Doença de Chagas: conheça as causas, sintomas e tratamentos
A doença de Chagas (ou Tripanossomíase americana) é a infecção causada pelo protozoário Trypanosoma cruzi. Atualmente, estima-se que existam aproximadamente 12 milhões de portadores da doença crônica nas Américas, sendo que cerca de 2 a 3 milhões estão no Brasil. A “Chagas”, como é popularmente chamada, pode levar a quadros agudos e graves e, nesta fase, o tratamento aumenta as chances de cura da doença.
Além disso, pode levar a quadros crônicos, com alteração do trato gastrointestinal e/ou ainda evoluir com comprometimento da função cardíaca, podendo inclusive levar a insuficiência cardíaca congestiva e óbito. Entenda melhor a doença.
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Quais são as causas da doença de chagas?
Desde o início de sua descoberta, a doença de Chagas esteve relacionada à fatores como pobreza, higiene precária e más condições de habitação. Isso porque casas de pau-a pique e paredes cheias de frestas, por exemplo, propiciam abrigo ao vetor domiciliado da doença, o Triatoma infestans. Além desses fatores, outros também contribuem para o surgimento da doença, como a imigração de pessoas da Bolívia, por exemplo, país com a maior incidência de doença de Chagas no mundo.
Segundo a Dra. Cinthya Mayumi Ozawa, infectologista, a doença de chagas é classificada como doença tropical negligenciada. Isso significa que ela faz parte de um grupo de doenças infecciosas, a maioria parasitárias, que afetam principalmente as populações mais pobres e com acesso limitado aos serviços de saúde, especialmente aqueles que vivem em áreas rurais remotas e em comunidades. Por isso, não há interesse econômico na produção de novos medicamentos, mais eficazes e seguros para tratamento da doença. Há, ainda, dificuldade em definir prioridades de gestão na implementação de medidas de prevenção.
Como ocorre a transmissão?
De acordo com a Fiocruz, a transmissão acontece pelas fezes do “barbeiro” depositadas sobre a pele da pessoa, enquanto o inseto suga o sangue. O responsável pela transmissão ganhou esse apelido por picar, preferencialmente, a face, área que geralmente fica exposta quando a pessoa está adormecida.
A picada provoca coceira, facilitando a entrada do tripanossomo no organismo, o que também pode ocorrer pela mucosa dos olhos, do nariz e da boca ou por feridas e cortes recentes na pele. Outros mecanismos de transmissão são a transfusão de sangue de doador portador da doença, a transmissão vertical via placenta (mãe para filho), a ingestão de carne contaminada ou acidentalmente em laboratórios.
Segundo dados do Centro de Vigilância Epidemiológica do Estado de São Paulo, entre os casos de doença de Chagas, na forma aguda, a forma predominante de transmissão é a vertical, no período de 2006 a 2022. Pode ainda ocorrer a transmissão de forma acidental, quando um profissional manipulando um material contaminado entra em contato com o parasita através de mucosas, perfuração com agulha ou soluções de continuidade da pele.
Quais são os sintomas?
Quando a transmissão é vetorial, a fase aguda é geralmente assintomática, dificultando o diagnóstico e o tratamento no momento ideal. Inclusive, cerca de 70% dos portadores permanece de duas a três décadas na chamada forma assintomática ou indeterminada da doença.
Já a transmissão oral pode ser responsável por quadros agudos e graves, podendo levar a óbito sem tratamento. O quadro caracteriza-se por febre persistente, dor de cabeça, fraqueza intensa, inchaço no rosto e pernas, manchas vermelhas na pele.
A fase crônica pode se manifestar com o comprometimento cardíaco. Assim, o paciente desenvolve aumento da área do coração, acarretando em arritmias que podem evoluir para insuficiência cardíaca congestiva (ICC) e até necessidade de transplante cardíaco. Em 10% dos casos, o paciente pode evoluir com aumento do esôfago e/ou cólon, megaesôfago e/ou megacólon, respectivamente. Assim, os sintomas são atribuídos pela alteração da funcionalidade dos órgãos, como disfagia, dificuldade para deglutir alimentos e/ou obstipação, ou seja, ficar semanas sem evacuar.
Como diagnosticar?
O diagnóstico da doença de chagas é realizado a partir da coleta de amostras de sangue, bem como a realização de testes parasitológicos e sorológicos simultaneamente. A suspeita baseia-se em achados clínicos e história epidemiológica. Como parte dos casos é assintomática (forma indeterminada), deve-se considerar os seguintes contextos de risco e vulnerabilidade:
- Ter residido ou residir em área com relato de presença de barbeiros ou reservatórios animais;
- Residir em habitação onde possa ter ocorrido o convívio com barbeiros, como casas de taipa, pau-a-pique;
- Residir ou ser procedente de área com registro de transmissão ativa de T. cruzi;
- ter realizado transfusão de sangue antes de 1992;
- Ter familiares que tenham diagnóstico de doença de Chagas.
Como é o tratamento da doença de Chagas?
De acordo com a infectologista, o tratamento da doença pode ser realizado com medicações como benznidazol ou nifurtimox, levando em conta a forma da doença e a faixa etária do indivíduo. Assim, é um tratamento prolongado (60 dias) e que provoca efeitos colaterais em grande parte dos pacientes, como dermatites, hepatite medicamentosa e neuropatia periférica. Além disso, o sucesso do tratamento é obtido na maior parte das vezes nos casos agudos.
Outros tratamentos são voltados para complicações da fase crônica da doença. Por outro lado, para as formas gastrintestinais, as medidas dietéticas e/ou cirúrgicas são indicadas. Ou, finalmente, quando o comprometimento é predominantemente cardíaco, medicações para controle de arritmias e que auxiliem no controle da insuficiência cardíaca são essenciais.
É possível prevenir?
Ainda não há vacina contra a doença de Chagas. Assim, a prevenção é possível ao evitar o contato com o barbeiro, mantendo ambientes limpos e sem entulhos e, evitando-se consumo de alimentos contaminados. Segundo a Fiocruz, cuidados com a conservação das casas, aplicação sistemática de inseticidas e utilização de telas em portas e janelas são algumas das medidas preventivas que devem ser adotadas, principalmente em ambientes rurais. Isso porque a melhor forma de prevenção é o combate ao inseto transmissor.
Além disso, de acordo com as boas práticas de higiene, a manipulação correta dos alimentos é essencial para redução dos riscos de doenças transmitidas pelos insetos.
Deve haver, ainda, cuidado com o local de procedência do alimento, bem como condições de higiene dos manipuladores, local de venda, conservação dos alimentos, entre outros. Por fim, a médica reforça também a importância de cozinhar bem os alimentos, especialmente as carnes.
Fonte: Dra. Cinthya Mayumi Ozawa, infectologista pelo Grupo São Cristóvão Saúde.
Referências: Fiocruz