Diabetes distress: impacto emocional de conviver com diabetes
É sabido que o diabetes tipo 2 exige empenho e dedicação da pessoa com a condição para que o tratamento mostre resultados satisfatórios. Muitas pessoas com diabetes tipo 2 experimentam o que é conhecido como diabetes distress, uma condição que envolve estresse emocional relacionado ao gerenciamento diário da doença. É importante conhecermos seu conceito, sua diferença em relação ao estresse comum e seu impacto no tratamento do diabetes tipo 2 para podermos superar as dificuldades que ele pode trazer.
O Que é diabetes distress
O diabetes distress é uma forma de estresse emocional específico para pessoas com diabetes tipo 2. Diferente do estresse comum, ele está intimamente relacionado às demandas diárias do tratamento da doença, como monitoramento constante da glicemia, adesão a uma dieta adequada, prática regular de exercícios, uso de medicamentos e gerenciamento de complicações. Apesar das consequências emocionais desse estresse crônico, podendo levar a sentimentos de frustração, tristeza, ansiedade, medo e até mesmo depressão, ele não é considerado um quadro psicopatológico. Simplesmente, diz respeito à difícil convivência com uma condição crônica como o diabetes.
Diabetes distress e o impacto no tratamento
O diabetes distress pode ter um impacto significativo no tratamento do diabetes tipo 2. Quando alguém está sofrendo com essa condição, pode ser mais difícil manter o controle glicêmico adequado, aderir a um estilo de vida saudável e seguir corretamente o plano de tratamento prescrito. Além disso, o diabetes distress também pode afetar negativamente a qualidade de vida, os relacionamentos interpessoais e a saúde emocional como um todo.
Estudos sugerem que o diabetes distress é bastante comum em pessoas com diabetes tipo 2. Cerca de 30% a 40% dos indivíduos diagnosticados com essa condição experienciam algum nível de diabetes distress ao longo de suas vidas. Além disso, há também um fenômeno chamado de diabetes burnout, caracterizado por uma exaustão emocional relacionada ao gerenciamento contínuo da doença, que afeta aproximadamente 20% das pessoas com diabetes tipo 2.
Sinais e sintomas de diabetes distress que merecem atenção
- Sentimento de sobrecarga ou desamparo em relação ao tratamento do diabetes;
- Preocupação excessiva com as complicações da doença;
- Alterações no sono;
- Mudanças de apetite;
- Dificuldade em manter a motivação para seguir o plano de tratamento;
- Sentimentos de culpa em relação a escolhas alimentares ou níveis de glicemia.
Intervenções comprovadas para o manejo eficaz do diabetes distress: Felizmente, existem estratégias eficazes para avaliar e lidar com o diabetes distress em pessoas com diabetes tipo 2. É importante que os profissionais de saúde estejam atentos a esse aspecto emocional e possam oferecer suporte adequado.
Intervenções comprovadas
Educação sobre o Diabetes
A educação sobre o diabetes é uma estratégia fundamental no manejo do diabetes distress. Por meio dela, as pessoas com diabetes tipo 2 podem compreender melhor como a doença afeta o corpo, quais são os principais cuidados necessários e como tomar decisões informadas sobre seu próprio tratamento. Ao obter um conhecimento mais profundo sobre o diabetes, os indivíduos se sentem mais capacitados e no controle da doença, o que ajuda a reduzir a ansiedade e o estresse relacionados ao seu gerenciamento diário.
“Compreendi melhor como o diabetes afeta meu corpo e isso me ajudou a sentir mais controle sobre a doença, diminuindo minha ansiedade diária.” (M.A.S., 58 anos)
Treinamento em habilidades de autogerenciamento
O treinamento em habilidades de autogerenciamento é uma estratégia prática que capacita as pessoas com diabetes tipo 2 a lidarem com as demandas diárias da doença. Isso envolve aprender técnicas de monitoramento da glicemia, administrar a medicação adequadamente, adotar uma dieta saudável, praticar exercícios físicos regularmente e reconhecer os sinais de alerta de complicações. Ao adquirir essas habilidades, os indivíduos se sentem mais confiantes em sua capacidade de controlar sua saúde e isso contribui para reduzir o estresse emocional.
“No fundo, eu não queria admitir que eu não sabia o que fazer com tanta informação. Aprendi técnicas para monitorar minha glicemia e administrar a medicação de forma mais eficaz e agora posso dizer que me sinto mais confiante no controle da minha saúde.” (B.M., 43 anos)
Suporte social
O suporte social desempenha um papel crucial no manejo do diabetes distress. Participar de grupos de apoio, seja presencialmente ou online, oferece a oportunidade de compartilhar experiências com outras pessoas que enfrentam desafios semelhantes. O compartilhamento de histórias, conselhos e estratégias ajuda a diminuir o sentimento de isolamento e oferece um senso de comunidade e compreensão. Além disso, o suporte social pode incluir o envolvimento da família, amigos e entes queridos, que podem oferecer apoio emocional e prático no dia a dia.
“Algumas pessoas dizem que eu tenho que simplesmente ir lá e fazer sem entender o fardo dessas obrigações diárias. Ao poder dividir isso com o grupo de apoio com outras pessoas com diabetes pude perceber que não estou sozinho e não sou o único a pensar dessa forma. Compartilhar experiências e conselhos tem sido extremamente reconfortante. Tem me oferecido uma luz no fim do túnel.” (M.H.Z., 61 anos)
Psicoterapia
Abordagens psicoterapêuticas que ajudem as pessoas a identificarem e desafiar pensamentos negativos e crenças limitantes relacionadas ao diabetes são importantes ferramentas pela diminuir o diabetes distress. O objetivo é desenvolver habilidades de enfrentamento saudáveis, melhorar a autoestima e promover uma perspectiva mais positiva em relação ao controle da doença.
“Eu tinha muito preconceito de falar com uma psicóloga sobre isso que passava no meu tratamento. Achei que nunca me entenderiam, achariam que era frescura, mas mudei de ideia. Através da terapia, aprendi a lidar com meus medos e preocupações relacionados ao diabetes. Agora consigo enfrentar os desafios de forma mais positiva e resiliente.” (P.A.J., 33 anos)
O diabetes distress é uma condição emocional comum em pessoas com diabetes tipo 2, mas é importante reconhecê-la e buscar estratégias eficazes para lidar com ela. Com intervenções apropriadas, é possível reduzir o estresse emocional e melhorar o manejo do diabetes, resultando em uma melhor qualidade de vida.
Lembre-se de sempre contar com o apoio de profissionais de saúde e de buscar suporte emocional quando necessário. Você não está sozinho nessa jornada.
Referências:
- Fisher, L., Hessler, D. M., Polonsky, W. H., & Mullan, J. (2012). When is diabetes distress clinically meaningful?: Establishing cut points for the Diabetes Distress Scale. Diabetes Care, 35(2), 259-264.
- Polonsky, W. H., Fisher, L., Earles, J., Dudl, R. J., Lees, J., Mullan, J., & Jackson, R. A. (2005). Assessing psychosocial distress in diabetes: Development of the Diabetes Distress Scale. Diabetes Care, 28(3), 626-631.
- Gonzalez, J. S., Shreck, E., Psaros, C., & Safren, S. A. (2015). Distress and Type 2 Diabetes-Treatment Efficacy: A Systematic Review and Meta-analysis. Current Diabetes Reports, 15(10), 1-12.
- Snoek, F. J., Bremmer, M. A., Hermanns, N., & Constructs, E. C. O. S. T. I. C. (2015). Constructs of depression and distress in diabetes: Time for an appraisal. The Lancet Diabetes & Endocrinology, 3(6), 450-460.