Pressão estética: como as imagens afetam a saúde mental?

Bem-estar Equilíbrio
24 de Agosto, 2022
Lívia Barbosa Alves de Souza
Revisado por
Psicóloga • CRP 01/22261
Pressão estética: como as imagens afetam a saúde mental?

Parlamentares britânicos da Comissão de Saúde e Assistência Social do legislativo criaram uma proposta para que fotos de modelos em anúncios venham com um aviso caso sejam submetidas a algum tipo de modificação digital. De acordo com a psicóloga Rejane Sbrissa, a medida pode ser uma boa estratégia para diminuir os impactos causados pela pressão estética, sobretudo, em mulheres jovens.

O Brasil é o segundo país que mais realiza cirurgias plásticas no mundo. O procedimento mais procurado é a lipoaspiração, que tem o intuito de retirar o excesso de gordura de uma determinada região do corpo. Além disso, no início de 2021, registrou-se um aumento de cerca de 50% na busca pelas cirurgias plásticas. No mesmo ano, o Índice FinanZero de Empréstimos (IFE) mostrou uma crescente procura por empréstimos destinados a tratamento estéticos.

Nem todos os casos de cirurgias têm fins estéticos, mas grande parte deles têm como motivação alguma insatisfação da autoimagem. Essa condição surge, muitas vezes, de uma comparação injusta com imagens veiculadas por publicidade ou em perfis nas redes sociais.

“Isso faz com que as mulheres se sintam insatisfeitas fisicamente e emocionalmente. Além disso, elas não se sentem dentro do padrão esperado e muitas vezes buscam este ideal a qualquer custo. Esse comportamento traz prejuízos afetivos, emocionais, sociais e profissionais”, comenta a psicóloga.

Assim, a profissional diz que a proposta dos parlamentares pode ser válida no sentido de aproximar a mulher da realidade e, de certa forma, reduzir as chances de uma comparação equivocada com uma perfeição irreal.

Quais são os efeitos das imagens na saúde mental?

Imagens de anúncios ou compartilhadas nas redes sociais costumam seguir um mesmo protocolo: sorriso no rosto, pele perfeita e um corpo escultural. Mas o problema não consiste em utilizar efeitos ou fazer alterações pontuais nos registros. Na verdade, a forma com a qual as pessoas interpretam esse fragmento da realidade é o que faz toda a diferença.

“A internet deixou de ser somente um meio de comunicação e passou a modificar comportamentos e influenciar estilos de vida e relações sociais”, ressalta Rejane. Segundo ela, é preciso cada vez mais desenvolver esse senso de desconfiança frente às postagens. Afinal, as publicações passam por um filtro ou uma seleção antes de irem ao ar. Dessa forma, não é plausível acreditar que o conjunto de publicações que representam um certo tipo de beleza e felicidade significam uma vida impecável.

“É apenas um momento de felicidade, um instante na vida de alguém e que, muitas vezes, não podemos saber se foi, de fato, real. Sem contar que vivenciar tristezas, sofrimento e dor faz parte de uma vida plena”, diz.

A psicóloga explica que um dos efeitos dessa pressão estética causada pelas imagens é justamente a busca pela aceitação por meio da construção de uma imagem ficcionada. Ela comenta, inclusive, que algumas pessoas passam a se isolar das relações reais, uma vez que não se sentem pertencentes, mas investem em relacionamentos em que não há o contato físico, como no mundo virtual.

“Esses mecanismos midiáticos podem agravar o aparecimento de distúrbios de personalidade e sensação de vazio existencial”, afirma. Além disso, as faltas de autoestima, autoconfiança e insatisfação com a própria vida pode trazer uma série de outros problemas físicos e psicológicos.

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Consequências da pressão estética

Além de desenvolver a crença de insuficiência tanto nas relações pessoais quanto no trabalho, essa queda da autoestima e autoaceitação abre caminho para o surgimento de questões ainda mais sérias.

“Esses sentimentos funcionam como gatilhos para depressão, estresse crônico, crises de ansiedade, excesso de negatividade e transtornos alimentares, uma vez que essas pessoas vivem atrás de um ideal não alcançável”, relata.

Tais quadros influenciam ainda em outros prejuízos para a saúde, incluindo aspectos físicos. A psicóloga explica que essas doenças do corpo e da mente afetam o sono de qualidade, além de causarem uma queda no sistema imunológico, aumentando as chances de infecções. No entanto, esses efeitos podem acontecer, mas não são certos pela simples exposição às imagens.

“A depressão, a tristeza profunda, as crises de ansiedade e o estresse crônico também trazem problemas fisiológicos associados, como hipertensão e problemas cardíacos em geral”, destaca.

Como lidar

Construir um novo olhar em relação às imagens veiculadas nas redes sociais é um processo fundamental para evitar um impacto maior na saúde mental. Em alguns casos, o acompanhamento psicológico é importante para que a pessoa consiga reconstruir a autoestima e criar uma relação melhor com as mídias.

“O paciente vai reaprender a se valorizar, entender quem ele é no mundo e qual o seu valor”, defende a psicóloga.

Fonte: Rejane Sbrissa, psicóloga cognitiva especialista em transtornos alimentares.

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