O “cheiro de fim de ano” existe?
O último mês do ano é repleto de nostalgia que remete a sentimentos como surpresa, novidade, amor, paz e recomeço. Ele marca a chegada de duas datas especiais: o Natal e Ano Novo. Para muitas pessoas, inclusive, além da sensação de bem-estar, é possível sentir o cheiro de fim de ano. Mas você sabe por que isso acontece?
Realmente existe cheiro de fim de ano?
Os aromas são moléculas percebidas por células especializadas localizadas no alto da cavidade nasal — os neurônios quimiorreceptores olfatórios. Temos cerca de 10 milhões deles.
Segundo Livia Ciacci, neurocientista do Supera — Ginástica para o cérebro, o córtex piriforme é responsável pela percepção consciente dos aromas, enquanto o córtex entorrinal os projeta para o hipocampo. Dessa forma, além da consolidação da memória olfativa, também ocorre a ligação com o sistema límbico — a área das emoções. “Podemos concluir que os cheiros têm conexão direta com o processamento das emoções e das memórias. Afinal, diferentemente dos outros sentidos, que passam primeiro pelo julgamento crítico, os odores chegam diretamente no sistema límbico — a área das emoções”, detalhou.
Portanto, a resposta pode ser sim: o “cheiro de fim de ano” pode existir para alguns! “Desde que a pessoa tenha associado a data a aromas específicos. Se alguém liga o cheiro de panetone ao fim do ano, todas as vezes que sentir esse aroma vai evocar as memórias desta data. Ou ocorre o contrário: quando o ano está acabando, o ambiente faz com que ela se recorde do cheiro”, lembrou.
É possível perceber esse fenômeno mais facilmente quando observamos as estratégias de marketing usadas por grandes varejistas como forma de atrair o consumidor por suas emoções. “O ‘cheiro de shopping’ é, na verdade, óleo essencial. Cafeterias espalham aromas de guloseimas, já decorações natalinas são perfumadas. Tudo nesta época contribui para nossas memórias olfativas, que vão se firmando com o passar dos anos”, detalhou a neurocientista.
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Natal pode despertar sentimentos ambíguos
“Para quem tem boas lembranças, o Natal ativa o sistema de recompensa do cérebro, trazendo prazer e reforçando o encontro como algo benéfico. O ato de conviver socialmente em si é necessário para nós, é um estímulo que mantém nossa mente saudável, independentemente de ser com familiares ou amigos”, lembrou.
Por outro lado, há quem não tenha boas lembranças dessa época do ano. “Isso acontece quando algumas pessoas experimentam um aumento do estresse e da ansiedade nessa época, geralmente motivada por uma série de fatores que alteram a rotina. Por exemplo, as pressões para comparecer a confraternizações, compras de presentes, a redução ou a alteração do ciclo do sono, mudanças na dieta e as altas temperaturas”, alertou. Sendo assim, nestes casos, a principal dica é buscar entender o que motiva esse sentimento, se é uma memória específica ou se é um misto de situações.
“A partir da autorreflexão, não devemos ter receio de respeitar nossos próprios limites. Perceba que os tipos de pensamentos mais comuns dessa época envolvem a sensação de obrigação: ‘Preciso comprar presentes’; ‘Preciso estar feliz’; ‘Tenho que fechar as metas’; ‘Tenho que fazer uma ceia’. Entender que você não é obrigado a cumprir coisas ou rituais que não fazem sentido para você, ou não trazem alegria e conforto, é o primeiro passo. Seja honesto consigo mesmo e se necessário, busque ajuda especializada”, concluiu.
Fonte: Livia Ciacci, neurocientista do Supera – Ginástica para o cérebro.