Insônia na gravidez: Principais causas e o que fazer
Um dos principais sintomas de gravidez no primeiro trimestre é a sonolência ao longo do dia, provocada pelo aumento dos níveis de progesterona. Mas, o desequilíbrio desse mesmo hormônio no organismo, aliado ainda a outros fatores, pode também acabar levando a outro sinal bastante comum nessa fase: a insônia na gravidez.
De acordo com Luiz Fernando Petrucce, coordenador da obstetrícia e ginecologia do Hospital Anchieta de Brasília, isso acontece, inclusive, por conta da própria ansiedade gerada pela gestação. Ou seja, pode trazer incertezas, medos e inseguranças, bem como pelas mudanças que produz no corpo feminino. “Por exemplo, a mulher já não consegue dormir na posição que estava acostumada, ela sente falta de ar, fica com a barriga para cima. Então, há uma mudança significativa na rotina do sono. Tem ainda que acordar várias vezes à noite para fazer xixi. Tudo isso dificulta que ela pegue no sono mais profundo novamente”, explica.
Elis Nogueira, ginecologista e obstetra, membro da Sociedade de Obstetrícia e Ginecologia do Estado de São Paulo (SOGESP) e do corpo clínico dos hospitais Albert Einstein e ProMatre, conta que, a partir da 23ª semana de gestação os principais causadores da interrupção do sono noturno e da insônia estão intimamente relacionados aos desconfortos do final da gravidez. Por exemplo, dores nas costas, movimentos fetais, sensibilidade mamária, refluxo gastroesofágico, compressão do diafragma e cãibras nas pernas. “Os fatores emocionais, incluindo o estresse e a depressão, também podem ser responsáveis pela incidência da insônia ao longo da gestação.”
Complicações associadas à insônia na gravidez
Segundo um estudo da Universidade de Granada (Espanha), 44% das grávidas apresentam dificuldade para dormir no primeiro trimestre, o que aumenta para 46% no segundo e 64% no terceiro. Além do incômodo natural que a insônia na gravidez desencadeia, o problema pode ser ruim para o organismo. Uma vez que muitos hormônios necessários para promover um metabolismo adequado dependem do sono de qualidade. “Então, quando a mulher tem insônia de forma crônica, ela fica mais suscetível à pressão alta, diabetes gestacional e ganho de peso excessivo. O que pode levar a outros agravos de saúde e prejudicar as atividades diárias”, alerta Luiz Fernando.
Apesar de não prejudicar o desenvolvimento do bebê, Elis avalia que essa condição resulta em fadiga e mudanças de humor, o que pode afetar negativamente o relacionamento com o parceiro e interferir no vínculo mãe-bebê. “Além disso, alguns estudos dizem que os distúrbios do sono no 3º trimestre estão associados à maior percepção da dor no parto, trabalho de parto mais longo e maior probabilidade de cesárea.”
Pacientes com insônia têm citocinas pró-inflamatórias elevadas, que também são observadas na depressão pós-parto. Assim, a condição pode ocasionar ainda outras complicações da gravidez, como aumentar o risco de pré-eclâmpsia e, com isso, as chances de um parto precoce. “A insônia não leva diretamente à prematuridade. Mas, indiretamente, devido ao aumento da pressão, do diabetes gestacional, pode também aumentar as taxas”, complementa Luiz Fernando.
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Como ter um sono mais tranquilo
Quando a gestante percebe que tem noites mal dormidas com frequência é importante conversar com o obstetra sobre o tema. Em alguns casos pode ser interessante buscar ajuda de um psicólogo, psiquiatra, neurologista e até um especialista em medicina do sono. Eles podem avaliar o quadro e identificar as causas da insônia.
Entre as dicas para conquistar um sono mais saudável e reparador, Luiz Fernando recomenda técnicas que promovem relaxamento, como massagem, meditação e yoga. Também é essencial destacar que a prática de atividade física, quando liberada pelo médico, colabora não apenas para um melhor descanso, mas também para aliviar dores. “A futura mamãe deve se hidratar constantemente, evitar ambientes muito barulhentos à noite. A exposição muito significativa a telas também é ruim. Mas, as pessoas ficam muito tempo mexendo no celular à noite, na hora que deita na cama, e essa luz confunde o cérebro e ele não entende ser hora de descansar.”
Como criar uma rotina de descanso
Por isso, vale criar uma rotina que facilite o repouso noturno: jantar mais cedo (bem como manter uma alimentação equilibrada), apagar as luzes da casa ou deixar apenas uma iluminação mais suave, criar um um ambiente mais silencioso e calmo, deitar sempre no mesmo horário. Elis sugere que, se não conseguir dormir, não force o sono. “Em vez disso, saia da cama, tome um banho quente e faça algo relaxante, como tricotar, ler um livro etc. Durma deitada sobre o lado esquerdo, com os joelhos e quadris dobrados, e com travesseiros entre os joelhos, sob o abdômen e atrás das costas para reduzir a pressão na região lombar.”
Além disso, evite cochilos durante o dia e procure não comer logo antes de ir para a cama. “Esse último ponto pode ser crucial, pois, muitas vezes, o organismo aumenta a glicose, e também por problemas de digestão, que podem dificultar o sono. Ainda recomendamos outras outras técnicas, como banho de água quente e banheira. Tudo isso pode ajudar bastante”, adiciona o médico Luiz Fernando. Por fim, é fundamental cuidar da saúde emocional, controlando os níveis de ansiedade e estresse, trabalhando medos e preocupações.