Novo Zika vírus pode ser ainda mais nocivo, alertam especialistas
Ontem (12) um grupo de pesquisadores do La Jolla Institute for Immunology (LJI), nos Estados Unidos, anunciou a descoberta de um novo Zika vírus, cuja mutação pode aumentar os riscos de infecção. “O mundo deve monitorar esse novo Zika vírus, pois a variante é mais poderosa e capaz de afetar a imunidade pré-existente ao micro-organismo”, sinaliza Sujan Shresta, um dos líderes da pesquisa.
Ou seja, a imunidade pré-existente a qual Shresta se refere é também chamada imunidade cruzada, adquirida por pessoas contaminadas pelo vírus da dengue, que é da mesma “família” do Zika. “Em áreas onde o Zika é prevalente, a maioria das pessoas já foi exposta ao vírus da dengue e tem anticorpos que reagem de forma cruzada”, explica Shresta.
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Por que essa mutação pode causar um surto global?
Embora seja uma pequena mutação, o organismo do Zika vírus é muito dinâmico, pois ele pode alterar seu genoma. Em outras palavras, qualquer mínima troca de aminoácido pode ser o motim para que o vírus aumente sua taxa de proliferação. Logo, há mais chances de contaminação com mais “soldados no exército” do vírus.
“Uma alta taxa de replicação em um mosquito ou hospedeiro humano pode infectar mais pessoas ou aumentar a capacidade de adoecer o hospedeiro — e causar um novo surto”, reforça Jose Angel Regla-Nava, autor principal do estudo.
Como foi feita análise do novo Zika vírus
A princípio, a equipe do LJI recriou ciclos de infecção entre células de mosquito e camundongos. Tal experimento deu o panorama de como o Zika vírus evolui na medida em que encontra mais hospedeiros. Dessa forma, os pesquisadores descobriram que é fácil para o Zika adquirir uma única alteração de aminoácido que permite que o vírus faça mais cópias de si mesmo.
Além disso, o teste mostrou esse aumento de cópias em células humanas, que despertou o alerta entre a equipe de pesquisadores. Por outro lado, a boa notícia é que o laboratório está tentando entender como a mutação ajuda o novo Zika vírus a se reproduzir mais rapidamente. Assim, será possível trabalhar em imunizantes melhorados e outros tratamentos.
Existe vacina para o Zika vírus?
Ainda não há imunizantes liberados para o uso em seres humanos. Mas no início de 2021 a farmacêutica Janssen realizou testes da vacina em um grupo de 100 participantes, e os resultados foram animadores. Com a novidade da mutação, é muito provável que a comunidade científica se debruce com mais atenção sobre o tema.
Riscos do Zika vírus para a saúde
Entre 2015 e 2016 o Brasil e países da América do Sul e Central sofreram uma crise de contaminação pelo Zika vírus, que é transmitido pelo mosquito Aedes Aegypti (o mesmo hospedeiro do vírus da dengue) ou por meio de relações sexuais. Normalmente, os sintomas são febre, indisposição, dor nas articulações, vermelhidão nos olhos e manchas dermatológicas. Embora não seja fatal para a maioria das pessoas, é perigoso para gestantes e seus bebês. Afinal, a infecção pelo vírus provoca malformações no feto, como a microcefalia, que causa danos cerebrais irreversíveis.
Referências: La Jolla Institute for Immunology (publicação original sobre a descoberta); e Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz).