Panchakarma: conheça o tratamento ayurvédico que “desintoxica” o corpo
Na Ayurveda, medicina tradicional indiana, existem tratados e recomendações com o objetivo de cuidar integralmente do ser humano. Logo, a principal premissa é criar uma rotina com hábitos que alimentam nosso bem-estar e nos afastam de doenças. Dessa forma, é possível garantir um corpo, mente e espírito em harmonia. Dentre os inúmeros cuidados, se destaca o panchakarma, útil como parte de tratamentos médicos, mas que também auxilia a “resetar” o organismo.
A seguir, entenda como funciona o procedimento, em quais casos ele pode ser efetivo e mais.
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O que é o Panchakarma?
“Traduzindo o termo para o português, significa ‘cinco ações’. Então, o Panchakarma é um tratamento com cinco etapas que busca eliminar toxinas e outros agentes que atrapalham o curso da saúde plena”, explica a terapeuta ayurvédica Alice Lignaudi.
Basicamente, é um programa que envolve massagens terapêuticas, porém vigorosas, aplicações de óleos específicos, banhos e alimentação preparada sob os preceitos da Ayurveda — e muitas outras atividades desafiadoras que você verá mais à frente.
Então, antes de considerar o tratamento, é essencial fazer uma avaliação que analisa seu estilo de vida, características físicas, alimentação, sono, queixas, histórico de saúde, entre outros.
Essa observação minuciosa será essencial para descobrir seu dosha. Ou seja, o elemento predominante no organismo que ajuda a definir o perfil biológico. Em outras palavras, a Ayurveda crê que nosso corpo detém cinco forças da natureza: ar, fogo, terra, água e éter (ou espaço).
Cada dosha apresenta dois desses elementos, e a combinação determina características físicas e até comportamentais de um indivíduo.
São eles: pitta, com fogo alto e pouca água; vatta, regido pelo ar; e kapha, abundante em terra e água. É a partir do dosha dominante de cada pessoa que o Panchakarma deve ser prescrito.
Para que serve o Panchakarma?
De acordo com Alice, a terapia beneficia todas as pessoas. Contudo, especialmente na Índia, o processo é um tratamento complementar contra doenças variadas. “No Oriente, não é uma prática tão conhecida. Mas quando falamos da Índia, que vive a medicina de forma diferente da nossa, o Panchakarma pode melhorar o bem-estar de pacientes oncológicos, com desordens alimentares e outras questões de saúde”, esclarece a especialista.
Por isso, o procedimento é visto como um tratamento sério pelos indianos — não é qualquer um que pode administrá-lo. No Ocidente, Alice comenta que a terapia tem mais foco para o bem-estar, para quem busca ganhar mais energia, leveza, paz e consciência corporal.
Nos Estados Unidos, por exemplo, o método atrai aqueles que desejam sentir a “desintoxicação” na prática. Inclusive, muitas celebridades são adeptas do ritual, como Jessica Alba, Katy Perry e Kourtney Kardashian.
Como funciona?
Para se submeter ao Panchakarma, é importante saber que você precisará de tempo. Na Índia, há programas que duram entre uma semana e até meses, se houver indicação medicinal. Portanto, precisa ter programação, investimento financeiro e disponibilidade.
“No entanto, para a realidade ocidental, que vê o Panchakarma como uma alternativa de purificação integral, há mais flexibilidade nesse sentido. Há centros que oferecem programas curtos, desde que a pessoa siga as recomendações”, fala Alice.
Isso porque as atividades dão uma boa “revirada” nos hábitos do indivíduo. A seguir, saiba o passo a passo delas.
As cinco etapas
O objetivo, como você já viu, é realizar uma limpeza profunda de cinco maneiras, que são: Virechan, Basti, Vaman, Nasya e Raktamokshana. Esses conceitos significam: medidas laxativas, enemas à base de ervas, terapias para indução de vômito, enxágue nasal e flebotomia.
Só pela proposta do programa, é possível perceber que o Panchakarma não é um simples tratamento de SPA — por mais que alguns locais ofereçam o serviço e sigam as tradições à risca. Na verdade, há muitos momentos desconfortáveis que exigem disciplina do paciente.
Em conjunto, essas ações ajudam a limpar o trato gastrointestinal, esôfago, trato respiratório e os vasos sanguíneos de substâncias prejudiciais.
Outro pilar é alimentação. “O cardápio é preparado conforme seu dosha, com temperos específicos e, às vezes, sem tempero algum. Grãos como arroz, lentilha, manteiga ghee e chás podem integrar o menu”, comenta Alice.
Nesse período de internação, você também receberá massagens variadas, a fim de estimular o metabolismo e a secreção das toxinas. Outros rituais podem participar da jornada, como o Ksheera Dhoomam, que consiste no consumo de um medicamento à base de plantas com leite quente de vaca. O vapor da infusão é direcionado através de um tubo para os locais afetados ou aplicado em todo o corpo.
“Na Ayurveda, ele é indicado para doenças reumatológicas, de pele e até do sistema nervoso. Por esse motivo, precisa de indicação médica do local”, diz a terapeuta ayurvédica.
Funciona?
Na avaliação de Alice, o Panchakarma é uma medida poderosa, que pode ser grande aliada da medicina ocidental. “No entanto, para ter acesso ao tratamento, você deve buscar um especialista em Ayurveda, que lhe direcionará para o processo. Então, ainda é um serviço pouco acessível para o brasileiro, embora valha a pena experimentar”, argumenta.
Para o que se propõe inicialmente — incrementar o bem-estar e beneficiar as funções do organismo — o Panchakarma proporciona efeitos positivos. Em contrapartida, não basta ter uma experiência pontual e voltar à rotina de antes.
“O grande segredo do Panchakarma é o impacto na vida do indivíduo depois do tratamento. Por isso que o programa instiga a mudança de hábitos, que vão desde a hora de dormir até o tipo de tempero que usamos na comida. Dependendo da indicação, a pessoa precisa realizar os cuidados uma vez ao ano, pelo menos”, finaliza Alice.