Alterações nos olhos podem indicar um aneurisma; saiba mais
Com o avanço da tecnologia, o diagnóstico incidental de aneurismas cerebrais está se tornando cada vez mais comum. O quadro requer atenção, sobretudo se há risco de rompimento. Os principais sintomas de um aneurisma rompido são dor de cabeça súbita e intensa, náuseas e vômitos e sonolência. Feres Chaddad, professor e chefe da disciplina de Neurocirurgia da UNIFESP, explica que, conforme a localização e o tamanho, os aneurismas não rompidos (não rotos) podem apresentar outros tipos de sintomas. Por exemplo, alterações nos olhos e na visão.
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Quais alterações nos olhos podem indicar um possível aneurisma?
De acordo com o especialista, dor retro-orbital (ou seja, ao redor dos olhos), diplopia (visão dupla), mudanças na acuidade visual (visão embaçada) e perda de campo visual precisam de atenção médica. Além disso, até síndromes metabólicas podem representar um aneurisma.
“Os aneurismas cerebrais ficam localizados nas cisternas cerebrais, que são espaços próximos a vários nervos. Entre eles: o nervo óptico (da visão), nervo oculomotor, nervo abducente e nervo troclear (todos envolvidos na movimentação do globo ocular). Por isso, dependendo da localização, do tamanho, da projeção e grau de contato da lesão vascular com os nervos da região, podemos encontrar manifestações clínicas por efeito de massa/compressão de aneurismas não rotos”, comenta Feres.
Quando procurar um neurologista?
Segundo o artigo “A Window to the Brain: Neuro-Ophthalmology for the Primary Care Practitioner”, sintomas visuais que incluem perda de visual monocular aguda, papiledema (inchaço no nervo óptico), déficits de campo visual, anisocoria (pupilas em diferentes tamanhos), limitações dos movimentos oculares e nistagmo (movimentos involuntários e repetitivos dos olhos), podem sinalizar muitas doenças neurológicas importantes. Por essa razão, a procura pelo especialista deve ser prioridade.
Outro estudo que reforça essa premissa é o artigo “Neuro-Ophthalmological Emergencies”. Conforme o texto, emergências neuro-oftalmológicas podem representar condições de risco para sequela ou fatalidade se o diagnóstico e o tratamento não forem rápidos.
“Por exemplo, doenças que afetam o seio cavernoso e o ápice orbital (região na qual estão contidas estruturas ósseas, vasculares e neurais) podem causar perda simultânea de visão e diplopia. Caso não tratadas, essas lesões podem estender-se ao parênquima cerebral, provocando sequelas neurológicas permanentes”, salienta Chaddad.
Alterações suspeitas nos olhos precisam de exames específicos
As alterações nos olhos ou na visão nem sempre são de causa oftalmológica (primária). Podem ser secundárias, surgindo de outros sistemas, como o neurológico.
Qualquer condição que envolve o nervo óptico e centros responsáveis pela movimentação ocular, pode levar a problemas visuais. Geralmente, o histórico do paciente ou o exame físico revelam pistas que direcionam ao diagnóstico.
“Após recebermos pacientes com queixa de cefaleia e/ou alterações visuais repentinas, um dos possíveis diagnósticos da causa neurológica é o aneurisma cerebral não roto. Toda vez que identificamos esta condição realizamos a estratificação do risco de ruptura para definir se há necessidade de tratamento imediato ou não. Dessa forma, não é incomum o colega oftalmologista nos encaminhar pacientes com alteração visual de causa neurológica”, explica Feres.
Para isso, o neurocirurgião conta que angioressonâncias, com estudo de parede, denominado “sequência black blood”, avaliam se há sinais de inflamação que sugerem um maior risco de ruptura. Além deste exame, a angiografia cerebral é um recurso para investigar a presença de outras lesões aneurismáticas.
Tratamento
“A escolha do tipo de intervenção vai de acordo com as características apresentadas pelo paciente (local, tamanho, projeção, grau de acometimento, etc). Temos opção de operar com clipagem aneurismática ou por meio da endovascularização com embolização (não disponível em todo lugar, principalmente na urgência)”, reforça Chaddad.
O tratamento de aneurismas cerebrais não rotos, ao contrário daqueles que sofreram ruptura, apresenta para o paciente mais segurança, menor risco de sequelas e complicações. Afinal, a cirurgia passa a ser eletiva e com um planejamento pré-operatório maior.
Portanto, não ignore alterações na visão, pois podem ser um sinal de algo mais silencioso. Busque ajuda especializada e previna-se.
Fonte: Feres Chaddad, Professor e Chefe da Disciplina de Neurocirurgia da UNIFESP, Chefe da Neurocirurgia da BP – A Beneficência Portuguesa de São Paulo.