Crianças na internet: como equilibrar o uso do celular e protegê-las
Principalmente após a pandemia, as crianças na internet têm sido algo comum, elas estão utilizando cada vez mais dispositivos móveis para navegar nas redes sociais. Por isso, é importante que os pais estejam atentos e estabeleçam um limite para evitar conteúdos impróprios e não atrapalhar os estudos ou qualquer interação social com a família ou amigos.
Uma pesquisa da TIC Kids Online Brasil, feita em 2018, mostrou que 11% dos participantes tiveram o primeiro contato com as redes até os 6 anos de idade. Ou seja, crianças e adolescentes usam eletrônicos antes mesmo da alfabetização.
O estudo também revelou que crianças e adolescentes de 9 a 17 anos preferem usar o celular. Cerca de 44% utilizam apenas este aparelho móvel para acessar a internet, por outro lado, 49% intercalam entre o celular e o computador.
Com base nos resultados trazidos pela revista Forbes, um levantamento feito pela agência Mobile, focada em análise de mercado, no segundo trimestre de 2021, o Brasil é o país com maior média de tempo gasto em aplicativos no ano. A média dos brasileiros é de 5,4 horas por dia. Entre os aplicativos mais baixados, estão TikTok, em primeiro lugar, seguido pelo YouTube e Facebook em terceiro lugar. Para os adolescentes, o uso desregulado apresenta uma curva ascendente, propulsionada pelo momento pandêmico atual.
Dessa forma, a Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) recomenda o uso de telas de acordo com cada idade. Confira:
- Até dois anos: sem contato com telas (e isso inclui a televisão), ou o mínimo possível;
- Dois a cinco anos: no máximo 1 hora por dia;
- Seis a 10 anos: 2 horas por dia;
- 11 a 18 anos: entre 2 a 3 horas diárias.
Como a internet afeta a saúde mental crianças
De acordo com Deise Moraes Saluti, psicóloga, neuropsicopedagoga, palestrante e escritora, a internet não é 100% negativa ou positiva, mas os conteúdos acessados podem contribuir para uma alteração de comportamento.
“Por isso, é sempre importante os pais participarem e conhecerem os conteúdos que seus filhos buscam. Além de interagir, perguntar o que chama a atenção dele durante o uso do aplicativo ou do jogo, quais atividades eles fazem durante o acesso, quem está participando junto e descobrir se não representa perigo, constrangimentos ou incentivo à violência”, explica a especialista.
Assim, a internet pode afetar negativamente a saúde mental de crianças e adolescentes. “Devido à natureza impulsiva, os adolescentes correm o risco de compartilhar fotos íntimas ou histórias altamente pessoais. Isso pode resultar em adolescentes sendo intimidados, assediados ou mesmo chantageados”, explica Rosângela Sampaio, psicóloga. “Os adolescentes geralmente criam postagens sem considerar as consequências ou sem se preocupar com a privacidade”, afirma Deise.
Segundo a psicóloga Dra. Carla Guth, navegar na internet não significa que o adolescente sofra de alguma patologia. Mas quando o uso é excessivo e desregulado, aliado a outros fatores comportamentais, podem surgir alguma alteração de comportamento.
Leia também: Como a internet afeta a saúde mental de crianças e adolescentes
Além disso, qualquer rede social pública abre caminhos para comentários ofensivos, contribuindo para o cyberbullying.
As telas também prejudicam a saúde física
Pelo fato de as crianças passarem a maior parte do tempo na internet, elas deixam de realizar outras atividades, como praticar exercícios físicos. Consequentemente, isso contribui para o sedentarismo, uma das maiores preocupações para a saúde infantil.
Assim, passar muitas horas em frente a um computador também pode trazer dores nas costas pela postura inadequada. A visão não fica de fora: podem surgir dores de cabeça pela luz constante.
“Associa-se ao uso desregulado das mídias interativas a exposição às telas, um conjunto de comprometimentos físicos, como insônia, desnutrição. obesidade, falta de atividades físicas/sedentarismo, fadiga visual, transtornos por lesão repetitiva, síndrome do túnel do carpo e dores nas costas”, ressalta Dra. Carla Guth.
Leia também: Luz azul do celular pode danificar a pele. Saiba como reverter
Os pais também devem ter cuidado com a exposição dos filhos
A exposição exagerada não é saudável para ninguém, principalmente para as crianças. Afinal, dependendo da postagem pode existir um constrangimento que para essa criança, diante de alguns amigos, pode ser frustrante.
“Mesmo que apresentando conhecimento das funções de smartphones e aplicativos, as crianças e os adolescentes costumam desconhecer os perigos e confiarem em todas as pessoas com quem mantém contato por meio da internet. Não compreendem que os dados são cruzados e que isso pode gerar algum dano. Ambientes como Facebook, Instagram e Whatsapp têm regras claras, com indicação de faixa etária para maiores de 13 anos. Mas as crianças e adolescentes estão lá, abreviando o tempo da lei”, afirma Dra. Carla Guth.
Além disso, Carla ressalta que os pais devem evitar postar foto de suas crianças com uniforme escolar. “É sempre bom lembrar que os usuários do internet cruzam dados e observam hábitos e tendências dos usuários para praticar algum crime.”
“É importante mostrar que está postando uma foto, marcando em uma postagem, resumindo, solicitando uma permissão do pequeno, que irá se sentir bem mais seguro sabendo que seus pais não postariam nada que ele não aprovasse. Criando esse laço de confiança, o retorno é recíproco da criança para seus pais também, que irá cada vez mais aproximar seus pais de tudo que costuma postar nas redes sociais”, afirma Deise.
Dicas de como proteger as crianças na internet
- Estabeleça um local para monitorar o que seus filhos acessam: uma dica é controlar o tempo de permanência nos jogos em, no máximo, de 2 a 3 horas diárias.
- Exigir dos filhos um retorno: pergunte sempre ao final do dia quais atividades foram feitas no computador e faça questão de mostrar que estão sob suas monitorias 24 horas por dia.
- Fique ao lado do seu filho durante um jogo: conheça um pouco do jogo, descubra porque ele demonstra tanto interesse por tal jogo e incentive-o a se divertir sem perder a responsabilidade. Feito isso, permita-o viver algumas experiências com novos amiguinhos, aprender novas tecnologias e não se tornar uma criança sem conhecimentos virtuais, que podem representar positivamente sua adolescência ou fase adulta.
- Exija um cuidado com a saúde e alimentação: lembre a criança de fazer pausas e separe um momento do dia para ela realizar atividades físicas.
- Seja amigo do seu filho: afirme para a criança que se caso algo acontecer, você estará lá para acolhê-lo sem julgamentos ou preconceitos. Somente dessa maneira você estará lado a lado e sabendo tudo o que seu filho pratica na no computador durante sua ausência.
Por fim, a psicóloga Deise ressalta que monitorar os acessos e controlar os conteúdos das crianças na internet pode evitar ações de pessoas má intencionadas, atitudes de invasão de privacidade ou intimidade e até mesmo o contato com questões impróprias.
Fonte: Deise Moraes Saluti, psicóloga, neuropsicopedagoga, palestrante e escritora;
Dra. Carla Guth, Graduada em Psicologia pela Universidade Paulista – UNIP. Pós graduação em Psicopedagogia, 2012 e Especialização em Família e Construcionismo.