Bipolaridade no seio familiar: como agir?

Bem-estar Equilíbrio
10 de Janeiro, 2023
Bipolaridade no seio familiar: como agir?

Quem tem transtorno afetivo bipolar sofre com oscilações de humor. Em um dia, o indivíduo pode estar deprimido e recluso. No outro, estar extremamente animado ou até agressivo. Vários são os sinais da doença crônica, mas como descobrir se alguma das pessoas que convivem no mesmo seio familiar pode ter bipolaridade?

Fato é que conviver com o transtorno bipolar muitas vezes torna difícil manter relações familiares e conjugais. Educação, comunicação e conhecimento são fundamentais para reconstruir os seus relacionamentos e afastar o preconceito e estigma sobre a doença. Veja o que dizem especialistas no assunto.

Como saber se alguém da minha família tem transtorno bipolar?

É muito comum as pessoas ouvirem a frase “ela(e) é bipolar”. No entanto, o comportamento de mudar de ideia constantemente não caracteriza o transtorno bipolar. De acordo com a Dra. Alexandria Meleiros, psiquiatra, a primeira diferença se dá em relação ao tempo de duração dos sintomas, que pode durar semanas ou até meses.

As causas ainda não estão claramente identificadas. “O transtorno bipolar tem fundo genético, mas a hereditariedade é responsável apenas por ⅓ da doença. O restante vai depender do ambiente, dos estímulos, enfim, várias situações podem desencadear o TB”, explica a psiquiatra.

O impacto do diagnóstico é muito forte tanto para o portador quanto para os familiares. Primeiramente, é difícil lidar com a situação, incluindo as crises, o tratamento que não pode ser interrompido e que leva um tempo para se obter o resultado almejado. Mas a compreensão da família sobre as manifestações da doença são essenciais para manter o equilíbrio das relações.

Sinais de transtorno bipolar na família

O primeiro sinal é a mudança de comportamento. “Ela passa a ficar diferente do habitual. A mudança de comportamento é o que chama atenção da família. A gente tem que ver se a mudança não é causada pelo uso de substâncias, como drogas ou álcool, se não há alteração de sono, no apetite e verificar como ela tá no dia a dia”, explica a médica psiquiatra.

Dessa forma, a melhor saída é conversar sem censura ou dando “sermões”. E, ao perceber, levar o familiar para um psicólogo ou psiquiatra para iniciar o diagnóstico e tratamento do transtorno bipolar.

Leia também: Transtorno bipolar: como lidar com os altos e baixos da condição?

Transtorno bipolar em crianças

De acordo com a psiquiatra, não é incomum casos de bipolaridade em crianças. “As crianças têm sido vítimas de quadros depressivos, por isso temos que ficar alertas e observar seus comportamentos. Muitas vezes, começa com quadros de depressão, ou seja, ela chora mais, é muito precoce, agressiva, elétrica, exaltada, mais reclusa, com baixa estima”, explica a médica.

Outro alerta no caso das crianças é quando há algum caso de bipolaridade na família. Nesse caso, sugere a médica, é importante que a criança passe por um pediatra, que irá encaminhar para um psiquiatra.

A importância do apoio familiar

Conforme mencionado, é muito importante que a família observe os sinais que podem indicar o transtorno bipolar, além de acompanhar o tratamento, caso esse seja, de fato, o diagnóstico.

“A família deve estimular a prática de atividades físicas, dormir bem, se alimentar bem e não se fechar diante da doença. Muitas vezes, a família é a primeira a observar que a pessoa está mudando. É importante dar o alerta antes que se agrave, para receber orientações do médico e minimizar a fase depressiva ou de euforia e não trazer sofrimento para ela mesma e para os próprios familiares”, aponta a psiquiatra

A Dra. Danielle H. Admoni, psiquiatra, reforça a importância fundamental da família no apoio da doença. “Aquelas que percebem que um familiar está em crise, podem levá-lo para fazer um acompanhamento. Dessa forma, tem uma evolução muito melhor. A gente chama de uma boa continência familiar. Por outro lado, as famílias que não percebem ou não levam, a pessoa entra em mania e para de tomar a medicação. A família acha que está tudo bem, daí a gente vê uma evolução muito ruim. A família tem um papel importantíssimo em todas as doenças, principalmente nos transtornos bipolar”, completa.

Por fim, embora a bipolaridade não tenha cura, apenas controle, com o uso das medicações necessárias, psicoterapia, e claro, apoio dos familiares, é possível ter uma vida normal.

Leia também: Cuidados com a saúde e a importância do lazer em pessoas com transtorno bipolar

Recomendações para os familiares

Confira algumas recomendações da ABRATA:

  • Apoie o paciente em momentos difíceis;
  • Embora o relacionamento com o paciente em euforia possa ser desgastante, seja firme e tenha paciência;
  • Detecte com o paciente os primeiros sinais de uma recaída; se ele considerar como intromissão, afirme que seu papel é auxiliá-lo;
  • Fale com o médico em caso de suspeita de ideias de suicídio e desesperança;
  • Estabeleça regras de proteção durante fases de normalidade do humor, como retenção de cheques e cartões de crédito em fase de mania;
  • Auxilie a manter boa higiene do sono e programe atividades antecipadamente;
  • Não exija demais do paciente e não o superproteja; auxilie-o a fazer algumas atividades, quando necessário;
  • Evite demonstrar sinais de preconceito que favoreçam ao abandono do tratamento;
  • Aproveite períodos de equilíbrio para diferenciar depressão e euforia de sentimentos normais de tristeza e alegria;
  • Caso algum familiar não aceite participar de grupos de apoio, alguém da família pode participar. Muitas vezes, o familiar com TB é estimulado a seguir o exemplo e pode começar a frequentar.

Fontes: Dra Alexandrina Meleiros – Médica Psiquiatra e do time da Abrata (Associação Brasileira de Familiares, Amigos e Portadores de Transtornos Afetivos) e Dra. Danielle H. Admoni, psiquiatra geral, da Infância e Adolescência, preceptora na residência da Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP/EPM) e especialista pela ABP (Associação Brasileira de Psiquiatria).

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