Toxina de aranha amazônica pode ajudar a desenvolver medicamentos
A saída para o desenvolvimento de novos medicamentos e inseticidas biológicos pode estar na floresta amazônica. Isso porque pesquisadores da Universidade Federal de São Paulo – Unifesp e do Instituto Butantan identificaram toxinas com potencial para uso medicinal na aranha amazônica, ou tecnicamente conhecidas como “tarântula Acanthoscurria juruenicola”.
Pela primeira vez, um estudo reúne informações sobre uma espécie nativa da Amazônia. Com o uso medicinal, as toxinas são úteis em potenciais agentes analgésicos e inseticidas biológicos.
Além disso, a aparência da tarântula impressiona. A espécie Acanthoscurria juruenicola, pertencente à família Theraphosidae, é composta por aranhas grandes com pernas longas, duas garras na ponta e o corpo revestido de cerdas.
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Detalhes sobre o estudo sobre a aranha amazônica
Os pesquisadores encontraram 92 proteínas na toxina das aranhas amazônicas, sendo que 14 delas contém peptídeos ricos em cisteína. Isto é, um tipo de molécula muito comum em aracnídeos capaz de ajudar construção de tecidos, músculos, hormônios e enzimas no corpo humano. Assim, alguns desses peptídeos têm ainda efeitos em canais iônicos e atuam contra microrganismos.
O coordenador do estudo e professor da Escola Paulista de Medicina da Unifesp, Alexandre Tashima, aponta a importância da descoberta:
“Em 2023 completam-se cem anos da descrição dessa espécie e só agora conseguiu-se caracterizar o veneno. As aranhas costumam ter um volume muito pequeno de peçonha, então só as tecnologias mais recentes são capazes de fazer uma caracterização que dê conta da diversidade de toxinas produzidas por esses animais”, apontou o pesquisador.
Assim, essas toxinas encontradas nas aranhas podem ser utilizadas como agentes analgésicos, além de trazer novas perspectivas para o desenvolvimento de inseticidas biológicos, que são produtos naturais utilizados no controle de insetos e doenças agrícolas.
Dessa forma, o veneno tem o poder de causar paralisia nos insetos, tornando o veneno um coquetel eficaz para imobilizar as presas. Outros testes comprovaram que grilos submetidos ao mesmo veneno, em pequenas quantidades, ficaram imóveis por mais de 24h.
A ideia de transformar toxinas de aranha em inseticidas não é novidade. Na Austrália, devido a alta demanda de insetos nas lavouras, um inseticida biológico derivado do veneno de aranhas já chegou ao mercado utilizando a mesma metodologia.
Aranhas amazônicas: Fêmeas são mais venenosas
Os pesquisadores também analisaram que as aranhas fêmeas apresentam um veneno mais potente. Isso porque elas possuem peculiaridades ecológicas que fazem com que as aranhas tenham toxinas diferentes. Assim, o estudo aponta ainda que alguns tipos de aracnídeos tenham presas que demandem um veneno mais potente.
Por fim, os resultados da pesquisa foram publicados no periódico Journal of Proteome Research, contribuindo para a disponibilização de informações sobre o tema e fortalecendo as pesquisas futuras.
Referência: Journal of Proteome Research.