Corrimento vaginal: quais os tipos e o que representam para a saúde?
Ao contrário do que muitas mulheres pensam, é normal ter secreção vaginal. No entanto, é comum confundir secreção natural do nosso corpo com corrimento vaginal. Características como cor, cheiro, textura e quantidade diferenciam o fluido saudável de um que sinaliza que algo não está bem. A seguir, saiba os tipos de corrimento e quando é necessário buscar ajuda médica.
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O que é o corrimento vaginal?
De acordo com Alexandre Pupo, ginecologista e obstetra do Hospital Sírio-Libanês e Albert Einstein, o corrimento vaginal é toda secreção que aparece quando temos algum tipo de infecção na região íntima. “Ela pode ser consequência de uma doença bacteriana ou fúngica. A mucosa vaginal se inflama e, por ser um tecido vivo, começa a liberar a secreção contendo plasma, soro do sangue, glóbulos de defesa e os agentes responsáveis pela infecção”, explica o médico. Como resultado, a mulher sofre com o desconforto do corrimento ao longo do dia, até que procure auxílio para tratar o problema.
Quais as causas do corrimento vaginal?
A maioria das infecções que têm o corrimento como sintoma são de origem fúngica ou bacteriana. Portanto, é possível ter corrimento vaginal em diversas situações, as quais se destacam:
Falta de higiene adequada: não só a limpeza da vagina, mas da calcinha, que precisa ser trocada diariamente uma ou mais vezes.
Uso de roupas úmidas: o contato com a umidade contribui para o surgimento de infecções, como a candidíase, que provoca corrimento. Portanto, permanecer com peças íntimas úmidas por muito tempo, não secar a vagina completamente depois do banho de piscina ou chuveiro são algumas oportunidades para infecções dessa natureza.
Relações sexuais sem proteção: o sexo sem camisinha e com troca frequente de parceiros traz um risco altíssimo para infecções variadas, incluindo as sexualmente transmissíveis. Dependendo da IST, o corrimento pode aparecer e causar incômodos. “Por exemplo, a clamídia é uma IST bacteriana que apresenta um corrimento vaginal branco e com pequenas bolhas, mais concentrado na região do colo do útero”, comenta Pupo.
Estresse e alterações hormonais: é sabido que o estado emocional pode influenciar diversos problemas de saúde. O desequilíbrio da flora vaginal é um deles, e pode ser mais frequente se a mulher possuir algum distúrbio hormonal, como o hipotireoidismo. Além disso, algumas fases da vida, como a menopausa e a gravidez, dão brechas para infecções íntimas.
Sintomas e tipos de corrimento
A princípio, o que acende o alerta na mulher quando há algum problema de saúde são os sintomas que acompanham o corrimento vaginal. Ter coceira, vermelhidão, dificuldade para fazer xixi, dor durante as relações sexuais e a presença da secreção anormal e contínua são sinais que não devem ser ignorados. Certamente eles indicam uma infecção, que requer avaliação médica para descobrir o tipo e a possível origem. No entanto, cada doença possui diferentes corrimentos vaginais, cada qual com uma cor, cheiro, textura e volume. Veja os principais e o que podem representar:
Corrimento branco e com aspecto de leite talhado: segundo Pupo, esse fluido é típico da candidíase, e tem a aparência de grumos, além de ser grudento.
Corrimento esverdeado: “está associado à infecção da Gardnerella vaginalis, naturalmente presente na flora vaginal. Contudo, quando há um desequilíbrio nessa flora, ocorre a proliferação desenfreada dessa bactéria, que gera um corrimento esverdeado. Em contato com a urina ou esperma, a secreção exala um odor de peixe podre bem forte”, explica Pupo.
Corrimento amarelado-esverdeado: mais frequente em casos de tricomoníase vaginal, cujo responsável é um protozoário chamado Trichomonas vaginalis. Como resultado, a infecção libera um corrimento amarelado-esverdeado com aparência purulenta e cheiro desagradável.
Diagnóstico e tratamento do corrimento vaginal
Antes de mais nada, está vetada a automedicação para tentar solucionar o problema. Quaisquer medicamentos sem prescrição médica podem piorar o quadro. Então, a melhor decisão é ir ao médico ginecologista. “No consultório, o profissional irá ouvir os sintomas, fazer uma avaliação física e ginecológica.
Em alguns casos, dá para identificar a causa no próprio consultório. Contudo, se for necessário, deverá ser feita uma análise da secreção vaginal em laboratório para descobrir o agente do problema”, explica Pupo. Por outro lado, o tratamento varia de acordo com o diagnóstico. Em geral, o médico prescreve medicamentos orais (antibióticos, se for o caso) e pomadas que ajudam a frear os sintomas e o ciclo da infecção.
Quando a secreção vaginal é saudável?
Se a mulher não possui nenhum desconforto — coceira, irritação, inchaço vaginal e o próprio corrimento com cheiro ou aparência suspeita — a secreção não indica perigos à saúde. “A vagina saudável é composta pela mucosa vaginal, um tecido vivo que precisa se manter úmido. Então, essa umidade é atribuída ao soro sanguíneo. Ao longo do dia, a secreção pode ficar mais esbranquiçada por causa dos leucócitos, que libera mancha branca na calcinha, mais ou menos do tamanho de uma moeda de 1 real. Quando seca, ganha a cor amarelo ouro, com aspecto de casquinha de cicatrização, o que é perfeitamente normal”, esclarece o ginecologista e obstetra.
A textura desse fluido é de clara de ovo, cuja intensidade da cor branca varia de acordo com a fase do ciclo menstrual. Por sua vez, o cheiro é imperceptível ou bem discreto. Outra curiosidade é que o ciclo menstrual impacta o volume de muco vaginal: na ovulação, por exemplo, o estrogênio pode estimular a produção de fluidos, pois o corpo entende que é a “hora certa” da reprodução.
Durante a gravidez, a mulher também pode sentir mudanças na secreção, especialmente nos primeiros meses, quando os hormônios se alteram bastante.
Dá para prevenir o corrimento vaginal?
Sim! Algumas práticas simples podem fazer a diferença. Por exemplo:
- Utilize preservativo nas relações sexuais.
- Evite usar protetores de calcinha e outros acessórios que abafam a região íntima.
- Não faça duchas íntimas ou aplique produtos sem a orientação médica.
- Faça visitas regulares ao ginecologista.
- Por fim, tenha uma rotina equilibrada com descanso, alimentação e atividade física para controlar o estresse.
Fonte: Alexandre Pupo, ginecologista e obstetra do Hospital Sírio-Libanês e Albert Einstein; referências: SBMFC e MSD Manuals.