Alotriofagia: o que é o distúrbio de comer coisas não comestíveis?
Recentemente, o vídeo de uma gestante viralizou após um pedido específico ao marido: comer sabão com esponja de lavar louça. O marido a filmou realizando o desejo e teve milhões de visualizações no TikTok e no Instagram. A vontade de comer itens não comestíveis tem diversos nomes: alotriofagia, picamalácia e síndrome de pica são os principais. Afinal, por que algumas pessoas têm esse distúrbio? A seguir, saiba os possíveis motivos e o que fazer.
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Causas da alotriofagia ou picamalácia
De acordo com o psiquiatra Eduardo Perin, a condição possui algumas razões. “Em geral, a alotriofagia pode ser decorrente da propensão genética do indivíduo, do ambiente e de transtornos mentais”, explica. Além disso, a incidência da alotriofagia pode ser maior em gestantes, pois é comum que a gravidez gere alterações hormonais e nutricionais.
Então, se a mulher tiver algum tipo de deficiência nutricional, especialmente de zinco e ferro, pode surgir o desejo por comer coisas diferentes. “Há quem consuma objetos como plástico, tijolo, gelo, giz, produtos de limpeza, entre outros”, comenta Perin. Veja outras causas e condições que podem engatilhar a alotriofagia:
- Transtorno do espectro autista.
- Transtorno obsessivo compulsivo (TOC).
- Esquizofrenia e depressão.
- Crianças pequenas que ainda não têm discernimento do que é alimento ou não.
- Anemia ou falta de nutrientes, sem necessariamente incluir a gravidez.
A alotriofagia pode ser perigosa?
Dependendo do que se consome, a condição pode ser nociva. Afinal, há indivíduos que ingerem produtos de limpeza, plástico e outros itens com ingredientes tóxicos ao organismo. Portanto, é importante investigar os motivos da picamalácia e tratar o comportamento o quanto antes.
Sintomas
A princípio, o único sinal da condição é comer coisas sem valor nutricional e que não são consideradas alimentos. No entanto, nem sempre a pessoa possui alotriofagia: o hábito precisa ser frequente para se enquadrar no diagnóstico. Se for um evento isolado que ocorreu mais por curiosidade do que por vontade, não significa que o indivíduo tem o distúrbio.
Diagnóstico
Segundo Eduardo Perin, o indivíduo deve buscar ajuda de psicólogos ou psiquiatras para estudar a natureza do transtorno. “Observamos os sintomas e a história clínica do paciente, se há sinais de algum distúrbio mental ou emocional”, afirma. Outro especialista que pode se envolver no acompanhamento é o nutricionista. Dessa forma, se houver algum tipo de deficiência nutricional, o profissional intervém com suplementação e readequação alimentar.
Tratamento da alotriofagia
Varia de acordo com a causa do problema. Portanto, se o hábito estiver relacionado à deficiência nutricional, deverá tratá-la com o auxílio de um nutricionista. Todavia, se a picamalácia tiver origem em transtornos mentais e emocionais, os cuidados deverão ser específicos para cada quadro. Por exemplo, um indivíduo com transtorno do espectro autista necessitará do suporte de psiquiatras e psicólogos. Nesses casos, a orientação é manter a pessoa longe dos itens que costuma ingerir, sobretudo se forem prejudiciais à saúde.
Fonte: Eduardo Perin, psiquiatra pela Universidade Federal de São Paulo (Unifesp); especialista em Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC) pelo Ambulatório de Ansiedade do Hospital das Clínicas da Universidade de São Paulo (USP).