“É impossível ser feliz sozinho”: cultivar relacionamentos está entre os segredos para viver mais
Viver mais e melhor. Afinal, quem não quer? Mas alcançar a longevidade está longe de ser um acontecimento raro. De acordo com um estudo publicado no International Journal of Environmental Research and Public Health, a maneira como vivemos é responsável por 80% das nossas chances de alcançar a longevidade. Já o perfil genético entra na conta com apenas 20%.
Ou seja, boa parte das chances está em nossas mãos. A fórmula para viver mais não é complexa, mas pode envolver fatores não óbvios como cultivar relacionamentos.
“É impossível ser feliz sozinho”
Indo na direção contrária da longevidade, um estudo realizado pelo Instituto Gallup e a Meta — dona de WhatsApp, Facebook e Instagram –, revelou que quase ¼ das pessoas em todo o mundo se sentem sozinhas. A pesquisa, que consultou 142 países, revelou que 24% da população se declara muito ou razoavelmente sozinho.
O conceito de solidão é definido como um sentimento negativo e doloroso ou como a experiência emocional aversiva, individual e privada de que as relações sociais disponíveis são insuficientes para satisfazer as necessidades ou para proporcionar o grau de intimidade emocional desejada pelo indivíduo.
E para a ciência, a falta de conexões pode sim diminuir as chances de viver mais. Isso porque sentir-se sozinho e sem ter com quem contar pode ter um impacto negativo na qualidade de vida do indivíduo. A solidão pode levar ao isolamento social, aumentar o risco de problemas de saúde mental, como ansiedade e depressão, e até mesmo afetar a saúde física, expandindo o risco de doenças cardiovasculares, hipertensão, diabetes e infecções.
Além disso, a depressão (em consequência da solidão) pode levar à perda de autonomia e agravamento de comorbidades, especialmente na fase idosa.
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Solidão na terceira idade é ainda mais perigosa
Um estudo da ELSI Brasil (estudo longitudinal da saúde dos idosos brasileiros) publicado em 2023 revela que o sentimento de solidão intensa é mais frequente entre idosos de 80 anos ou mais, quando comparados aos idosos mais jovens.
Os resultados da análise também comprovaram que a solidão nessa fase está frequentemente ligada à perda de relações sociais resultante de condições e eventos adversos da vida, de ocorrência comum nessa faixa etária, tais como morte de cônjuge, parentes e amigos e problemas de saúde física e mental que limitam a mobilidade.
Dessa forma, idosos teria mais dificuldade em alcançar de forma satisfatória suas expectativas em relação às suas relações interpessoais e em compensar o sentimento de solidão por apresentar mais limitações físicas e por vivenciar mais perdas sociais que os adultos mais jovens, dificultando seu engajamento em novas atividades e a construção de novas relações.
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Desafios para cultivar relacionamentos
“Viver em comunidade e manter laços familiares e de amizade desempenham um papel fundamental na longevidade. Mas a verdade é que pode ser difícil manter esses laços ao longo da vida devido a diversos fatores, como a correria do dia a dia, o trabalho e as prioridades pessoais e o egoísmo que cada vez mais tem se manifestado nas pessoas”, diz a psicóloga Rosângela Casseano.
Ela explica que os avanços tecnológicos também têm peso na conta da solidão, o que somado ao egoísmo, favorece uma vida mais fechada e restrita. Na prática, isso significa que as pessoas levam a dedicar mais tempo às suas próprias responsabilidades profissionais e pessoais, deixando pouco tempo e energia para investir em relacionamentos significativos.
A distância geográfica, a falta de tempo livre e as diferenças de interesses e estilos de vida também podem contribuir para o afastamento das pessoas.
Propósito, pertencimento e afeto
Ainda com todos os desafios para cultivar relacionamentos, faz parte da natureza humana o desejo de viver em comunidade e está entre os pilares da longevidade porque os relacionamentos sociais têm um impacto positivo na saúde física e mental.
Ter uma rede de apoio social fortalecida pode reduzir o estresse, promover o bem-estar emocional e até mesmo aumentar a expectativa de vida. Assim, a conexão com os outros nos proporciona suporte emocional, senso de pertencimento e um propósito de vida.
Dicas para cultivar relacionamentos
A seguir, confira as dicas da psicóloga de como manter uma vida mais sociável, mesmo em cenários difíceis:
- Priorize: Reserve tempo regularmente para se conectar com sua família e amigos. Faça disso uma prioridade em sua vida. Mesmo com preguiça, dê essa chance para você e para os seus.
- Mantenha o contato: Utilize a tecnologia para manter contato com pessoas queridas, mesmo à distância. Ligar, enviar mensagens ou fazer videochamadas podem ajudar a reduzir a sensação de distanciamento.
- Participe de grupos ou atividades: Engaje-se em atividades ou grupos com interesses semelhantes aos seus. Isso pode facilitar a formação de novos relacionamentos e aumentar as oportunidades de interação social, como academias, grupos religiosos, atividade física ao ar livre, clubes entre outros.
- Esteja aberto a novas amizades: Esteja disposto a conhecer novas pessoas e fazer novas amizades, independentemente da faixa etária. A diversidade de relacionamentos pode enriquecer sua vida social.
- Seja um bom ouvinte: Demonstre interesse genuíno pelas outras pessoas e esteja presente nas conversas. Ouça atentamente e mostre empatia.
- Organize encontros: Planeje encontros sociais como almoços, jantares ou atividades em grupo. Isso ajuda a fortalecer os laços e criar momentos de interação. Não espere ser convidado.
- Busque apoio profissional: Se sentir dificuldades em estabelecer ou manter relacionamentos significativos, considere buscar apoio de um profissional, como um terapeuta, que pode ajudar a desenvolver habilidades sociais e lidar com as dificuldades pessoais.
Por fim, a faixa etária não deve ser um obstáculo para cultivar relacionamentos.
“Independentemente da idade, é possível estabelecer e fortalecer conexões significativas com família e amigos. A chave está em dedicar tempo e esforço para nutrir esses relacionamentos e encontrar maneiras de se envolver socialmente, de acordo com as capacidades e interesses de cada um”, finaliza a psicóloga.
Fonte:
- Rosângela Casseano, Psicóloga, Terapeuta Cognitivo Comportamental, CEO da PsicoPass.
Referência:
Solidão e sua associação com indicadores sociodemográficos e de saúde em adultos e idosos brasileiros: ELSI-Brasil