Obesidade em crianças e adolescentes: problema de saúde pública
Nas últimas décadas, temos visto um aumento dramático da obesidade em crianças e adolescentes — uma verdadeira epidemia pelo mundo, principalmente nos países ocidentais. Já são cerca de 40 milhões de crianças com menos de 5 anos e 340 milhões entre 5-19 anos.
Nosso país segue nessa curva, a cada 3 crianças, 1 apresenta excesso de peso. Mas, sua causa é multifatorial. Principalmente, devido ao fácil acesso e praticidade dos alimentos ultraprocessados. Juntamente com o aumento das jornadas de trabalho de pais e mães, diminuição das atividades físicas e crescimento no uso das telas.
Assim, neste cenário, teremos ainda, certamente, um impacto maior graças aos períodos de isolamento social durante a pandemia.
Como a obesidade em crianças e adolescentes afeta a saúde
O excesso de peso e obesidade em crianças e adolescentes aumentam os riscos de asma, diabetes tipo 2, doenças musculares, hipertensão, doenças cardiovasculares e infertilidade. O que mais assusta é que cerca de 2/3 das crianças com obesidade tornam-se adultas com a mesma condição. Então, nosso foco como pediatra e sociedade como um todo é priorizar a prevenção da obesidade e, não apenas seu tratamento.
Sabemos que a obesidade tem uma predisposição genética. Ou seja, filhos de pais com obesidade costumam ter chances maiores chances de serem portadores da enfermidade. Mas, cada vez mais a ciência mostra o efeito do meio ambiente em modular à essas caraterísticas em nossas crianças, sendo esse o nosso foco de prevenção.
Prevenção da obesidade em crianças a adolescentes
A prevenção já começa nos primeiros mil dias, ou seja, naquele período compreendido no momento a concepção até os primeiros 2 anos de vida das crianças. Assim, já temos que ter atenção às grávidas, sua alimentação, repouso e exercícios. Pois, sabemos que filhos de mães com obesidade durante o período gestacional, com mudanças bruscas de peso e bebês que estão nos extremos durante a gestação – ou seja, pequenos para a idade gestacional (PIG) ou grandes para idade gestacional (GIG) – têm maior tendência a obesidade no futuro.
Outra excelente forma de prevenção é o estímulo ao aleitamento materno, que tem o impacto na capacidade de modular uma microbiota intestina saudável no bebê. Já sabemos que os trilhões de micro-organismos que formam nossa microbiota são capazes de regular o armazenamento de gordura no corpo, a absorção de carboidratos e energia, influenciando no metabolismo da insulina e da glicose. Além disso, vários estudos já mostraram alterações na microbiota intestinal de pacientes com obesidade e diabetes.
Introdução alimentar
A introdução alimentar das crianças é o momento no qual precisamos rever todos os hábitos alimentares da família. Assim, a comida precisa ser baseada em alimentos de verdade, pratos coloridos e texturas, com toda a família reunida, sem televisão ou outras distrações.
As crianças não devem ser expostas a alimentos ultraprocessados ou açúcares por, no mínimo, os primeiros 2 anos de vida. Se possível, o mínimo possível ao longo da vida inteira.
Passando a fase do lactente e entrado na infância, além de manter os cuidados com a alimentação, temos que ter atenção às atividades físicas dos nossos filhos. Uma vez que existem orientações para a quantidade de horas adequada de atividade física por faixa etária. Isso foi bastante impactante na pandemia, principalmente quando falamos dos adolescentes.
Obesidade na adolescência
O crescimento da obesidade entre os adolescentes é ainda mais preocupante. Cada vez mais eles trocam os momentos de atividade física e ao ar livre pelo vido game e celular, onde costumam dar preferência para os snacks. O fato de comer em frente às telas leva a perda do mecanismo de regulação da saciedade. A obesidade nessa faixa etária vem acompanhada, muitas vezes, de distúrbios alimentares, baixa autoestima, depressão e absenteísmo escolar.
Por fim, temos que ter cada vez mais atenção aos hábitos de nossos filhos, procurando ajuda o mais rápido possível em casa de excesso de peso, para que eles se tornem adultos saudáveis, livres de doenças crônicas e com qualidade de vida. Nossa medicina precisa focar na prevenção e, não na reversão das doenças.