problema.
Os portadores da DF possuem alteração em uma das cadeias da hemoglobina, pigmento responsável pela oxigenação dos tecidos. Assim, a hemoglobina perde sua forma natural, que é semelhante á um grão de feijão, e se torna mais alongada.
Dessa forma, a hemoglobina apresenta dificuldade em atravessar vasos sanguíneos mais estreitos e o resultado é o “entupimento” deles. Isso pode ocorrer em qualquer tecido e em qualquer órgão do corpo humano. “O paciente vai sofrendo pequenos infartos nos órgãos ao longo da vida e as crises de dor são imensas. Muitas vezes ele chega no pronto-socorro com dor intensa, em busca de analgésicos mais potentes. No entanto, é comum encontrar resistência da equipe em oferecer analgesia mais apropriada, como os opiáceos: morfina, metadona etc. Pois, geralmente, os pacientes procuram os mesmos serviços de saúde, mais próximos à sua residência, e devido à alta frequência das crises dolorosas são tidos como drogaditos”, explica Marimilia Pita, médica hematologista-pediátrica e fundadora da ONG Lua Vermelha.
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Preconceito contra a doença falciforme
Por ser de origem africana, doença falciforme é mais comum em pessoas pretas e pardas. E esse é um dos motivos por haver muito preconceito em torno da condição. Isso porque mesmo em um país miscigenado como o Brasil, é considerada “doença de pretos e pobres”. A doença é pouco conhecida entre a população geral e os profissionais da saúde.
“Quando falamos de diversidade, equidade e inclusão precisamos discutir também a Doença Falciforme. Vivemos em um país muito marcado pelo racismo estrutural e esse é um sério problema de saúde pública. Embora sua origem seja na África, a doença atinge muitas pessoas brancas. Quem tem melhores condições financeiras consegue um tratamento mais apropriado, nos moldes daqueles que são atendidos nas Universidades, o que não acontece com pessoas pretas e pobres dependentes de hospitais públicos, especialmente em regiões mais periféricas”, afirma a médica.
“É preciso melhorar a informação para a população geral sobre a doença, para que este paciente seja melhor acolhido socialmente em todos os níveis, trazendo maior aceitação e inclusão dos mesmos e consequente melhora da sua qualidade de vida“, comenta Marimilia Pita.
Segundo ela, o único tratamento que leva à cura da doença hoje é o transplante de medula óssea. Além disso, estudos de terapia celular estão sendo realizados em todo o mundo, inclusive no Brasil, sendo esta , a perspectiva futura para os doentes.
Fonte: Marimilia Pita, médica hematologista-pediátrica e fundadora da ONG Lua Vermelha.