Melatonina para dormir pode agravar inflamação intestinal, diz estudo

Bem-estar Sono
28 de Abril, 2023
Melatonina para dormir pode agravar inflamação intestinal, diz estudo

A melatonina, suplemento que auxilia a dormir melhor, foi objeto de um estudo brasileiro publicado na revista Microorganisms. Embora tenha se tornado popular, a melatonina pode piorar a inflamação intestinal de alguns indivíduos, de acordo com o artigo.

Atualmente, o “hormônio do sono” é facilmente encontrado em farmácias, sem a necessidade de prescrição médica. No entanto, as pessoas o consomem sem saber dos possíveis efeitos à saúde.

“O ‘x’ da questão é que todo mundo acha que é inócuo, que um hormônio como a melatonina não faz nada de mau, só melhora o sono, e o que estamos mostrando é que as pessoas têm de ficar atentas e alertas. Afinal, uma suplementação hormonal pode melhorar o sono, mas pode piorar outra coisa”, diz Cristina Ribeiro de Barros Cardoso, professora de imunologia e neuroimunoendocrinologia da FCFRP-USP.

Veja também: Paciente tem remissão total de câncer terminal e gera comoção

O contexto das doenças intestinais

O laboratório de Cardoso trabalha com enfermidades inflamatórias intestinais, entre elas doença de Crohn e retocolite ulcerativa. São condições imunomediadas, ou seja, dependentes de uma resposta imunológica descontrolada que acaba causando destruição no trato gastrointestinal e efeitos clínicos muito fortes.

Por exemplo, dores abdominais, diarreias constantes, sangramentos e muita fadiga. O tratamento depende da supressão ou inibição da imunidade. É preciso diminui-la para reduzir a inflamação excessiva que causa danos ao intestino.

Além de corticoides e imunossupressores, há tratamentos com imunobiológicos mais efetivos para casos moderados e graves. Contudo, são de altíssimo custo e, por isso mesmo, de acesso mais difícil para a população. Eles são fornecidos apenas em condições específicas pelo Sistema Único de Saúde (SUS) ou por convênios particulares via ações judiciais.

“O que nosso laboratório tem feito é entender melhor essas doenças e propor novos tratamentos, mais acessíveis”, explica Cardoso. Além disso, a pesquisadora ressalta que muitos pacientes não respondem adequadamente nem mesmo aos tratamentos mais modernos e caros. Nesses casos, são necessárias cirurgias para a remoção de partes do intestino.

Todavia, são procedimentos bastante invasivos para os pacientes, com consequências diretas na sua qualidade de vida. “Então temos buscado nos últimos anos novas opções terapêuticas, principalmente com base na modulação ou regulação de respostas imunológicas.”

Como a melatonina para dormir prejudica a microbiota intestinal?

Com anos de experiência na pesquisa de hormônios, a melatonina entrou no foco de investigação do grupo de Cardoso. “Veja, de forma nenhuma estou falando que a melatonina não tem efeitos benéficos. Pelo contrário, há poucos estudos ou relatos de efeitos colaterais adversos”, ressalva.

A melatonina pode atuar como antioxidante e melhorar diversas condições fisiológicas ou patológicas. “Começamos esse trabalho imaginando que teríamos um potencial tratamento para doença de Crohn e retocolite ulcerativa. Mas, para nossa surpresa, o que vimos foi exatamente o oposto.”

Após induzida a doença intestinal em camundongos, quando eles eram tratados com melatonina, ao invés de melhorar, pioravam. “Por esse trabalho com animais de laboratório – é importante ressaltar que não foi com pacientes humanos  – a inflamação intestinal piora, e piora muito.”

“A partir daí começamos a tentar entender os porquês da piora. E o que vimos é que se tirarmos a microbiota do contexto, se a gente fizer um tratamento de amplo espectro com antibióticos nesses camundongos, eliminando todas essas bactérias, a melatonina passa a ter um efeito positivo na doença.”

Ou seja, o efeito negativo da melatonina para dormir depende das bactérias do intestino e que igualmente relacionadas às doenças inflamatórias intestinais. Certas configurações da microbiota fazem com que o tratamento com melatonina aumente os parâmetros inflamatórios e leve o sistema imunológico por um caminho ainda mais desregulado. Como resultado, intensifica os danos ao trato gastrointestinal.

“Precisamos tomar muito cuidado com medicamentos, suplementações hormonais ou hormônios com capa de suplemento alimentar. Você vai na farmácia, compra um ‘suplemento alimentar’ achando que não é medicamento, que não vai alterar nada o seu corpo, quando na verdade não é bem isso”, adverte Cardoso. “É um hormônio e, assim como outros hormônios, existe uma regulação muito fina da interação entre esses hormônios e a imunidade.”

Regulamentação

Recentemente, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) atualizou as informações e regras sobre o uso de melatonina como suplemento alimentar. Entretanto, o controle não é o mesmo daquele realizado para medicamentos, mais rígido.

“É importante pontuar isso, porque a gente fala que tem que ficar atento, mas aí as pessoas talvez pensem ‘ah, mas eu vou ali na farmácia e compro livremente, a Anvisa autorizou’. Sim, mas autorizou sob o nome de suplemento alimentar. Portanto, o questionamento que nós estamos levantando com esse trabalho agora é: será que é mesmo só um suplemento alimentar? Será que realmente não tem riscos?”, questiona.

Fonte: Agência FAPESP.

 

Sobre o autor

Redação
Todos os textos assinados pela nossa equipe editorial, nutricional e de profissionais de Educação Física.

Leia também:

mulher praticando atividade física ao ar livre e suando
Bem-estar Movimento

Suar emagrece? Entenda se a transpiração ajuda a perder calorias

Suar demais realmente significa que você está perdendo peso? Descubra

foto mostra uma xícara de chá vazia com paus de canela ao lado em cima de um prato
Alimentação Bem-estar

É termogênico e ajuda no equilíbrio da glicemia e do colesterol; veja benefícios do chá de canela

A bebida é uma ótima opção para esquentar o corpo — muitos afirmam, ainda, que ela emagrece

farinha de beterraba
Alimentação Bem-estar

Farinha de beterraba: benefícios e como incluir na dieta

Pode prevenir doenças cardiovasculares, melhorar o aporte de fibras e ainda ajudar a aumentar a performance esportiva