Malformação arteriovenosa (MAV): causa, sintomas e tratamento
Estudos mais recentes mostram que, em média, 10 a cada 100 mil pessoas no mundo apresentam uma malformação arteriovenosa (MAV) cerebral. Afinal, que condição é essa e por que ela pode ser fatal?
Veja também: Alterações nos olhos podem indicar aneurisma; saiba mais
O que é a malformação arteriovenosa?
Conhecida por ser uma alteração do sistema vascular extremamente difícil de tratar, a MAV se caracteriza por um enovelado de artérias e veias, malformados e de diferentes tamanhos em formato de bola de lã. Geralmente, se apresentam entre os 20 e os 40 anos.
Como resultado, gera a comunicação direta e anormal entre uma veia e uma artéria, que prejudica o fluxo sanguíneo e a circulação de oxigênio pelo tecido cerebral. Em condições normais, as artérias transportam o sangue com oxigênio do coração para o cérebro e as veias levam o sangue sem oxigênio para os pulmões.
“Com a malformação arteriovenosa, esse sistema é interrompido, o que pode causar o roubo de fluxo sanguíneo em torno dos tecidos adjacentes. Ao deixar essas áreas do cérebro desnutridas, elas atrofiam e começam a perder a função. Isso pode ocasionar também o rompimento dos vasos, com posterior sangramento (hemorragia) ou dano cerebral”, explica o neurocirurgião Feres Chaddad.
Quando existe a suspeita, o diagnóstico da MAV se dá por tomografias, ressonâncias magnéticas e angiografias digitais. Este último é o mais importante, por ser um exame dinâmico da circulação cerebral, muito útil para definir o tratamento e o planejamento cirúrgico.
Sintomas e diagnóstico da MAV
A MAV pode se apresentar como um achado em exames de rotina e ou controle. Mas, quando causa sintomas, a pessoa pode ter cefaleia, tontura, perda da visão, convulsões, déficit cognitivo (falta de atenção, problemas de memória, dificuldade nos estudos ou trabalho), déficits motores, com ou sem alteração sensitiva.
Além disso, a MAV pode ser identificada após o óbito, no caso de um grande sangramento. Felizmente, uma vez diagnosticada e acompanhada por um especialista, o tratamento pode ser um sucesso.
Para a paciente Gisele Calegari, de 35 anos, foi uma dor de cabeça intensa, seguida de crise convulsiva, que despertou o alerta para a MAV. Ela conta que a descoberta da condição começou ao acordar extremamente indisposta, com sintomas que nunca havia manifestado antes.
“Fui imediatamente ao hospital, onde fiz diversos exames até receber o meu diagnóstico para MAV. Passei por vários médicos, que não concordaram com nenhum tipo de tratamento ou intervenção. Afinal, minha malformação estava em uma área muito nobre que, segundo eles, poderia me causar sequelas”, relata Gisele.
Tratamento
Ao ter opiniões negativas sobre seu caso, Gisele decidiu consultar o dr. Feres Chaddad, que indicou o tratamento da MAV cirurgicamente. Para retirada da extensa malformação arteriovenosa, ela realizou uma craniotomia frontoparietal direita e ressecção microcirúrgica sob monitorização eletrofisiológica. Tal procedimento foi uma escolha para aumentar a segurança e evitar sequelas irreversíveis.
A maior preocupação desta doença é que, enquanto ela não é tratada, sempre haverá o risco de ocorrer um sangramento espontâneo, que pode levar a comprometimentos neurológicos graves e até ao óbito.
Em contrapartida, “a MAV tem cura quando retirada de forma completa, o que promove a restituição da circulação sanguínea normal ao resto do cérebro. Uma vez que um tratamento é iniciado, deve sempre ser finalizado, e sempre ser realizado com o intuito de cura da malformação”, afirma o especialista.
MAV e AVC
Débora de Carvalho, de 39 anos, recebeu seu diagnóstico de MAV enquanto estava grávida. Ela apresentou um quadro persistente de enjoo e dor de cabeça súbita em um ponto específico da cabeça, que evoluiu e foi diagnosticado como acidente vascular cerebral (AVC).
Ela procurou o serviço de pronto atendimento, onde realizou drenagem de hematoma e descompressão cerebral de urgência. Infelizmente, ficou com o movimento do lado esquerdo debilitado, além de perder a visão periférica esquerda.
“Mesmo grávida e com muitos riscos, conseguimos fazer o parto pelo acompanhamento com o obstetra e com o Dr. Feres. Após algumas semanas, iniciamos o tratamento com uma embolização prévia pré-operatória, seguido da microcirurgia para a retirada da MAV”, conta Débora.
Após a recuperação da cirurgia, Débora passou também pela restauração do crânio (cranioplastia), colocando uma prótese no formato da calota craniana, retirada na cirurgia da descompressão cerebral. Atualmente, evolui bem com uma recuperação motora total e parcial do campo visual — uma questão neurológica que demora um pouco mais para voltar.
“O tipo de tratamento depende das características próprias da MAV e do paciente. Os procedimentos podem ser: radiocirurgia (com radiação dirigida, predileta em lesões muito pequenas em localizações de difícil acesso); embolização (injeção de substâncias por dentro dos vasos a fim de ocluir os vasos que alimentam a MAV); microcirurgia (isolada ou com prévia embolização da MAV) ou tratamento expectante, quando não existe outra opção terapêutica devido ao alto risco de complicações”, finaliza Chaddad.
Fonte: Feres Chaddad, professor e chefe da disciplina de Neurocirurgia da UNIFESP; chefe da Neurocirurgia da BP – A Beneficência Portuguesa de São Paulo.