Consumo de cigarro eletrônico equivale a fumar 20 cigarros diários
Exames de pessoas que usam cigarro eletrônico e passam por tratamento no InCor (Instituto do Coração do Hospital das Clínicas da FMUSP), detectaram níveis elevados de nicotina — o equivalente ao consumo de 20 cigarros tradicionais.
“Esses dados são alarmantes e revelam que a luta contra o tabagismo no Brasil enfrenta um inimigo de roupa nova, o cigarro eletrônico. Ele surgiu em um formato atrativo e com a falsa promessa de ser menos nocivo à saúde em comparação com o cigarro tradicional”, alerta Jaqueline Scholz, cardiologista diretora do Programa de Tratamento do Tabagismo do InCor.
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Como foi feito o estudo sobre o consumo de cigarro eletrônico
A análise foi feita com 21 usuários de cigarro eletrônico que procuraram o Programa de Tratamento do Tabagismo do InCor para abandonar o consumo desses produtos.
Os pacientes têm idades entre 13 e 49 anos, e 15 deles relataram que fumavam cigarro comum no passado, mas substituíram pelo cigarro eletrônico. Em todos os participantes, os valores de cotinina (substância identificada pelo exame de urina) foram de 600 ng/ml (nanograma por ml), que corresponde ao consumo de mais de 20 cigarros por dia.
O que é a cotinina?
A cotinina é um metabólito da nicotina. Ou seja, o principal produto gerado pelo organismo a cada tragada de cigarro. Contudo, ao entrar em contato com a corrente sanguínea, a nicotina alcança diversos órgãos, entre eles o fígado, onde é transformada em cotinina e pode permanecer no organismo por 17 horas.
A nicotina é uma substância altamente viciante. Afinal, também alcança o cérebro e causa um aumento na liberação de dopamina, neurotransmissor que promove sensações de prazer e tranquilidade. Esse efeito dura até 60 minutos e, quando termina, pode levar a sintomas de abstinência, irritabilidade e estresse.
“Com o cigarro eletrônico acontece um processo parecido. A diferença é que o vape é composto por sal de nicotina, que é ainda mais absorvido pelo organismo. Os níveis de cotinina que encontramos foram os mais elevados que o teste poderia identificar. Isso demonstra que a velocidade do vício com este produto é maior que do cigarro convencional”, ressalta Jaqueline Scholz.
Além disso, a alta exposição à nicotina causa efeitos cardiovasculares. Por exemplo, aumento da frequência cardíaca, pressão arterial e dano na parede dos vasos sanguíneos.
Outro problema apontado pela especialista é o número de usuários com menos de 18 anos. Em resumo, dos 21 analisados pelo estudo, quatro eram menores de idade e estavam acompanhados pela família durante o tratamento.
“É preocupante a exposição ao tabagismo e seus efeitos nocivos com tão pouca idade, em uma velocidade ainda maior. Fumar mais de 20 cigarros por dia ocorreria ao longo de anos de consumo do cigarro convencional, e o cigarro eletrônico acelera o vício e o comprometimento do organismo”, completa a cardiologista.