Crianças e mundo digital: como dosar essa relação?
Nos dias atuais, a tecnologia vem ganhando cada vez mais força. Especialmente entre as crianças, que já nascem no mundo digital e crescem assistindo TV ou mexendo no celular.
Para você ter uma ideia, um estudo realizado pela companhia de tecnologia infantil SuperAwesome, nos Estados Unidos, apontou que as crianças de 6 a 12 anos passaram cerca de 50% de seus dias mexendo em telas durante a quarentena — período muito além do recomendado por especialistas e órgãos de saúde.
A Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) indica, por exemplo, que os pequenos de 2 a 5 anos tenham acesso a dispositivos eletrônicos por no máximo uma hora por dia, enquanto aqueles entre 6 e 10 anos, duas horas.
“De fato, identificamos muitos pacientes, especialmente crianças, que nunca tiveram nenhum tipo de transtorno e passaram a apresentar quadros ansiosos ou até depressivos durante a pandemia. Quem já convivia com algum transtorno teve uma piora significativa”, afirma Dra. Danielle H Admoni, psiquiatra da Infância e Adolescência na Escola Paulista de Medicina UNIFESP e especialista pela ABP (Associação Brasileira de Psiquiatria).
O resultado do isolamento social para as crianças
Apesar de o uso excessivo das telas ser visto como algo negativo e poder prejudicar a saúde mental, durante o isolamento social, ele acabou se tornando uma forma de distração.
“O cérebro humano foi desenhado para buscar estímulos constantes. No entanto, para a criança, isso tem um custo alto, pois quando essa superestimulação é tirada, o cérebro dela não descansa e segue pedindo mais”, explica a psiquiatra.
Ou seja, quando as crianças desligam as telas, elas se sentem “perdidas”. A dependência do mundo digital faz com que elas não encontrem outras atividades que proporcionem a mesma sensação dos eletrônicos.
A especialista explica, ainda, que o estresse e a ansiedade resultantes da pandemia fizeram com que muitas famílias esquecessem outras maneiras de estimular os filhos.
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Faça o “desmame das telas” com seus filhos:
De acordo com a psiquiatra, é necessário fazer o “desmame das telas”. Portanto, veja algumas dicas:
- Deixe a criança ter autonomia para brincar sozinha: permita que ela mesma busque a estimulação que seu cérebro precisa. Se notar dificuldade, invente uma atividade com ela. Aos poucos, vá deixando que ela brinque sozinha, evitando criar uma dependência da sua presença;
- Motive seu filho a brincar com algo que não tenha pilhas ou baterias: vale presentear a criança com um brinquedo novo. Se ela quiser escolher, incentive jogos de construção, massinha de modelar, pinturas, quebra-cabeça com o tema de algum personagem ou até brinquedos artesanais;
- Proponha desafios, como doar os brinquedos: peça para seu filho escolher algo que não lhe interesse mais e sugira doar para alguma criança ou para uma instituição. Só vale se seu filho participar deste ato. Isso porque será uma excelente oportunidade de ensiná-lo a exercer a solidariedade;
- Incentive a leitura: a leitura, que auxilia no desenvolvimento cognitivo, socioemocional e cultural, deve ser introduzida junto com os demais brinquedos como mais um objeto de prazer e de exploração do mundo;
- Demonstre interesse pelas atividades de seu filho: pergunte o que ele está fazendo, como está fazendo e se disponha a ajudá-lo no que for preciso. Além disso, elogie suas evoluções;
- Não esqueça de dar o exemplo: por fim, evite ao máximo usar o celular quando estiver com seu filho.
Fonte: Dra. Danielle H. Admoni, psiquiatra da Infância e Adolescência na Escola Paulista de Medicina UNIFESP e especialista pela ABP (Associação Brasileira de Psiquiatria).