Demência frontotemporal: entenda a condição de Kubrusly
A última edição do Fantástico trouxe uma revelação que comoveu o público. O jornalista Maurício Kubrusly, conhecido por seu carisma e por ser a cara do quadro “Me leva, Brasil” até 2017, está com demência frontotemporal (DFT).
O programa deu a notícia com uma homenagem ao apresentador de 77 anos, que atualmente vive no sul da Bahia desde que recebeu o diagnóstico. De acordo com a matéria, Kubrusly convive com a DFT há alguns anos e está com a memória comprometida, uma das principais características da doença.
Veja também: Novo medicamento pode reduzir avanço do Alzheimer
O que é a demência frontotemporal?
Tiago Sowny, neurologista do Hospital Edmundo Vasconcelos, explica que a demência frontotemporal é uma doença crônica neurodegenerativa. Assim como a doença de Alzheimer, a DFT é progressiva e crônico, podendo demorar de meses a anos.
“Ambas afetam a cognição do indivíduo. Ou seja, podem prejudicar memória, linguagem (com leitura, escrita e fala), adequação do comportamento social, auto-organização, funções executivas e em alguns casos a perda da capacidade de reconhecimento de faces e de objetos”, detalha o médico.
Qual a diferença entre a DFT e a doença de Alzheimer?
Embora pareçam a mesma condição, a demência frontotemporal é diferente do Alzheimer em relação à sua apresentação clínica e à sua fisiopatologia. De acordo com Sowny, é uma doença que pode se apresentar de várias forma.
Por exemplo, os sintomas podem ser mais comportamentais (variante comportamental da demência) ou mais relacionados à linguagem (afasia progressiva primária), com dificuldades para falar, escrever e compreender ordens simples ou complexas de outras pessoas.
“No início, ambas podem se apresentar de maneira parecida. O paciente pode ter alguma dificuldade cognitiva sem grande repercussão, pois a doença ainda não se desenvolveu para o diagnóstico mais preciso. Não é incomum que apenas durante o curso da patologia, de sua evolução clínica e da investigação laboratorial que fique discriminada qual o tipo de demência frontotemporal do paciente”, explica o especialista.
Sintomas da DFT
Os sintomas da demência frontotemporal são alteração do comportamento e de personalidade e, com o decorrer do tempo, podem surgir distúrbios cognitivos. Os sintomas comportamentais se iniciam com um quadro de desinibição, apatia ou falta de engajamento nas atividades diárias.
No entanto, pode evoluir para um comportamento impulsivo e antissocial, inclusive com episódios de agressividade. “É muito comum que o próprio paciente não tenha consciência da doença e dos sintomas que apresenta (anosognosia)”, destaca o médico.
A tendência é que, por ser uma doença degenerativa progressiva, os sintomas se agravem ao longo do tempo. Como resultado, a convivência e os cuidados ficam ainda mais complexos, o que afeta a vida dos familiares e dos cuidadores.
Os sintomas iniciais da doença são mais frequente entre os 50 e 60 anos, sendo que 10% dos casos se manifestam acima dos 70 anos. Sowny acrescenta que cerca de 40% dos pacientes diagnosticados têm antecedentes familiares, com alguns tipos de mutações genéticas.
Diagnóstico e tratamento
Segundo o especialista, o primeiro passo é realizar uma investigação ampla para descartar outras condições. Por exemplo, casos de neurosífilis, doenças hepáticas e metabólicas associadas à disfunção tireoidiana, depressão, transtorno bipolar e até mesmo o uso de drogas e medicações podem simular os sintomas.
“Após a exclusão desses quadros, o médico responsável poderá realizar um diagnóstico clínico com exames de imagem que podem mostrar alterações e atrofias nas regiões dos lobos frontal e temporal. Além da ressonância magnética, podem ser feitos o PET e o SPECT, que buscam avaliar não mais a anatomia ou estrutura do cérebro, mas principalmente o seu metabolismo e o seu funcionamento”, destaca o médico.
Para além disso, há trabalhos científicos e pesquisas que podem identificar a presença de proteínas que se relacionam com uma das variantes da demência frontotemporal. Por fim, ainda reforça que há algumas alterações genéticas familiares que podem favorecer a manifestação da doença.
“A descoberta também se baseia em uma avaliação neuropsicológica, feita por um profissional capaz de mapear os domínios cognitivos mais afetados. A avaliação de todos esses aspectos será determinante para se fazer um diagnóstico mais apurado. Infelizmente ainda não existe um tratamento específico, mas o grande objetivo de um diagnóstico precoce é o controle de sintomas que o paciente possa apresentar, além de descartar doenças potencialmente tratáveis”, finaliza.