Dipirona faz mal? Por que ela é proibida nos EUA?
A dipirona, indicada para aliviar febre e dor, é um dos medicamentos mais vendidos no Brasil: de acordo com a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), até 250 milhões de doses foram comercializadas no país apenas em 2022. Contudo, nem todo mundo sabe que o remédio é proibido em países como Estados Unidos e parte da Europa, o que gera a dúvida: dipirona faz mal? Vamos entender melhor:
Por trás do fármaco
A dipirona foi criada em 1920 pela farmacêutica alemã Hoechst AG. Pouco tempo depois, já estava disponível em farmácias do Brasil.
Aqui, ela é conhecida por diferentes nomes comerciais e integra a composição dos mais variados medicamentos. Eles não precisam de receita médica, podendo ser comprados livremente pelos consumidores.
Indica-se a utilização da dipirona para o alívio de dores e/ou febre.
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Dipirona faz mal? Por que ela é proibida em alguns lugares?
A controvérsia por trás do uso do fármaco diz respeito a evidências científicas que apontam uma possível relação entre a substância e o aparecimento de agranulocitose – alteração no sangue causada pela queda na quantidade de alguns tipos de células de defesa.
O primeiro estudo acerca do assunto foi feito em 1964, e estimou que a condição sanguínea poderia ocorrer em um indivíduo para cada 127. Nessa investigação, os pesquisadores utilizaram como base a aminopirina, substância bastante parecida com a dipirona, e assumiram que os riscos seriam os mesmos para os dois compostos.
Assim, o medicamento foi retirado do mercado estadunidense em 1977 pela Food and Drug Administration (FDA, espécie de Anvisa americana). Em seguida, outros países tomaram a mesma decisão, como Japão, Austrália, Reino Unido e parte da União Europeia.
Poréns
Contudo, com o tempo mais pesquisas foram surgindo e indicando que os casos de agranulocitose por utilização de dipirona podem não ser tão comuns assim em outras localidades. Veja algumas:
- Estudo Boston: realizado em oito países com dados de 22,2 milhões de pessoas. Apontou uma incidência de 1,1 caso de agranulocitose para cada um milhão de pessoas que tomaram o medicamento;
- Outro estudo de Israel com quase 400 mil indivíduos hospitalizados calculou um risco de 0,0007% de desenvolver a doença e de 0,0002% de morrer por conta dela;
- Na Suécia, foram identificados 14 casos, sendo aproximadamente 1 caso para cada 1439 pacientes que ingeriram a dipirona. O país chegou a liberar a venda do fármaco em 1990, mas voltou atrás em 1999.
No caso da América Latina, houve uma grande análise entre 2002 e 2005. Conhecido como Latin Study, o artigo envolveu cientistas do Brasil, da Argentina e do México, e utilizou dados de cerca de 548 milhões de pessoas.
Como conclusão, descobriu-se 52 casos de agranulocitose – 0,38 caso por milhão de habitantes/ano.
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Dipirona faz mal? Como usar corretamente
A própria Anvisa já realizou um evento que levou o nome de “Painel Internacional de Avaliação de Segurança da Dipirona”. Em uma nota ao site BBC News Brasil, o órgão afirmou que “conforme o relatório final, as conclusões do referido painel foram que há consenso de que a eficácia da dipirona como analgésico e antitérmico é inquestionável e que os riscos atribuídos à sua utilização em nossa população são baixos e similares, ou menores, que o de outros analgésicos/antitérmicos disponíveis no mercado”, complementa o texto.
Isso porque acredita-se que a agranulocitose é facilitada por uma mutação genética pouco comum na América do Sul, sendo mais frequente em populações dos EUA e de países da Europa. Além disso, o risco parece ser influenciado por dosagens altas e uso prolongado.
De qualquer modo, mesmo que um medicamento não necessite de receita médica para ser comercializado, ainda é muito importante consultar um médico antes de consumi-lo – e respeitar as recomendações contidas na bula, é claro.
Aqui no Brasil, por exemplo, a dipirona é indicada para adultos e adolescentes acima dos 15 anos de idade – entre um a dois comprimidos de 500mg até quatro vezes por dia, sem ultrapassar 4000mg diárias.
Crianças menores de três meses e com menos de cinco quilos não devem tomar o medicamento. E aquelas com menos de 15 anos não podem utilizar os comprimidos – sendo indicados xaropes, gotas, supositórios e injeções, sempre com orientação e acompanhamento médico.
Por fim, pacientes com problemas nos rins ou fígado também devem consultar um profissional.