BBB 23: Por que sentimos interesse pela vida alheia?

Bem-estar Equilíbrio
16 de Janeiro, 2023
BBB 23: Por que sentimos interesse pela vida alheia?

Quando o assunto é reality shows, o Big Brother Brasil (BBB) é o mais comentado. De acordo com a revista Veja, em 2021, cerca de 40 milhões de pessoas assistiram ao programa diariamente. 

Hoje começa o BBB 23 e, com ele, o interesse de milhões de pessoas em acompanhar a rotina de desconhecidos. Mas você já parou para se perguntar por que existe um interesse tão grande pela vida alheia? 

De acordo com Livia Ciacci, neurocientista do SUPERA – Ginástica para o Cérebro, a ideia de acompanhar a vida de outras pessoas vai além da mera curiosidade.  

“Desde que em doses moderadas, ciúme, interesse pela vida alheia, inveja e satisfação com o azar do outro, não precisam ser vistos como problemas a serem reprimidos a todo custo. Pois esses sentimentos fazem parte de um grande quebra cabeça social que nos ajudou como espécie, e ainda ajuda em certo grau. Por exemplo, a inveja de uma conquista alheia pode servir de motivador para um esforço maior na minha vida”, disse.

O que está por trás deste interesse?

A neurocientista do SUPERA – Ginástica para o Cérebro, Livia Ciacci, explica que o interesse pela vida de alguém começa ainda quando somos bebês e todos nossos comportamentos são moldados desde a infância com base nos resultados que eles geram socialmente.

“O cérebro humano possui uma estrutura preparada para observar os outros e interagir com eles, seja para gerar alianças ou competir. No córtex pré-frontal ventromedial está uma parte da regulação dos comportamentos sociais e manutenção de vínculos. Já no córtex somatossensorial direito está a base de sentimentos sociais, como a empatia e a capacidade de prever sentimentos por trás de expressões faciais”, explicou.

Além disso, segundo ela, também temos os neurônios espelho, que se ativam quando observamos uma ação de outra pessoa e criam uma atividade neural semelhante em nosso cérebro, como se nós estivéssemos fazendo aquela ação. “Por exemplo, quando alguém chora perto de nós, automaticamente nosso rosto muda de expressão, ou quando alguém sorri, nós sorrimos de volta”, detalhou.

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A formação de grupos semelhantes

A partir dos reconhecimentos que fazemos dos outros, o nosso cérebro tende a se agrupar com aqueles que pensam e reagem ao mundo de forma parecida com a nossa. Afinal, isso gera interações mais agradáveis e, consequentemente, amizades. 

“O problema começa no limite do nosso cérebro de formar grupos semelhantes. Não confiamos em todo mundo. Imagine nossos antepassados nas savanas, a cooperação era necessária para a sobrevivência, mas como saber – dentre todos os próximos, em quem confiar?”, explicou.

O pesquisador Frank McAndrew publicou um texto na Scientific American Mind explicando que neste período da história humana só seria bem-sucedido quem soubesse o que estava acontecendo com os indivíduos ao redor. 

O  interesse pela vida alheia

Para Livia Ciacci, a dinâmica social de hoje expõe publicamente, por redes sociais ou programas de TV, a vida de bilhões de pessoas, o que se torna um “parque de diversões” para nossos sistemas de reconhecimento emocional. “Mesmo que essas pessoas expostas sejam famosas e estejam distantes, ter acesso a tantas ‘informações’ íntimas sobre a vida delas engana o cérebro, que entende que elas são importantes e as julga como se estivessem próximas”, alertou.

BBB 23: será que isso me faz mal?

Ainda de acordo com Lívia, tudo em excesso faz  mal. “Se mergulhar na vida alheia e deixar de ser responsável pela própria vida é um grande desperdício de tempo!

Além disso, outro problema é não ter maturidade suficiente para controlar esses impulsos na vida profissional. “O ambiente de trabalho exige muito mais cuidado e atenção com as condutas, pois uma fofoca no momento errado pode prejudicar seriamente as pessoas envolvidas”, alertou.

Por que precisamos saber de tudo?

A teoria do Fear of missing out (FOMO) ou – em tradução livre, medo de perder algo, ajuda a entender essa necessidade de acompanhar ou saber de tudo que desenvolvemos com o avanço da tecnologia. FOMO é o estado mental em que o indivíduo fica ansioso e com medo de não conseguir acompanhar as atualizações. Por isso, ela se mantém conectada o tempo todo às redes sociais e a internet.

Como as fofocas por si só atraem a atenção, o fato delas estarem compiladas em um aparelho que fica quase 24 horas na nossa mão é extremamente tentador. “O estudo publicado em 2021 por Giulia Fioravanti e colaboradores na revista “Computadores no Comportamento Humano” mostrou que o estado de ‘FOMO’ foi positivamente correlacionado com depressão, ansiedade e neuroticismo (níveis altos de sofrimento subjetivo) e negativamente correlacionado com os níveis de consciência. Ou seja, quanto mais consciência da própria vida, propósitos e autoconhecimento, menos ansiedade por ficar acompanhando notificações ou postagens”, detalhou.

Está viciado em BBB? Veja dicas para acompanhar menos:

Se você acha que o BBB está atrapalhando a sua rotina, por estar assisstindo demais, mude o foco de atenção. Dessa maneira, essas ações podem ser cultivadas por meio de:

  • Leituras que auxiliam no autoconhecimento – sempre em livros de papel! 
  • Criação de conexões reais com pessoas do seu convívio, por que não chamar aquele colega para um café?
  • Reduzir o tempo de uso das mídias sociais, tendo em mente que as publicações refletem apenas um pequeno recorte da realidade alheia e que não vale a pena se comparar.
  •  Inserir na rotina atividades ao ar livre, vale uma caminhada ou brincar com o pet.

Fonte: Livia Ciacci, neurocientista do SUPERA – Ginástica para o Cérebro

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