Vício em medicamentos: entenda os riscos do mal do século

Saúde
29 de Março, 2023
Vício em medicamentos: entenda os riscos do mal do século

Tem sido cada vez mais comum encontrar jovens e adultos com doenças relacionadas à saúde mental. Entre as possíveis razões estão as mudanças no campo social, cultural, político, econômico e profissional. Além disso, fatores como pressão no trabalho, imediatismo e altos padrões de exigência podem contribuir para o desenvolvimento de vício em medicamentos para aliviar sofrimentos inerentes à condição humana, como preocupações, frustrações, angústias, entre outros. 

Nesse cenário, especialistas da área de saúde se atentam para que a dependência de medicamentos não se instale nos pacientes. Contudo, como muitas acabam se automedicando, seja por dificuldade no acesso aos serviços de saúde ou por alguma questão pessoal, elas acabam correndo o risco de ter um vício. Continue lendo e saiba mais. 

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Vício em medicamentos: entenda o mal do século

A Agência Nacional de Vigilância Sanitária – ANVISA, fez um levantamento da venda anual de analgésicos opioides, medicamentos como a oxicodona, codeína e fentanil para controle de dor oncológica e não-oncológica, que também produzem sensação de euforia e relaxamento e são altamente viciantes. Assim, só no primeiro semestre de 2021, 14,5 milhões de embalagens de analgésicos opióides no Brasil foram comercializados. Já em 2020, este número beirou 22 milhões

A farmacêutica Anelise Kojo explica que algumas substâncias ativam o sistema de recompensa do cérebro e esse estímulo faz com que ocorra uma perturbação na pessoa, aumentando a necessidade de ativação e diminuindo o prazer de outros estímulos, como por exemplo, comer. 

“O indivíduo fica dependente desse estímulo por não sentir mais prazer em outras coisas naturais do dia a dia e sua interrupção causa sintomas físicos de desconforto, ansiedade e até sintomas graves que podem levar à morte”, considera a especialista. 

Dessa forma, isso acontece porque esse sistema de recompensa é modulado pela dopamina, um neurotransmissor envolvido na dependência. Assim, quando ingeridos por um período prolongado, de maneira ininterrupta, normalmente superior a três meses, esses medicamentos podem causar o que se conhece por farmacodependência, explica o professor de farmácia José Artur da Silva Emim.

Principais medicamentos que causam vício 

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O vício em medicamentos se propaga no cérebro da pessoa uma ação semelhante à de outras substâncias, como bebidas, cigarros. Contudo, eles possuem uma capacidade viciante ainda maior. Assim, os analgésicos opióides são os que mais causam dependência porque agem no sistema de recompensa.

“São exemplos desse tipo de medicamento a codeína, a morfina e o tramadol que são prescritos para casos de dores fortes de um pós-cirúrgico ou de um grande trauma, por exemplo”, destaca a farmacêutica. 

Contudo, o professor José Artur também lembra de outros tipos de medicamentos que também atuam no sistema nervoso central (SNC) e que interferem no sistema de recompensa: os psicotrópicos. Esses interferem na capacidade de pensar, analisar, abstrair, julgar e agir (afetam humor e comportamento). 

“Porém, esses remédios possuem grande capacidade reforçadora, sendo, portanto, passíveis de autoadministração, ou seja, levam à dependência. Assim, entram nessa categoria os tranquilizantes, os ansiolíticos, os antidepressivos, além dos analgésicos opióides (compostos semelhantes à morfina), entre outros”, exemplifica. 

Perigos da dependência medicamentosa  

O consumo em excesso de medicamentos pode causar uma série de danos ao nosso organismo, inclusive gerar a chamada farmacodependência. Portanto, nesse sentido, a abstinência pode se tornar uma realidade, para além de efeitos nocivos como perda da memória, sonolência, irritação e dificuldade de concentração

“Como qualquer outro vício, faz a pessoa refém do desejo de usar repetidamente a substância e isso atrapalha a vida profissional, social e familiar. Assim, em casos extremos pode levar à morte por overdose”, completa Kojo. 

Portanto, a falta que o corpo sente do medicamento, nesse sentido, faz com que a pessoa perca o controle da quantidade ingerida ou injetada, algo que pode levá-la a óbito. 

“A abstinência é uma reação extremamente incapacitante, a qual, necessariamente, envolve a adoção de um tratamento terapêutico (medicamentoso ou não) para revertê-la. Assim, o viciado em medicamentos não consegue abandonar o vício sozinho. Trata-se de uma condição bastante sofrida que gera impactos negativos no viciado, em sua família e em seus amigos”, atenta o professor José. 

Tratamento do vício em medicamentos 

O vício em medicamentos exige tratamento especializado e adequado, é o que ressalta Anelise Kojo. “Precisa ser tratado como outros vícios, de forma multidisciplinar com equipe composta por médicos, psicólogos e outros profissionais especializados. Portanto, em alguns casos são utilizados outros medicamentos para tratar os sintomas de abstinência”, comenta. 

Para evitar dependência, Anelise salienta que é essencial usar apenas medicamentos prescritos por profissionais habilitados e conforme orientação farmacêutica. 

Por fim, Camilla Uzam, professora do curso de Farmácia da UNICID, orienta que não há medicamento isento de risco. Assim, mesmo que não seja necessária uma prescrição para o seu uso, é preciso evitar tomar remédios por conta própria. 

“A utilização sem o acompanhamento de um profissional qualificado, seja ele médico ou farmacêutico, pode causar sérios danos à saúde individual e, também, coletiva. Assim, um exemplo de impacto do uso indevido de medicamentos é o fenômeno crescente e preocupante da resistência aos antibióticos, que é motivo de muita preocupação em nível global, notadamente pela Organização Mundial da Saúde (OMS)”, pontua o Professor José Artur.

Fontes: Anelise Liduvino Faria Kojo, farmacêutica e professora e coordenadora do curso da Farmácia do Centro Universitário Módulo; José Artur da Silva Emim, coordenador e docente do curso de Farmácia da Universidade Cidade de São Paulo (UNICID); Camilla Uzam, professora do curso de Farmácia da UNICID.

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