Como melhorar a memória? Neurologista cita importância do aprendizado
Na infância, fazemos uma série de coisas pela primeira vez. Erramos, acertamos, tentamos de novo e de novo. Agora, adultos, as responsabilidades preenchem a rotina. Não sobra tempo, nem vontade ou talvez falte coragem para começar algo novo. Mas aprender uma habilidade diferente não é só uma forma de sair da zona de conforto – é uma verdadeira ginástica para o cérebro. Para quem quer saber como melhorar a memória, envelhecer bem e evitar demências, não tem saída: o jeito é se abrir para o desconhecido.
A prática de exercícios físicos, por exemplo, é um hábito constante, pra vida toda. E assim como os músculos precisam de estímulos para se fortalecerem, o cérebro também.
“É muito importante sempre buscar coisas novas. Há estudos mostrando que pessoas aposentadas que não se envolvem em nenhuma atividade têm maior risco de desenvolver demência”, comenta Elisa Resende, médica neurologista e vice-coordenadora do Departamento Científico de Cognição da Academia Brasileira de Neurologia.
A beleza de ser um eterno aprendiz
Entre os benefícios de se manter em constante aprendizado, a médica neurologista destaca, sobretudo, a melhora da memória, da atenção e da linguagem. De acordo com ela, aprender algo novo ajuda a prevenir problemas cognitivos futuros como a própria demência.
Além disso, um estudo descobriu que desafiar o cérebro diminui os níveis de estresse (mais até do que realizar uma atividade relaxante) no ambiente de trabalho. Sem contar que há a liberação de neurotransmissores como a dopamina, conhecida por participar do sistema de recompensa, influenciando na sensação de bem-estar e prazer.
Outro benefício é a socialização. Durante o momento de aprendizado, costuma haver uma interação com outras pessoas, seja um tutor ou outros alunos. “Tal socialização ajuda a prevenir problemas mentais e cognitivos”, diz Elisa.
Também já sabe-se que durante a execução de uma atividade desafiadora para o cérebro, pode acontecer o chamado estado de flow, ou estado de fluxo. Trata-se de uma condição mental de concentração intensa, em que o indivíduo fica completamente imerso naquele momento – quase em um estado meditativo.
Como melhorar a memória aprendendo algo novo?
De forma geral, a melhora da memória acontece porque o aprendizado gera novas conexões cerebrais e otimiza os funcionamentos de algumas regiões do cérebro.
Durante a prática, há o aumento da quantidade ou da concentração de sinais químicos entre os neurônios e isso, a longo prazo, faz com que ocorra mudanças estruturais. Então, tudo isso leva a uma maior preservação da memória além da melhora de outras funções cerebrais.
“Há um remodelamento das áreas e o cérebro fica melhor utilizado”, resume a médica.
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Mas é difícil…
Realmente. À medida que envelhecemos, a dificuldade de aprender uma nova habilidade aumenta.
“Com o envelhecimento, há uma perda natural dos neurônios, que são as células que compõem o cérebro. Essa perda acaba tornando mais difícil o aprendizado, mas não impossível”, esclarece a médica.
Então, sim, é preciso exigir mais dedicação e paciência do seu ‘eu adulto’ para aprender uma nova habilidade – mas vale a pena.
Novos caminhos para melhorar a memória
Leia livros, faça palavras cruzadas, aprenda uma nova língua, comece a tocar um instrumento, faça trabalhos voluntários ou até volte a estudar. Essas são algumas sugestões da médica para seguir com a mente ativa – o que, ela garante, é o mais importante.
E, claro, sempre cuidar da saúde como um todo seguindo uma alimentação saudável, praticando exercícios físicos, evitando cigarros e abuso de álcool, tratando possíveis doenças e, por fim, dormindo bem.
Fonte: Elisa Resende, médica neurologista e vice-coordenadora do departamento científico de cognição da Academia Brasileira de Neurologia.