Quais são os impactos emocionais de uma traição?
A experiência de uma traição pode trazer uma série de efeitos nocivos para quem tem um relacionamento afetivo. Neste contexto, os impactos emocionais de uma traição podem ser desenvolvidos ou agravados. Veja o que especialistas no assunto definem como traição, bem como suas causas e consequências.
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Quais são os impactos emocionais de uma traição?
Segundo Bárbara Andrade, psicóloga, após uma traição, é comum surgirem sentimentos como raiva, tristeza e frustração. “A dor emocional apresenta forte relação com a quebra da confiança. Em casos extremos, sintomas de depressão e ansiedade também são observados”, completa.
Esse impacto negativo pode, inclusive, afetar futuros relacionamentos, já que há a dificuldade de confiar novamente em alguém. “A decepção é um dos maiores causadores de sofrimento em uma traição”, afirma Lala Fonseca, psicóloga. Em resumo, confira os principais impactos emocionais de uma traição:
- Raiva e mágoa pelo cônjuge que rompeu o compromisso acordado entre eles;
- Sentimento constante de desconfiança que, frequentemente, pode perdurar por outras relações futuras caso não haja terapia para resolução de conflitos;
- Sensação de baixa autoestima, insegurança e incapacidade;
- Sentimento de tristeza e depressão, principalmente quando há falta de esperança em relacionamentos no futuro;
- Problemas relacionados à ansiedade.
O que leva uma pessoa a trair?
Bárbara conta que a maioria de nós mantém uma postura hostil e distante ao abordarmos o tema infidelidade, bem como seus desdobramentos.
“É importante lembrar que o casamento, da maneira que conhecemos e apostamos, é uma instituição recente. Algumas causas são da ordem da falta de comunicação e resolução de conflitos entre o casal. O lugar de insatisfação emocional e sexual também aparece como justificativa ligada à infidelidade”, explica.
A especialista reforça, ainda, que relações monogâmicas necessitam de combinados específicos que sejam revisitados de tempos em tempos. “Ser responsável em uma relação afetiva íntima evita muita dor e angústia”, alerta.
Lala conta, ainda, que a traição pode resultar de uma relação que já não vai bem. “Ao invés de resolver a situação ou definir que quer uma separação (até por que esse ponto pode ser definitivo), a traição aparece como uma solução temporária para continuar um casamento que não vai bem. É como uma anestesia para algo que está desconfortável na vida.”
Afinal, quais sinais podem indicar uma traição?
Para Bárbara, apenas o fato de pensar em traição já indica que algo não vai bem.
“O limite entre problemas relacionais de confiança e evidências que apontam de fato para uma traição é uma linha tênue. É válido se atentar para mudanças no comportamento, desinteresse, no distanciamento afetivo e diminuição de diálogo entre o casal. Por vezes, a raiva e o estresse podem aparecer, além do ocultamento de informações básicas de rotina e vida. Para todos os efeitos, a prática nos mostra que uma conversa aberta continua sendo um caminho com mais possibilidades”, sugere.
Também é comum notar que o(a) parceiro(a) não sai do celular. Além disso, há uma diminuição no interesse sexual, mudanças em relação ao comportamento, agressividade, nova rotina que incluem compromissos que servem como desculpa para encontros, bem como um zelo excessivo pela própria aparência.
Há, ainda, uma sensação de solidão. O casal costuma perder o interesse pelo outro, o que diminui a comunicação. Planos sobre futuro e expectativas em relação à vida conjugal, por exemplo, são praticamente inexistentes.
Mas vale lembrar que nem sempre a pessoa que trai vai dar sinais até por que, não necessariamente ela sente-se com remorso ou culpa em relação ao ato.
É errado trair?
Embora muita gente justifique uma traição em um relacionamento como algo que não é errado, mas apenas uma “honestidade com os instintos”, é importante entender que traição é uma mentira, ou seja, o rompimento de um contrato.
“Se a outra pessoa precisa mentir para ir a um happy hour, ver amigos etc, é mais fácil trair, pois é apenas mais uma mentira. Ou seja, é uma questão de oportunidade associada à falta de culpa, já que a mentira torna-se o conjunto de sair”, afirma Lala.
Ainda segundo a especialista, a traição também pode ser uma forma de se sentir desejado. “O ser humano é como um animal. Portanto, instintivamente, desejamos outras pessoas. Porém, socialmente, nos inserimos em um universo monogâmico, então é errado trair, dependendo do relacionamento”, explica.
Traição é sinônimo de fim do relacionamento?
De acordo com ambas as psicólogas, não. No entanto, é preciso saber que haverá conflito se a pessoa que foi traída descobrir. Nesse caso, de acordo com Lala, a decepção pode ser o combustível para o traído deixar de amar.
Além disso, cada casal adotará estratégias específicas para lidar com essa experiência.
“Em alguns casos, há a decisão de reconstruir a relação e revistar aspectos que antes não podiam ser vistos. É preciso muita cautela na maneira precipitada em que costumamos julgar ou inferir explicações para relacionamentos dos quais não somos parte. Ao iniciar um processo de restabelecimento do vínculo, ambas as partes precisam assumir um novo compromisso”, afirma Bárbara.
Impactos emocionais de uma traição: como superar?
Muitos casais conseguem, com sucesso, superar uma traição. Além disso, no universo ideal, quem traiu deve refletir sobre os motivos que o levaram ao ato.
Porém, alerta Lala, muitas pessoas são capazes de separar amor e sexo. Por isso, deve-se ter claro o que significa traição e estabelecer combinados.
De qualquer modo, assim como tudo na vida, lidar com o impacto de uma traição exigirá investimento, coragem e busca por novos sentidos. Segundo Bárbara, o processo de elaborar uma traição é, muitas vezes, angustiante e mobilizador. Apesar de não existir receita mágica, existem aspectos a serem observados, incluindo:
- Repensar nossas posições de afeto;
- Reconhecer quem se é dentro e fora da relação;
- Buscar uma escuta especializada para lidar com os lutos comumente enfrentados diante de uma traição.
Além disso, se aproximar de uma rede de amigos e familiares disponíveis a ajudar também tem efeitos importantes. Por isso, sugere a especialista, se você deseja “seguir em frente”, não reprima e não tente antecipar este processo ou anestesiar a dor.
“Eu como alguém que trabalha com a escuta, lembro de uma frase que a escritora Bell Hooks diz: — ‘O silêncio nunca protegeu ninguém. Se você realmente se importa, você tem que falar.’ Não silenciar o que sente é o primeiro passo para ultrapassar as consequências de uma traição”, finaliza Bárbara.
Fontes:
- Bárbara Andrade, Psicóloga, pós-graduanda em Saúde Mental e Desenvolvimento Humano pela PUC-PARANÁ.
- Lala Fonseca, Psicóloga e mestranda em psicobiologia pela Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP).