Pessoas que já tiveram dengue têm mais chance de contrair a forma sintomática da Covid-19
Um estudo divulgado no começo de maio apontou relações entre as doenças dengue e coronavírus. De acordo com a pesquisa publicada na revista Clinical Infectious Diseases, quem já teve dengue tem duas vezes mais chance de desenvolver sintomas da Covid-19 caso seja infectado pelo novo coronavírus.
Dengue e coronavírus: como funcionou a análise
Foram coletadas 1.285 amostras de sangue de moradores da cidade de Mâncio Lima, no Acre. Em dois momentos: novembro de 2019 e novembro de 2020. O trabalho foi coordenado pelo professor da Universidade de São Paulo (USP) Marcelo Urbano Ferreira e contou com apoio da FAPESP.
“Em setembro do ano passado foi divulgado um estudo de outro grupo sugerindo que as áreas que registravam muitos casos de dengue eram relativamente pouco afetadas pela COVID-19. Como nós tínhamos amostras de sangue da população de Mâncio Lima coletadas antes e após a primeira onda da pandemia, decidimos usar o material para testar a hipótese de que a infecção prévia pelo vírus da dengue conferia algum tipo de proteção contra o SARS-CoV-2. Mas o que vimos foi exatamente o oposto”, explica Marcelo Urbano Ferreira.
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Resultados
Os resultados mostraram que 37% da população avaliada já havia contraído dengue até novembro de 2019. Além disso, 35% haviam sido infectados pelo novo coronavírus até novembro de 2020.
“Por meio de análises estatísticas, concluímos que a infecção prévia pelo vírus da dengue não altera o risco de um indivíduo ser contaminado pelo SARS-CoV-2. Por outro lado, ficou claro que quem teve dengue no passado apresentou mais chance de ter sintomas uma vez infectado pelo novo coronavírus”, explica Vanessa Nicolete, pós-doutoranda no ICB-USP e primeira autora do artigo.
Conclusões
Os pesquisadores não sabem explicar ainda por que isso acontece. É possível, por exemplo, que exista uma base biológica – os anticorpos contra o vírus da dengue estariam favorecendo o agravamento da COVID-19. Ou então seja simplesmente uma questão sociodemográfica, relacionada com a existência de populações mais vulneráveis.
Contudo, uma coisa ainda é certa: é preciso se proteger. “Os resultados evidenciam a importância de reforçar tanto as medidas de distanciamento social voltadas a conter a disseminação do SARS-CoV-2 como os esforços para controle do vetor da dengue, pois há duas epidemias ocorrendo ao mesmo tempo e afetando a mesma população vulnerável. Isso deveria ganhar mais atenção por parte do governo federal”, finaliza o professor.
Fonte: Agência FAPESP